A agência criativa do ano foi a REALITY®
As minhas perspectivas para 2015? Depende. Se o ano for parecido com o que agora termina, vai ser muito complicado. Em 2014, a minha concorrente REALITY® dominou o mercado. Nunca ouviu falar? Fez trabalhos geniais.
por Diogo Anahory, creative barman da BAR
Este texto foi publicado originalmente na edição de Janeiro de 2015 da Marketeer.
A prisão de Sócrates, o Estado Islâmico, a falência do BES, a queda da PT e os vistos Gold, entre outros. Quem disse que a realidade é capaz de superar a ficção estava certamente a pensar no ano passado. E pergunta você: e o que tem tudo isto a ver com publicidade? E eu respondo: tudo.
Nós, agências criativas, criamos conteúdos. O que tentamos fazer é criar ideias que tenham a capacidade de captar a atenção das pessoas. Ideias que sejam novas, marcantes e surpreendentes, pois só assim os consumidores farão a gentileza de nos ceder 1% que seja do seu tempo disponível. O problema é que nesta dura batalha pela atenção – que a tecnologia e a fragmentação da media vieram tornar mais violenta – as marcas não competem apenas com os seus adversários directos. Concorrem com todos os outros conteúdos, também eles ávidos da nossa atenção: as novelas, o cinema, as séries, os livros, os festivais de música e claro, a REALITY®, essa grande agência criativa sem personalidade jurídica.
E é aqui que reside o nosso drama.
Como é que se cria um headline melhor do que “Perna levava malas em dinheiro a Paris”?
Como é que se faz um filme mais criativo do aqueles 30 segundos em que Pedro Queiroz Pereira fala sobre os bolos das irmãs de Ricardo Salgado?
Como é que se faz uma “activação” que supere a dos criativos que imaginaram o esquema do vistos Gold?
Como é que se cria um anúncio de imprensa capaz de rivalizar, na página ao lado, com uma foto de um combatente do Estado Islâmico, de pé e faca na mão, atrás de um jornalista inglês, de joelhos, vestido de cor-de-laranja?
Um 2015 parecido com 2014 será o terror de qualquer publicitário. Os meus desejos são por isso menos Sócrates, menos falências ruinosas, menos corrupção e menos terroristas por esse mundo fora. Faço votos sinceros de que a agência REALITY® tenha o pior ano possível. A todos os outros, desejo um óptimo 2015.