A melhor ganga do mundo é japonesa: a história das jeans da Levi’s que podem superar os 9 mil euros

O denim japonês conquistou o mundo, mas sua história começou de forma inusitada. No final da Segunda Guerra Mundial, os soldados americanos no Japão, sem dinheiro, começaram a vender as calças Levi’s 501 nos mercados de Tóquio e Osaka. Os jovens japoneses, fascinados pela cultura ocidental, adotaram a peça, sem imaginar que estavam a dar início a uma obsessão que transformaria o país no maior produtor de denim de alta qualidade do mundo.

Estávamos nos anos 1950 e 1960, época em que o Japão se reconstruía guerra, quando o denim – também denominado ganga – se tornou um símbolo de rebeldia juvenil. Mas os japoneses não se contentaram com produto de origem americana e foram mais além: desmontaram as peças, estudaram os tecidos e transformaram elevaram aquele produto.

Ao contrário dos Estados Unidos, que adotaram métodos industriais para reduzir custos, o Japão resgatou os antigos teares, como os lendários Toyoda G3, que, por serem mais lentos e precisos, permitiam a criação de um tecido mais denso e resistente. Assim deram origem ao icónico denim “selvedge”, um tipo de jeans de maior qualidade e mais difícil de produzir.

A cidade de Kojima, em Kurashiki, tornou-se rapidamente o coração da produção de jeans de luxo no Japão. Marcas pioneiras como Big John começaram por importar tecidos dos EUA, mas, pouco depois, passaram a produzir a sua própria ganga, estabelecendo um novo padrão de qualidade. Desta forma, o Japão não só preservou a tradição do jeans, como a elevou a um patamar artesanal único.

Além da técnica, a matéria-prima tornou-se igualmente essencial. Muitos produtores utilizam algodão do Zimbabué, uma das variedades mais nobres, conhecido por suas fibras longas e resistentes. Já a coloração é feita com o indigo natural “Japan Blue”, cultivado na região de Tokushima, o que resulta em tons únicos e um desgaste personalizado ao longo do tempo.

Com a evolução da indústria no Japão – em que as jeans passaram de artesanais a produto de luxo graças à obsessão japonesa pela perfeição – hoje, um produto denim “Made in Japan” é sinónimo de qualidade e exclusividade, tendo-se tornado um verdadeiro ícone da moda global.

Atualmente, umas calças de ganga japonesa podem custar entre 250 e 500 dólares (cerca de 231 e 460 euros), com edições limitadas a ultrapassar os mil dólares (cerca de 925 euros). Mas há modelos vintage dos anos 1980 e 1990 que podem escalar muito mais no preço. Algumas peças raras da Levi’s 501 XX, vendidas nos mercados de Osaka, já foram leiloadas por mais de 10 mil dólares (aproximadamente 9.240 euros).