A fotografia e o advento do smartphone

Celebra-se, hoje, o Dia Mundial da Fotografia, o mote ideal para perceber como a evolução da tecnologia tem influenciado o mundo da fotografia e como a imagem se tornou uma ferramenta de comunicação e socialização. A Marketeer falou com o Instituto Português de Fotografia (IPF) para perceber melhor o que mudou, o que ainda vai mudar e o que é preciso, afinal, para assegurar boas fotografias.

O smartphone veio democratizar a fotografia?

A ideia da democratização da fotografia é quase tão antiga como a história da fotografia. Num dos primeiros cartazes publicitários da Kodak, de 1889, o slogan era “Você prime o botão, nós fazemos o resto”. O facto é que a fotografia sempre esteve dependente da tecnologia disponível e as alterações que, ao longo do tempo, se verificaram nessa tecnologia tiveram um impacto profundo na forma como se fotografa e nos motivos que são fotografados.

O impacto da utilização dos smartphones na fotografia deve, do nosso ponto de vista, ser encarado numa perspectiva muito mais abrangente, relacionada com a forma como a utilização das novas tecnologias e, sobretudo, das redes sociais, provocou uma alteração na definição dos espaços público e privado, da forma como interagimos com o que nos rodeia e como partilhamos essa experiência com os outros. Este fenómeno não é singular à fotografia, verificando-se igualmente noutras formas de comunicação e expressão (pense-se nos blogs, nas partilha de opiniões e informação via Twitter, etc.) e terá de ser analisado em conjunto com estes.

Para além da facilidade em fazer fotografias introduzida pelo smartphone, a grande revolução introduzida por esta “nova tecnologia” na fotografia é que, em si mesma, não é em primeira linha um mecanismo de captação de imagens, mas antes um objecto que serve para comunicar. A capacidade de, praticamente em tempo real, fazer uma fotografia e partilhá-la na internet, tornando-a disponível a um grupo indeterminado de pessoas, foi a principal revolução introduzida pelo smartphone na fotografia, democratizando-a, neste sentido, de uma forma nunca antes vista.

Que peso tem a qualidade do equipamento na captação de boas imagens?

O principal “equipamento” com que o fotógrafo se deve preocupar é a luz. O domínio da luz e dos conhecimentos técnicos que permitem transformar essa luz, com recurso ao equipamento disponível, numa fotografia que traduza a visão do fotógrafo têm, seguramente, muito mais importância do que a qualidade do equipamento.

Com isto não queremos afirmar, de forma alguma, que a qualidade do equipamento não tem importância na captação de imagens. Mas muito mais importante do que isso é que o fotógrafo conheça o equipamento de que dispõe e que o consiga dominar de acordo com as condições de luz disponíveis, por forma a transformar numa imagem fotográfica o que a sua mente “vê” sobre um determinado assunto.

Qualquer pessoa pode ser fotógrafo?

Esta questão não tem uma resposta directa, podendo colocar-se relativamente a qualquer outra forma de arte ou profissão. Pode qualquer pessoa ser pintor, arquitecto, professor ou médico? À partida, sim. Mas da mesma forma que não basta disponibilizar a alguém uma tela e tintas para que esta se torne um pintor, também não é o mero facto de actualmente qualquer pessoa ter à sua disposição – de forma extremamente acessível – uma câmara fotográfica que faz com que todos possam ser fotógrafos.

A crescente democratização da fotografia demonstra que qualquer pessoa pode fazer fotografias. Mas para ser fotógrafo, ainda que amador, o praticante da fotografia terá, antes de mais, de ter algo para dizer sobre o mundo que o rodeia e de ser capaz de o transformar num discurso fotográfico coerente e significativo.

É certo que a democratização da fotografia e outras modificações introduzidas pela era digital vieram colocar dificuldades crescentes a quem procura ser fotógrafo profissional. No entanto, abriram igualmente um leque de oportunidades e desafios que, se explorados por alguém que possua os conhecimentos técnicos, de composição e culturais necessários, o poderão fazer vingar no mundo da fotografia.

Qual será a próxima grande revolução na fotografia?

É difícil prever quais serão as próximas grandes evoluções na fotografia. No entanto, fazendo a ponte com a entrada do digital no mundo da fotografia, podemos prever que estarão relacionadas com a forma como a captura digital das imagens nos permitirá afastar cada vez mais da relação óptica com a realidade. Neste contexto, podemos afirmar que as próximas revoluções na fotografia estarão relacionadas com a evolução tecnológica a que assistiremos e com a forma como, enquanto sociedade, o que chamamos de “realidade” será entendido no futuro.

Seguramente que o 3D e a realidade virtual terão cada vez mais impacto no mundo visual, mas, enquanto evoluímos para estes novos e inexplorados territórios, serão seguramente os artistas de vanguarda que – tal sucedeu com os cubistas que revolucionaram as formas de ver há cem anos atrás – irão determinar e moldar a forma como vemos o mundo que nos rodeia e definirão o que será a fotografia no futuro.

Texto de Filipa Almeida

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