
Vídeos gerados por IA: Uma nova ferramenta de poder político?
Desde que as imagens geradas por IA começaram a ser cada vez mais recorrente que se discute o seu impacto político. Embora inicialmente tenham sido encaradas com naturalidade, os deepfakes e os vídeos cada vez mais realistas levantam novas preocupações. Na política, estas ferramentas têm sido usadas tanto para entretenimento como para influenciar resultados.
Donald Trump, por exemplo, partilhou um alegado plano para Gaza criado com IA, enquanto o Partido Popular, em Espanha, utilizou uma versão fictícia de um reality show com personagens do PSOE, como se eles próprios fossem concorrentes, gerando polémica.
Para além da política, os vídeos gerados por IA popularizaram um género nostálgico nas redes sociais, como a tendência “acordas como adolescente em Espanha dos anos 80”, que idealiza o passado de forma distorcida.
A criação destes vídeos tem vindo a aumentar rapidamente. Segundo Xavier Peytibí, consultor de comunicação política no Ideograma em declarações ao site Fast Company, “os partidos também os utilizam como parte da sua comunicação política”, pois “oferecem uma forma mais barata e rápida de produzir conteúdo visual impactante”.
Embora ainda não tenha ocorrido um caso de manipulação em grande escala, Solo Avital, criador de um vídeo viral, alerta que poderemos viver um momento semelhante ao de A Guerra dos Mundos, de Orson Welles, com um vídeo gerado por IA em que “Trump anuncia que a III Guerra Mundial está a começar”, acabando por “lançar uma arma nuclear contra a Rússia”.
Até agora, os partidos conservadores têm aproveitado mais a IA na comunicação política. “Os canais tradicionais de propaganda política parecem agora insuficientes dado que o peso da conversa se deslocou para as redes sociais com as quais os círculos mais ultra e o próprio Donald Trump ocupam cada vez mais espaço com a comunicação de ódio e desinformação, o que pode ter muito mais impacto”, afirma Carmela Ríos, jornalista e professora especializada em redes e desinformação.
No entanto, adverte que “um conteúdo gerado com IA não é real e deve estar bem contextualizado” e que o excesso destes conteúdos poderá saturar o público.
Por fim, a IA parece estar a tornar-se uma ferramenta aceite na política, misturando entretenimento e estratégia: “Os conteúdos de atualidade e resposta rápida, se forem bem feitos e criativos, funcionam sempre muito bem na comunicação política”, conclui Peytibí.