A estratégia de Melgaço no Turismo para crescer além dos vinhos

Quando falamos de Melgaço, a principal associação que é feita à região é ao vinho Alvarinho, a casta-rainha da sub-região de Monção e Melgaço, que tem impulsionado o enoturismo local. Contudo, a região tem vindo a investir noutras valências que lhe permitem diversificar a oferta turística, da gastronomia ao turismo de Natureza, e chegar assim a novos targets.

Um dos principais argumentos de Melgaço ao nível do Turismo é um seus dos principais ex-libris: as termas. Depois de um fecho temporário devido à pandemia de Covid-19, o parque termal reabriu no passado dia 1 de Junho, apresentando pacotes para diferentes públicos-alvo, desde programas românticos, actividades de natureza radicais ou simplesmente tratamentos de saúde e bem-estar. De resto, este foi um dos motivos que levaram o jornal britânico The Guardian a eleger recentemente Melgaço como um dos 10 locais a visitar em Portugal.

Mas há (muito) mais para explorar na região. Em entrevista à Marketeer, Manoel Batista, presidente da Câmara Municipal de Melgaço, explica que o objectivo passa por posicionar a região como um destino diferenciado de natureza e bem-estar, uma estratégia que surge ancorada num forte apoio ao empreendedorismo local.

Manoel Batista, presidente da CM de Melgaço

A região de Melgaço quer posicionar-se como um destino de recuperação e bem-estar nesta fase de desconfinamento. Qual a estratégia para se tornar um destino competitivo no contexto actual?

O posicionamento enquanto destino de natureza, associado às actividades desportivas passíveis de serem desenvolvidas em ambiente natural, num território reserva da biosfera, por si só já nos tornam um destino diferenciado e muito competitivo em relação à demais oferta nacional.

Além destes factores, temos no território outros elementos constituintes da nossa oferta que, quando conjugados com os primeiros, efectivamente nos colocam numa posição destacada. Referimo-nos à gastronomia e ao Alvarinho, com todas as experiências associadas; e ao bem-estar, que tem por base um dos nossos ex-libris: as termas de Melgaço. Trata-se de um parque termal surgido em 1884 que, devido à sua localização estratégica, tem atraído turistas portugueses e estrangeiros desde a sua inauguração. Este equipamento contribui ainda mais para nos afirmarmos como destino ideal para retemperar forças físicas e mentais – uma oferta que, na fase em que vivemos, é muitíssimo oportuna e desejada pela “nova procura” turística.

A região é muito conhecida pelo vinho Alvarinho. O enoturismo é também uma aposta do município?

O vinho Alvarinho é, de facto, um dos elementos que nos diferencia, sendo um produto essencial da nossa oferta, a par com a gastronomia e a saúde e bem-estar. O Plano Estratégico do Turismo de Melgaço aponta o enoturismo como uma mais-valia e um complemento essencial da experiência turística, pois é parte integrante da história da região e das características de um terroir único no mundo.

Actualmente, as nossas empresas vitivinícolas estão preparadas para fornecer experiências riquíssimas, de altíssima qualidade, a todos quantos tenham interesse no vinho e nos processos associados. Hoje, estamos capacitados para oferecer uma panóplia de actividades integradas, que vão da simples visita às adegas ao conhecimento mais profundo do processo de vinificação, o que é diferenciador e tem permitido um conhecimento progressivamente maior do Alvarinho.

As características privilegiadas do clima e do solo oferecem-nos condições para competirmos directamente com as principais castas brancas mundiais, um selo de qualidade que destaca não só a região de Melgaço, mas todo o País. E daqui nasceram iniciativas como a Rota do Alvarinho, implementada pela Câmara Municipal de Melgaço para, com outros agentes locais, dinamizar o potencial enoturístico da sub-região de Monção e Melgaço.

Que trabalho de valorização e diversificação da oferta turística tem sido realizado por Melgaço?

Neste momento, Melgaço encontra-se a implementar um conjunto de acções definido no Plano Estratégico do Turismo, que tem em vista a melhoria contínua da oferta, numa perspectiva de sustentabilidade económica, social e ambiental. Aqui, destacamos o processo de certificação de destino sustentável, pela EarthCheck, segundo os critérios do Global Sustainable Tourism Council (GSTC), que contamos estar concluído até ao final de 2021, o que nos tornará o primeiro município nacional certificado enquanto Destino Turístico Sustentável.

Esta certificação vai elevar-nos a um patamar de exclusividade positiva, difícil de igualar nos próximos tempos, além de alavancar a nossa notoriedade nacional e internacional como um destino “must visit” mundial, perfeitamente alinhado com os novos perfis de consumo turístico internacional.

Melgaço foi o primeiro município da região do Alto Minho a ser reconhecido com o selo “Remote Work Ready Town”, do projecto Rural Move. Qual o investimento realizado para atrair novas empresas/trabalhadores para a região?

Melgaço integra uma rede de centros maker do Norte de Portugal e Galiza, cujo objectivo é criar e desenvolver uma rede de empreendedorismo, baseada nos centros de produção digital e prototipagem da euro-região Galiza-Norte de Portugal. A funcionar no Espaço Altice, trata-se de um lugar-comum de inovação tecnológica e criativa, onde os interessados (especialmente os jovens) poderão aceder a ferramentas que os ajudem a desenvolver uma ideia de projecto tecnológico e criativo, desde a respectiva concepção, passando pela prototipagem, teste de produto e adaptação às necessidades de mercado com vista ao seu lançamento com sucesso.

Pretende-se que este projecto se constitua como embrião de uma futura estrutura de maior dimensão, capacitada para apoiar processos de transferência de conhecimento para as empresas já instaladas no concelho e, muito em particular, para as empresas a instalar na Zona Empresarial de Alvaredo. O projecto representa um investimento total de aproximadamente 175 mil euros e é co-financiado pelo FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, através do Programa INTERREG V-A España – Portugal (POCTEP), com uma taxa de 75%.

Quais as expectativas para o Verão que se avizinha?

Observamos o desconfinamento em curso e a perspectiva do Verão com a confiança de que vamos continuar a ser um destino de eleição nacional, tal como aconteceu no Verão passado, que apresentou taxas de ocupação na ordem dos 100%.

Estamos preparados com todas as condições e pontos de atracção – termas, vinho Alvarinho, gastronomia, percursos pedonais, monumentos históricos, desportos radicais, actividades ao ar livre, condições atractivas para visitantes em teletrabalho – para receber os nossos visitantes da melhor forma possível e para lhes proporcionar experiências memoráveis num contexto genuíno e cheio de boas surpresas.

Texto de Daniel Almeida

Artigos relacionados