«A moda só é passageira se não a soubermos aproveitar»
O sector do turismo em Portugal está a crescer a olhos vistos, sustentando o crescimento de outros sectores de actividade. Para manter esta onda positiva é necessário não só conservar o apoio estatal na promoção da marca País, mas também fomentar a iniciativa privada e respeitar os valores, património e tradição nacionais. Em suma, cuidar em primeiro lugar do que é nosso e fazê-lo a pensar nos portugueses, porque só assim é possível garantir o crescimento a longo-prazo do sector. «A moda só é passageira se não a soubermos aproveitar. Não há nenhuma campanha mais forte do que o boca-a-boca», sintetizou o chef José Avillez na 6ª Conferência da Marketeer, que decorreu esta manhã no Museu do Oriente, em Lisboa.
Sob o mote “O melhor de Portugal” e com o objectivo de juntar representantes de quatro sectores relacionados com o turismo (fado, cultura, gastronomia e hotelaria), a segunda parte da Conferência ficou marcada por um debate em formato de mesa-redonda que contou com a participação de Carminho (fadista), José Avillez (chef), Nuno Vassalo e Silva (director-geral do Património) e Jorge Rebelo de Almeida (presidente do Conselho de Administração do Grupo Vila Galé).
Nuno Vassalo e Silva defende que o património português permite fazer pontes culturais com destinos mundiais que estiveram sob influência lusa no passado. Há pegadas portuguesas em destinos tão diversos como Goa, Macau ou Brasil e desta forma torna-se mais fácil despertar o interesse desses potenciais turistas pelos monumentos em Portugal.
O sector da hotelaria tem sido um dos principais beneficiários directos da maior afluência de turistas, mas segundo Jorge Rebelo de Almeida «um país, para se desenvolver em termos de turismo, tem de ter um desenvolvimento harmonioso em vários sectores». De acordo com o presidente do Conselho de Administração do Vila Galé, grupo que tem vindo a apostar na recuperação do património nacional, desde palácios a museus, «a valorização da oferta hoteleira passa pela valorização da identidade nacional».
Tendo despertado a atenção e o interesse de diversos públicos por todo o mundo, sobretudo depois de ter recebido o título de Património Imaterial da Humanidade, o fado assume-se hoje precisamente como um dos principais veículos da cultura e da tradição nacionais. Mas será que se pode falar numa nova vaga do fado nacional? «Não sinto que faço parte de uma geração de novos fadistas, porque sempre ouvi fado em toda a minha vida. Aprendi a cantar fado mesmo antes de aprender a falar», respondeu Carminho, acrescentando que sente na pele a «responsabilidade de representar o País». De acordo com a fadista, a promoção do fado no estrangeiro tem passado em larga medida pela iniciativa dos próprios artistas e respectivos managers.
No mesmo tom, José Avillez lembrou que a promoção das suas marcas, do sector gastronómico, tem sido «99,99% de iniciativa privada». De acordo com o chef, mais do que as iniciativas de promoção da gastronomia nacional que o Governo tem procurado realizar noutros mercados, com enfoque no Reino Unido, os restaurantes nacionais têm a ganhar ao receberem os visitantes estrangeiros com hospitalidade e ao oferecerem uma experiência distinta, que lhes dâ algo para recordar, uma estória para contar. «É melhor trazer as pessoas cá do que realizar almoços estatais lá fora», concluiu. «Quando há alguma coisa que surpreende pela positiva tendemos a falar dela a muito mais gente. São essas experiências que queremos deixar em quem nos visita.»
Texto de Daniel Almeida
Foto de Paulo Alexandrino