A opinião de Sandra Alvarez (PHD): Aumentar valor, pela gestão da energia e não do tempo

Por Sandra Alvarez, directora-geral da PHD

Uma das perguntas que mais me fazem é: “Como consegues fazer tantas coisas num dia?” Gestão de tempo é um conceito cada vez mais banal, ainda mais quando é um dos bens mais preciosos que temos. Sabendo que é um recurso finito, uma das habilidades que podemos ter está relacionada com a forma como gastamos o nosso tempo, ou seja, como gerimos a nossa energia no dia. A energia do corpo, das emoções e da mente, pois, ao contrário do tempo, a energia não é finita e pode ser recarregada.

Os portugueses são conhecidos por trabalharem muitas horas, mas isso não quer dizer que sejam mais produtivos. Os estudos revelam que somos um dos países da Europa onde se trabalha mais horas por semana e um dos que apresentam menores índices de produtividade. E isto é preocupante, pois é sabido que as organizações da “velha guarda” continuam a privilegiar e a gratificar quem aparenta trabalhar mais.

Actualmente, o esperado por grande parte das organizações é que os colaboradores atinjam o máximo de resultados, o mais rápido possível, e que depois sigam em frente para o próximo objectivo. As pessoas acabam esgotadas, em vez de enriquecidas e isto é autodestrutivo. As organizações são forçadas a contentar-se com colaboradores que não estão motivados e a contratar e formar novas pessoas para substituir aqueles que optam por sair.

Apesar desta cultura organizacional ainda estar muito enraizada em Portugal e de ainda haver muitas organizações a privilegiar os workaholics, é sabido que a médio/longo prazo há fortes possibilidades de este comportamento induzir ao absentismo, a altas taxas de rotatividade, de distracção e menor motivação.

É por isso que se fala tanto no equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. É fundamental que as pessoas consigam recarregar a sua energia para melhor direccioná-la para o trabalho, ou, mais cedo ou mais tarde, a valorização das aparências acima dos resultados vai ter implicações na produtividade. O bem-estar, de um modo geral, é mesmo o caminho mais fácil para a produtividade. Pessoas mais felizes são mais produtivas e criativas. Se determinada pessoa não tem vida para além do trabalho, há fortes possibilidades de se tornar cada vez menos produtiva. Daí o direito a desligar, fomentado pelas empresas para que os colaboradores não se sintam culpados, seja um grande passo na gestão das pessoas.

Mais do que nunca, há que abrir espaço nas nossas vidas para termos uma alimentação saudável, praticar exercício físico, aprender a respirar bem, fazer pausas e ter boas práxis de sono. Nem sempre é uma tarefa fácil, é certo, mas quando estes hábitos se tornam parte do nosso dia-a-dia é muito mais simples mantermos níveis de energia saudáveis que são direccionados, tanto para os objectivos profissionais como para os pessoais.

Agora, imaginem um contrato entre as partes que beneficie o todo: as organizações investem nos colaboradores, em todas as dimensões das suas vidas, para ajudá-los a construir e manter o seu valor. Os indivíduos respondem aplicando toda a sua energia multidimensional no trabalho, todos os dias. Como resultado, ambos aumentam de valor. É tão simples quanto isto, não?

Artigo publicado na revista Marketeer n.º 306 de Janeiro de 2022

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