A criatividade portuguesa tem uma nova morada online
E se fosse possível encontrar no mesmo local as principais informações sobre a criatividade portuguesa? Desde trabalhos desenvolvidos por profissionais nacionais a artigos de opinião com a perspectiva de quem já soma largos anos no campo da publicidade ou comunicação, por exemplo.
Junta-se ainda uma secção dedicada a iniciativas, concursos e outras ferramentas que podem contribuir para a promoção de novos – e não tão novos – talentos e estamos perante o Quem é Quem, projecto desenvolvido por Teresa Verde Pinho e por Mariana Reis para dar a conhecer a criatividade com ADN português.
As duas profissionais, ambas a trabalhar na Ogilvy Paris, consideraram que estava na altura de dar uma casa à criatividade e, mais do que isso, tentar encontrar uma resposta para a pergunta que têm às voltas na cabeça: “Os brasileiros são os mestres do craft. Os argentinos os reis do storytelling. Os suecos do digital. E os portugueses? Qual é a nossa identidade criativa?”
A nova plataforma digital procura abordar este tema e tentar resolver aquilo que Teresa Verde Pinho descreve como um problema de branding. Embora não haja dúvidas relativamente ao talento em Portugal – tanto em quantidade como em qualidade –, a identificação do mesmo não é clara.
«Temos as expectativas lá em cima. Gostávamos muito que o Quem é Quem se tornasse um Little Black Book da criatividade portuguesa. Mas não só», adianta Mariana Reis. Em entrevista à Marketeer, as duas criativas contam como nasceu o projecto e quais são os planos de expansão.
Como surgiu a ideia?
Mariana: Não há uma data nem hora exacta de quando a ideia surgiu. Nasceu aos poucos entre conversas e copos. E um dos assuntos recorrentes era o facto de sermos duas portuguesas no mercado francês, onde ainda existe muito preconceito. Sentíamos que havia uma necessidade de provar não só o nosso valor mas também mostrar que Portugal tem talento e visão criativa.
Teresa: Depois de cinco anos a trabalhar lá fora, com criativos de várias nacionalidades, percebemos que só podemos e devemos orgulharmo-nos do talento português. Curiosamente, foi só quando Paris entrou em confinamento e decidimos trabalhar remotamente a partir de Portugal que o projecto saiu da gaveta.
Como foi o processo até lançar a plataforma? Quanto tempo demorou e quais foram as principais dificuldades?
Teresa: Caótico e stressante, mas também divertido e inspirador. Desde o momento em que decidimos avançar, demorámos cerca de quatro meses a pôr o Quem é Quem no ar, que na verdade foram 16 fins-de-semana intensivos coladas ao ecrã e umas horas extra aqui e ali, depois do trabalho.
Mariana: O mais complicado foi construir o Portfólio de Portugal. Foi bastante difícil encontrar todo o trabalho criado e premiado por portugueses e as suas fichas técnicas. No entanto, esta dificuldade só veio comprovar que era necessário criar uma montra da criatividade portuguesa, com todo o trabalho reunido num só espaço.
Quem alimenta a plataforma?
Mariana: Neste momento somos só nós que alimentamos a plataforma e o Instagram. No entanto, como queremos fazer do Quem é Quem um projecto de todos aqueles que fazem parte da comunidade criativa, esperamos que no futuro outras pessoas se juntem à equipa.
Teresa: A contribuição de todos é essencial para manter o Quem é Quem relevante. Aliáa, já recebemos propostas de criativos com ideias novas para incluir na plataforma, o que nos deixa muito felizes.
Quais são as expectativas em relação à plataforma e ao seu impacto?
Teresa: Temos as expectativas lá em cima. Gostávamos muito que o Quem é Quem se tornasse um Little Black Book da criatividade portuguesa. Mas não só.
Queremos que a plataforma esteja nos bookmarks de jovens criativos a dar os primeiros passos na indústria. Que seja apresentado nas escolas e faculdades de comunicação como um dos sítios onde os alunos podem procurar inspiração e orientação.
Mariana: Queremos que sirva para fazermos uma auto-análise criativa. Queremos que ajude a levar o talento nacional além-mar. E, acima de tudo, que seja uma fonte de orgulho para todos os criativos. Sabemos que para atingirmos tudo isto é necessário muito trabalho e que os criativos vejam o Quem é Quem como um projecto de todos.
Como respondem à vossa própria pergunta: “Os brasileiros são os mestres do craft. Os argentinos os reis do storytelling. Os suecos do digital. E os portugueses? Qual é a nossa identidade criativa?”
Mariana: Essa é “A” questão. Foi por isso que criámos o Quem é Quem. Ao trabalharmos lá fora sentimos que o criativo português não tem identidade, no entanto tem tanto ou mais talento que os outros. O que nos falta é branding.
Teimamos que somos pequenos, e que “lá fora é que é”, mas na realidade somos tão bons quanto os brasileiros ou os argentinos, mesmo que tenhamos um skill set diferente.
Teresa: Fala-se muito que o criativo português é mestre na arte do “desenrascanço”, do MacGyverismo. É aquele que faz muito com pouco. É o mais trabalhador, o último a sair da agência. Mas acreditamos que somos muito mais que isto e por isso mesmo é que nasceu o Quem é Quem.
Texto de Filipa Almeida