A Nossa Democracia precisa de Marketing!

No último estudo publicado por uma conhecida empresa de estudos de mercado, a confiança dos portugueses na classe política em geral e nos seus representantes em particular atingiu o nível mais baixo de sempre.

Nas últimas eleições europeias verificou-se que dois em cada três portugueses foram de opinião que não valia a pena irem votar. Na verdade estas eleições, de europeias, apenas tiveram o nome, já que se conseguiu falar de tudo menos da Europa. Também é verdade que se assistiu mais uma vez a uma sessão contínua de insultos e mais insultos, em vez de se ouvir propostas concretas, por parte dos partidos intervenientes, sobre temas da competência do Parlamento Europeu, mas que poderão ter reflexos concretos para Portugal e para os portugueses.

Acrescente-se que a participação dos não políticos profissionais na vida política em Portugal é insignificante, para não dizer inexistente, o que também não é justo para aqueles que ainda tentam fazer alguma coisa, mas são de imediato engolidos pelo espaço que os outros ocupam na comunicação social.

A ideia agora lançada, mas não original, de tornar obrigatória a participação dos portugueses nas eleições, só vem reforçar o facto de que se estar a impor o que deveria ser uma vontade férrea dos portugueses de poderem condicionar e influenciar o seu destino, votando no seu partido ou candidato.

Daí ser minha convicção que a nossa Democracia precisa de Marketing. Não chega ter a Democracia. Esta tem de ser participada, tem de ser incentivada e tem de ser melhorada.

Tal como o Marketing, no caso de produtos e serviços, visa criar necessidades e dar de imediato resposta às mesmas, aqui os cidadãos têm de acreditar que a sua participação vale a pena e que é a solução

Tal como noutros casos o Marketing visa apelar ao sentido de emoção dos consumidores, levando-os a pensar, a sentir e a afirmarem que este é o meu perfume, este é o meu automóvel, este é o meu banco, aqui deverão sentir que esta é a minha Democracia, ou o meu partido, ou o meu candidato, e que é neles que eu acredito.

Tal como geralmente o Marketing leva a que as pessoas consumam mais e invistam mais tempo e dinheiro com os produtos e serviços disponibilizados, também aqui as pessoas deveriam investir mais tempo com os temas que consubstanciam a nossa Democracia, a participar mais activamente na Democracia.

Obrigar os cidadãos a participar na Democracia é a mesma coisa que obrigar alguém a comprar um produto ou serviço no qual deixou de ter interesse. Ou porque apareceu um melhor, ou, e neste caso, porque as pessoas pensam que não vale a pena. Que é indiferente. Que, no fim, nada vai mudar.É esta a ideia que as pessoas têm hoje da Democracia, das instâncias democráticas e dos nossos políticos.

Já imaginaram o presidente de uma marca de automóveis em vez de promover e dar a conhecer as vantagens e factores únicos das suas viaturas, apenas focalizasse a sua atenção em dizer mal das outras marcas? Ou ainda, criticar, injuriar e insultar os presidentes ou administradores das outras marcas? Já pensaram que se a comunicação de um certo banco, em vez de promover o seu crédito, taxas de juros, ou outros, apenas comunicasse o que os outros fazem de mal? Ou que os responsáveis dos outros bancos são isto e aquilo?

E é por isso que temos de actuar desde já, para evitar e contrariar o descrédito e a desilusão.

Talvez tenham de aparecer novos actores, talvez tenhamos de mudar o discurso, talvez tenhamos de alterar a embalagem, talvez tenhamos de apelar a diferentes emoções, talvez tenhamos de mudar de estratégia para atingirmos os nossos objectivos.

Mas não é isso que fazemos, ou pelo menos pensamos, todos os dias nas nossas empresas? Não são estes os motes que nos guiam no dia-a-dia? Claro que é.

Oxalá haja na classe política, tal como tem de haver nas empresas, desejo e vontade de mudar pois, sem isso, não há modo de trilhar o caminho do Optimismo e da Esperança.

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