A Era do “discovery commerce”
Por Irene Cano, directora-geral do Facebook em Portugal e Espanha
As restrições à liberdade que foram implementadas um pouco por todo lado levaram a alterações drásticas na nossa vida, desde os encontros com amigos no Zoom às compras que passaram para os carrinhos virtuais. A mudança, que nos afectou a todos por igual, é que participamos mais do que nunca em actividades online. Este aumento sem precedentes foi uma das alterações mais críticas e que maior impacto teve nas empresas. Esta é a hora das empresas pensarem como se relacionam e chegam ao seu público, e como o ajudam a descobrir novos produtos. E para isso é importante que a estratégia tenha em consideração as diferentes plataformas que existem e que podem ajudá-los a alcançá-la.
Plataformas para “a descoberta”
Durante a pandemia muitas pessoas sentiram- se mais seguras e tranquilas fazendo compras a partir de casa, recorrendo a plataformas online para encontrar inspiração e descobrir produtos e marcas. Esta mentalidade de descoberta não é totalmente nova, mas acelerou devido ao encerramento das lojas físicas. 83% das pessoas em todo o mundo utilizaram o Instagram para encontrar novos produtos e serviços, mais de 90% seguem pelo menos um de seus interesses, dois em cada três afirmam que é um local que oferece interacção com as marcas e 87% que, após terem visto as informações do produto na plataforma, fizeram uma acção online, como seguir uma marca, visitar o seu site ou fazer uma compra. Com tantas pessoas a utilizar as plataformas digitais desta forma, é importante que as empresas integrem ferramentas digitais nas suas estratégias de marketing.
Facilitar a descoberta de produtos a pessoas que já são fãs de uma marca é vital, mas captar novos clientes tem a mesma importância. As marcas devem ir mais além e alargar a sua forma de ver o comércio online. Em vez de se concentrar apenas nos clientes com uma intenção de compra existente, devem pensar em como gerar novas procuras.
Parte disto implica proporcionar experiências mais imersivas, de modo a que comportamentos que antes só eram possíveis em loja (como experimentar um batom) se convertam em uma realidade virtual. Experiências como estas significam que as pessoas não só encontram o que procuram, como também descobrem novos produtos ou serviços que nem sabiam que precisavam.
Também a publicidade digital permite agregar o trabalho de marketing num único anúncio, fornecendo “estantes digitais” para que os clientes encontrem o que não sabiam que queriam. Isto, combinado com a criação de experiências mais envolventes, faz com que o comércio online seja mais do que uma simples compra e se converta numa experiência. Desta forma, no futuro das compras online o comércio electrónico passará a ser o que hoje apelidamos de “discovery commerce”.
O “discovery commerce” e o funil
A par da publicidade digital, o surgimento do conceito de “discovery commerce” significa que as marcas devem proporcionar aos consumidores novas formas de encontrar, experimentar e comprar produtos. A experiência deve ocorrer através de uma espécie de pirâmide invertida, “funil do marketing”. No topo, estão as marcas a fomentar a descoberta. No centro, as marcas devem facilitar essa descoberta através de uma maior ligação aos seus clientes. E na parte final do funil, as marcas devem assegurar-se que as pessoas podem comprar produtos da forma mais rápida e directa. Para o conseguir, é preciso assegurar que os consumidores podem adquirir os produtos directamente a partir da plataforma, através de acordos com terceiros, que que criam um link directo para o carrinho de compras no site da empresa em questão.
Gerar procura não é só ter a estrutura e ferramentas certas, mas ter a mentalidade e atitude adequadas. No Facebook temos visto em primeira mão a importância do factor descoberta. Há uma década não estávamos habituados a que os conteúdos nos encontrassem a nós. 2,7 milhões de pessoas acedem ao Facebook pelo menos uma vez por mês e 1,730 milhões fazem-no diariamente, em todo o mundo. Além disso, o feed de cada utilizador é único e personalizado. Trata-se de uma descoberta em grande escala. As empresas deram conta que, com a tecnologia actual, não precisam de esperar que as pessoas encontrem os seus produtos.
Nunca antes foi tão importante as empresas concentrarem-se nos seus negócios. Não perca tempo à espera dos seus clientes, deixe que sejam os seus produtos a encontrá-los.
Artigo publicado na Revista Marketeer n.º 290 de Setembro de 2020