A importância de adquirir competências digitais em 2021
Por Marco Gouveia, consultor e formador de Marketing Digital, head of Digital Marketing no Pestana Hotel Group e Google Regional trainer
Verdade seja dita, a pandemia eliminou qualquer vestígio de resistência que houvesse à digitalização em Portugal. Hoje, em 2020, a penetração da internet no País é de 83%, com 8,5 milhões de utilizadores, dos quais sete milhões têm presença activa nas redes sociais[1]. A ideia de digitalização passou de uma mera oportunidade de negócio para algo essencial à sobrevivência das empresas. Sempre se falou no digital como se de uma visão futura se tratasse, adiando o que é, agora, completamente inadiável. Com grande parte dos negócios a sofrer as consequências da paralisação da economia, emergiu a necessidade improrrogável da transição para o online. Finalmente, tem vindo a observar-se uma destruição total de convicções obsoletas contra a tendência digital e, em simultâneo, a uma reestruturação do pensamento estratégico das marcas.
A quem acha que Portugal ainda é um país extremamente atrasado a este nível e que, portanto, não vale a pena apostar no avanço da digitalização com a pressa que se impõe actualmente, pode interessar saber que, segundo apurado pelo Banco Europeu de Investimento, Portugal figura em terceiro lugar no grupo dos países fortes no Índice de Digitalização, depois da Eslovénia e Suécia[2]. Também a taxa de adopção de tecnologias únicas no País está acima da média da União Europeia e dos Estados Unidos da América para a “internet das coisas”, no sector de infra-estrutura, e para plataformas, no sector dos serviços. Além disso, quase 60% das empresas digitais portuguesas relata ter aumentado o número de funcionários nos últimos três anos, em comparação com 50% das empresas não digitais. E, ao contrário do que alguns empresários mais conservadores possam pensar, a produtividade média do trabalho não difere entre empresas digitais e não digitais.
A COVID-19 impulsionou a transformação digital em inúmeros sectores e é só uma questão de tempo até a urgência da adaptação chegar a todos – por esta, ou por qualquer outra razão que se estreie. O registo de domínios .pt triplicou e há cada vez mais negócios portugueses na internet[3], o que só comprova que, embora o “novo normal” tenha trazido, obviamente, muitas dificuldades, também mostrou que, realmente, tal como diziam os nossos avós, “a necessidade aguça o engenho!” e rapidamente se passa da desconfiança à comodidade. Muitas são as pessoas que, até Março deste ano, não compravam a partir da internet, quer porque não tinham literacia digital suficiente para tal, quer porque não se sentiam seguras ao fazê-lo, quer porque, simplesmente, não era algo que estivesse no quotidiano dos portugueses na sua generalidade, e, portanto, nem lhes passava pela cabeça. Surpreendentemente, no espaço de um ano, seja por força da necessidade, por moda, ou pela ânsia normal do ser humano de ter o que quer, quando quer, as pessoas passaram a fazer compras online com uma naturalidade quase intrínseca. A Sociedade Interbancária dos Serviços (SIBS) aponta que o peso do e-commerce no total de compras passou de 9%, antes da pandemia, para 14% durante o confinamento, situando-se agora nos 11%[4]. O valor médio das compras online de serviços e de produtos aumentou cerca de 18% no período do estado de emergência – isto já para não falar da semana da Black Friday, onde as compras online aumentaram 27% e as compras físicas caíram 16% face a 2019. Sem querer ser maçador com tantos dados estatísticos, acrescente-se, por fim, que no mês passado, as compras online em comerciantes nacionais cresceram 83% face a 2019.
Após as primeiras experiências de compra bem-sucedidas, a recorrência ao online torna-se um hábito e, diria até, um prazer. Possivelmente já viram, tal como eu, um meme a circular pelas redes sociais mostrando que, nesta altura, só existem dois tipos de dias: aqueles em que chegam encomendas de compras que fizemos online e aqueles em que não chegam (dias tristes, enfim!). Todos nós sentimos o impacto do confinamento e do isolamento social e rara é a pessoa que nega não só o conforto, como a capacidade de resolução de problemas que o digital nos deu. Confinados e privados de socializar (presencialmente), foi a tecnologia que nos salvou e, ironicamente, nos manteve humanos. A rotina das pessoas foi-se transformando e os hábitos de consumo adaptaram-se ao “novo normal”. Consequentemente, também os negócios tiveram de se reinventar e adaptar-se para responder às necessidades do mercado. E uma coisa é certa: aqueles que já tinham a sua marca minimamente consolidada no digital conseguiram facilmente dar resposta às necessidades dos consumidores, tendo até, alguns, crescido em termos de dimensão e vendas; os restantes, ou já não existem, ou tiveram de andar numa correria desesperante para assegurarem a sua continuidade.
Desde Março que a única fonte de rendimento de muitas empresas tem sido as vendas online. Quem não está presente ou, por outro lado, marca presença, porém, de forma ineficaz, viu as suas vendas a decaírem e deu por si à beira do precipício – e isto passa-se não só com pequenas e médias empresas, como também com grandes empresas. Nestas alturas de crise, só sobrevive quem está preparado para se adaptar à nova realidade – neste caso, quem percebeu prematuramente as vantagens de ter uma presença online. Esta não é mais uma questão de evolução, de futuro, mas sim de sobrevivência, do agora.
A pandemia foi um acelerador da digitalização e uma wake-up-call bem alta para as empresas fazerem esta transição (idealmente, criando uma simbiose perfeita entre online e offline). O caminho a percorrer é sempre gradual, claro. Contudo, acredito que assistimos a um momento de ruptura decisivo. A forma como se fazem negócios não vai voltar ao que era tão cedo. Ainda que a História seja cíclica, não me parece que este cenário se desvaneça brevemente. Assim, é urgente apostar em formação de Digital, mais do que nunca. É urgente ter um pensamento positivo e vontade de aprender. É urgente acreditar nos colaboradores, bem como nas chefias, e dotar as empresas de competências para dar eficazmente resposta aos desafios actuais e futuros. O futuro é agora e não há grito maior neste momento do que a necessidade de apostar no desenvolvimento de competências digitais em 2021.
[1] Data Reportal. “Digital 2020: Portugal”. Acedido a 14 de Dezembro de 2020. Disponível em https://datareportal.com/reports/digital-2020-portugal
[2] Fonte: Jornal de Negócios. “Portugal entre os países fortes no Índice de Digitalização”. Acedido a 14 de Dezembro de 2020. Disponível em https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/tecnologias/detalhe/portugal-entre-os-paises-fortes-no-indice-de-digitalizacao
[3] Fonte: Expresso. “Covid-19. Há mais negócios de origem portuguesa a surgirem online”. Acedido a 14 de Dezembro de 2020. Disponível em https://expresso.pt/coronavirus/2020-04-03-Covid-19.-Ha-mais-negocios-de-origem-portuguesa-a-surgirem-online.
[4] Fonte: SIBS. Acedido a 14 de Dezembro de 2020. Disponível em https://www.sibsanalytics.com/#