Fevereiro é mês de…
Se pensou Carnaval errou. Se pensou Super Bowl acertou. Se pensou “orgia de spots de publicidade à moda antiga vistos no sofá da sala acompanhados de asas de frango picantes e baldes de cerveja”, você não só acertou como provavelmente vive para este momento. Isto é, se vive nos EUA. Ou se, como eu, visiona todos os spots do Super Bowl no dia seguinte (na net e sem as asas de frango) por mais parvos, machistas ou incompreensíveis que sejam.
Quando dizem “a publicidade na TV morreu” tendem a esquecer este momento do ano em que ela renasce em todo o seu esplendor, qual zombie pronto a contradizer os mais 2.0
O fascínio começa muito antes do Super Bowl. Enquanto as equipas jogam os play-offs (ok, eu confesso: não percebo nada de futebol americano), já há muito sururu sobre que spots serão emitidos. Os motivos deste interesse prévio são os mais variados: desde qual será a história deste ano do clássico anúncio Budweiser com os cavalos Clydsdale, até à importante questão, quão despidas estarão as meninas dos filmes da Go Daddy. Mas o verdadeiro ponto de interesse pré-jogo é: quais os spots que foram censurados e onde é que posso vê-los. Porque os spots são visionados por uma comissão e a sua emissão pode ser proibida na televisão pública pelas mais variadas e impenetráveis razões. A resposta à questão anterior é óbvia: pode vê-los no YouTube vários dias antes do jogo. Já agora, aqui fica o link para um dos censurados destes ano. São filmes acabados, inteiramente produzidos, e que só não vão para o lixo graças ao maravilhoso mundo da internet, onde terão uma vida mais prolongada do que se tivessem sido aprovados.
Depois há os que vão para o ar. E como o futebol americano tem mais paragens do que um comboio regional, estes são muitos. 61 (!) este ano. São muitos no total e muitos por cada marca, a In Bev apresentou nada menos do que nove. Convém esclarecer que todos os filmes são estreias, produzidos em alguns casos exclusivamente para este momento. Convém também dizer que não são cartões de cinco segundos, mas grandes produções cheias de efeitos especiais, celebridades de maior ou menor calibre – há um VW com o Stevie Wonder – e muitos, muitos milhões de dólares envolvidos, mesmo sem contar com os milhões que custa o espaço num destes blocos. Percebe-se a excitação da indústria mas o interessante é a excitação do público. Como alguém dizia “no Super Bowl é muito difícil escolher um momento para ir à casa de banho. Se for durante o jogo pode perder uma jogada fulcral, se for durante o intervalo pode perder o spot de que todos vão falar no dia seguinte”. E todos falam no dia seguinte. Falam é de coisas diferentes. Este ano a blogsfera, as agências e os críticos profissionais de publicidade falaram do delicioso spot da Google “Parisian Love”. Porque a Google não faz publicidade nunca, porque o Super Bowl não parece a localização adequada, ou porque, apesar do low cost, a ideia é envolvente, emocional e totalmente relevante para o produto. Mas junto à máquina do café no escritório, do que se fala é do filme dos Doritos com um caixão cheio de tiras de milho ou do preferido e mais lembrado de todos, segundo auditoria da Nielsen, o filme do Snickers em que uma velhinha de 80 e muitos anos (Betty White) é sucessivamente placada e atirada ao chão num jogo de futebol americano entre amigos para fazer o ponto de que sem energia de Snickers parece a Betty White.
Não interessa qual dos dois é melhor. Interessa que toda a gente fala do mesmo assunto – antes, durante e depois do jogo – e o assunto são anúncios. De televisão. À moda antiga. Bons, maus, assim-assim. Não faz mal. Mesmo que este ano a colheita não seja grande coisa, este é o espaço onde já surgiram grandes clássicos da publicidade como 1984 da Apple ou Whassup? da Budweiser.
Só por isso já vale a pena a existência do Super Bowl – by the way este ano ganharam os New Orleans Saints, mas isso não interessa nada.
Veja todos os filmes deste ano em adage.com