Web Summit: quantidade supera qualidade?
A importância do conteúdo, como motivar criadores de conteúdos, a aceitação da diversidade e a IoT foram alguns dos destaques do terceiro dia do Web Summit, em Lisboa. Os diferentes palcos, espalhados por três pavilhões da FIL e Meo Arena, foram enchendo para tentar descobrir quais as próximas tendências e como aproveitar as tecnologias que vão surgindo todos os dias – algumas delas criadas pelas dezenas de startups que dão a conhecer o seu trabalho no evento. Conheça algumas das conclusões das sessões de hoje:
– Simon Sproule, CMO da Aston Martin, reconhece que as formas de comunicar estão a mudar mas explica que a fabricante automóvel é uma marca de luxo com uma herança vasta e que, como tal, não faz sentido apostar em conteúdos de consumo rápido, por exemplo. A Aston Martin está focada em criar formatos mais longos que tenham o storytelling como pilar fundamental;
– A qualidade supera a quantidade. A facilidade em criar conteúdos poderá estar a superar a vontade em construir conteúdos que façam sentido e que tenham valor para os consumidores. Constantin Eis, co-fundador da Casper Eis, lembra que já existem várias ferramentas acessíveis que permitem criar conteúdos de alta qualidade: não vale a pena oferecer uma comunicação medíocre;
– Como se criam comunidades felizes e motivadas de criadores? Joseph Gordon-Levitt, actor e fundador da hitRECord, acredita que o segredo, no caso da sua plataforma, está no facto de terem crescido lentamente. «Nunca fomos uma startup», garantiu o responsável, referindo que nunca tiveram pressa em crescer e que isso terá ajudado a criar uma comunidade positiva, que se sente ouvida e acompanhada. Adicionalmente, Joseph Gordon-Levitt explica que não respondem a negatividade e que não alimentam os chamados “trolls”;
– Ebbe Altberg, CEO da Linden Lab, por seu turno, refere que atribuir ferramentas aos criadores de conteúdos, dando-lhes mais poder é uma forma de os manter motivados. No campo da privacidade, por exemplo, os criadores devem poder decidir todos os aspectos da sua presença nas plataformas através das quais estão a desenvolver novos trabalhos;
– Werner Vogels, CTO da Amazon.com, lembrou numa sessão dedicada à IoT & connected data que o mundo já mudou e que aquilo que ainda imaginamos de uma forma já está a beber dos efeitos da recolha e análise de dados. Exemplo disso é o agricultor que já não é o indivíduo com tractor. O novo agricultor está em casa, rodeado de écrans onde controla tudo o que está a passar nos campos de cultivo com a ajuda dos sensores que em tempo real fazem todas as medições necessárias. Se no passado era a intuição que ditava o que fazer a seguir, hoje é a análise de dados. E se é verdade na agricultura é-o também em muitos outros sectores da sociedade. «Tudo está a ficar ligado. Tudo o que tem electricidade vai passar a estar ligado», assegurou. E dá mais um exemplo, numa área totalmente diferente: o desporto. Aí também tudo o que acontece dentro de campo está a ser medido em tempo real, dando informações aos espectadores nos tempos mortos e permitindo que essa data seja usada para a preparação de jogos futuros. «A decisão de se um jogador marca um livre não está a ser feita no momento, mas pela análise de previsões proporcionada pela data», resume.
– Ian Daniel, co-apresentador e produtor executivo da Gaycation, defendeu na conferência “Media, identity and diversity” – onde se pretendia discutir se os media globais e os social media oferecem, de facto, espaço de aceitação e adopção de identidades diversas – que com o actual acesso à internet é possível ter contacto com todas as diversidades de pessoas existentes. Apesar desse facto, lembrou Osric Chau, actor do “Supernatural”, há quem não tenha sede de conhecimento para se cruzar com toda essa variedade. «A verdade é que o desconhecido é assustador. Mas quando se conhece as pessoas e se consegue estabelecer a ligação percebe-se que, afinal, são apenas pessoas independentemente da sua diversidade», comenta. No mesmo palco estava ainda Reni Eddo-Iodge, jornalista e autora de “Why I’m No Longer Talking to White People About Race” que será publicado pela Bloomsbury em 2017. A jornalista defendeu que «a diversidade tem de ser uma prioridade na empresas como o é fazer-se dinheiro». E acredita que a mudança de mentalidades não tem de ser feita pelo contacto directo, cara a cara. «Podemos fazê-lo com o que escrevemos, com as músicas que são compostas, pelo trabalho dos artistas…», assegurou. Porque o poder maravilhoso da internet é que permite chegar a pessoas que quem está a criar nunca imaginou que chegaria, finalizou.
Texto de Filipa Almeida e Maria João Lima