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A arte de conservar o vinho em casa: dicas de um sommelier para manter as garrafas no seu melhor
A correta conservação do vinho é fundamental para manter as suas propriedades, como aroma e sabor, e garantir uma boa evolução ao longo do tempo. Embora existam ambientes profissionais altamente controlados para esse fim, também é possível adotar soluções eficazes em casa para desfrutar dos seus vinhos favoritos da melhor forma.
O sommelier Fabio Poli deu a conhecer sete dicas valiosas para melhor conservar o seu vinho em declarações dadas ao jornal italiano Corriere della Sera.
Uma pequena adega caseira
Ter uma adega subterrânea ou um espaço adequado para armazenar vinhos é uma vantagem. O ambiente deve ser fresco, com temperatura estável entre 12°C e 15°C e humidade entre 60% e 80%. O importante é evitar variações térmicas e condições extremas. O sommelier Fabio Poli alerta: “É essencial evitar a presença de vernizes ou detergentes por perto. Já stocks de alimentos não representam um problema”. Para um armazenamento adequado, o vinho deve ser colocado sobre prateleiras de madeira, que ajudam a absorver vibrações. O metal, por outro lado, deve ser evitado, pois, segundo Poli, nos sítios onde os vinhos “sofrem vibrações constantes, o envelhecimento é acelerado”.
Praticidade em pequenos espaços
Para quem não tem uma adega própria, um pequeno frigorífico climatizado (também conhecido como “cave de vinhos”) é uma excelente solução. “Esses equipamentos são muito comuns, especialmente entre quem mora em apartamentos ou tem pouco espaço. São ideais para manter os vinhos a uma temperatura constante, especialmente os tintos, que devem ser servidos entre 16°C e 18°C”, explica Poli. A temperatura correta garante que os vinhos tintos sejam mais dinâmicos, florais e vibrantes. Por outro lado, uma garrafa armazenada num ambiente quente, como uma prateleira exposta ao calor do verão, pode comprometer sua qualidade.
A luz: Um inimigo do vinho
A luz, principalmente a solar, é uma grande ameaça ao vinho. Por isso, muitas garrafas, especialmente as de vinho branco, são fabricadas com vidro escuro. “O vinho teme a luz. Por isso, garrafas verdes ou escuras protegem melhor o conteúdo”, esclarece Poli. Um exemplo é o champagne Cristal Louis Roederer, que no século XIX foi produzido em vidro branco a pedido do czar russo, mas hoje é envolto em papel celofane para evitar danos causados pelos raios UV. A exposição prolongada à luz pode alterar o aroma e o sabor do vinho, tornando essencial guardá-lo em locais escuros.
A rolha do vinho: Tradição vs. Inovação
A tradicional rolha de cortiça sempre foi considerada ideal para vedar garrafas de vinho, mas a inovação trouxe novas alternativas. “O vinho está em constante evolução. Os sommeliers mais tradicionais precisam aceitar que outras opções, como as rolhas de alumínio stelvin ou de polímeros derivados da cana-de-açúcar, estão a ganhar espaço”, afirma Poli. Embora a cortiça seja reciclável e resistente, a sua qualidade pode diminuir com o tempo. Estudos comparativos entre vinhos armazenados durante anos com rolha de cortiça e de alumínio revelam que, em alguns casos, a segunda opção preserva melhor o líquido. “Muitos mercados, como o do norte da Europa, Austrália e Mosela, já aderiram sem grandes resistências”, completa Poli.
O “sabor da rolha”
Um problema comum com rolhas de cortiça é o chamado “sabor da rolha”, causado pelo composto químico TCA (Tricloro Anisólico), derivado do fungo Armillaria Mellea. “Esse problema não está ligado ao armazenamento, mas à própria cortiça”, explica Poli. Felizmente, avanços tecnológicos reduziram significativamente essa incidência. No entanto, algumas regulamentações ainda são restritivas quanto ao uso de tampos alternativos. “Por exemplo, um produtor de Valpolicella Clássico que queira usar rolha stelvin precisa baixar a sua classificação para Valpolicella, pois apenas cortiça é permitida para Valpolicella Superiore, Ripasso e Amarone”, explica Poli.
Sustentabilidade e embalagem
Outro aspecto importante é a embalagem. Muitas garrafas premium são mais pesadas, mas isso nem sempre se justifica. “O peso da garrafa não melhora a qualidade do vinho e ainda aumenta o impacto ambiental na produção e transporte”, alerta Poli. Para vinhos tranquilos, uma garrafa leve é suficiente, contribuindo para um menor impacto ecológico.
Como conservar o vinho depois de aberto
Depois de aberta, a garrafa de vinho precisa de cuidados especiais para evitar a oxidação rápida. Apesar das diversas soluções para extrair o ar da garrafa, uma rolha hermética muitas vezes é suficiente. “Não uso bombas ou sistemas sofisticados. Se o vinho for bom, no dia seguinte pode estar ainda melhor, mesmo com uma rolha comum”, afirma Poli. No entanto, para restaurantes que servem vinhos em copo, a conservação correta é essencial para garantir a satisfação do cliente e respeitar o trabalho do chef e do produtor.