
O papel do Maverick!
Por Mário Barros, Cluster Operations manager da Ingka Centres para o Sudoeste da Europa e presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Centros Comerciais
Inovar significa êxito. Sucesso é fazer o que mais ninguém fez e ter um produto diferente que nos distingue dos concorrentes. À primeira vista, este princípio poderá ser aplicado a qualquer indústria de maneira igual, embora no retalho seja mais difícil medir a produtividade de forma direta (causa/efeito) do que na indústria de produção.
Acertei na descrição? Penso que não. Inovar significa arriscar, ter a coragem de fugir da norma, idealizar, experimentar, falhar, adaptar e não desistir. Estes adjetivos podem parecer colidir com a necessidade empresarial de estandardizar, definir procedimentos, reduzir o risco, procurar sinergias e escalar melhores práticas. No entanto, com a liderança certa, é possível equilibrar inovação e padronização, permitindo que ambas coexistam e se fortaleçam mutuamente.
Há uma necessidade de equilíbrio entre estas duas realidades que se devem autoalimentar e apoiar e isso depende fundamentalmente da liderança, que tem um papel crucial em apoiar a inovação e em encontrar e orientar os perfis de maverick dentro de cada empresa. Os mavericks são aquelas pessoas que, por natureza, procuram a diferença dentro do que os apaixona. São indivíduos que descobriram algo novo e querem experimentar, que desenvolvem independência na forma de pensar e agir e que não se conformam com o status quo. Estão autorizados a falhar, pois é através do erro que muitas vezes se alcança a verdadeira inovação.
A inovação pode levar ao êxito, mas dá muito trabalho, tem riscos a gerir e não existe sem ter quem esteja disposto a desafiar e arriscar. Tem mavericks na sua empresa? Deveria ter. Eles têm espaço para falhar? Deveriam ter, caso contrário, vão deixar de o ser.
Dou um exemplo muito curioso. Nos anos 70, um engenheiro da Kodak inventou a câmara fotográfica digital. Esse jovem maverick viu sua inovação ser parada porque ameaçava o negócio principal da Kodak (rolos fotográficos analógicos). Neste caso, a falta de visão e apoio à inovação resultou na perda de uma oportunidade revolucionária. Hoje, já não temos Kodak, mas temos máquinas digitais, mostrando como a inovação pode ser crucial para a sobrevivência e sucesso de uma empresa.
Em termos de indústria, o retalho e os centros comerciais são mavericks por natureza. Desde o início do bazar até ao centro comercial, foram ultrapassados uma série de desafios, criando um ecossistema de marcas e ofertas que se renova, adapta, experimenta, mas acaba sempre por entregar valor aos seus clientes.
Os desafios prosseguem e as necessidades dos clientes continuam a mudar. Ainda no mês passado, estava a lançar aqui o tema de IA para o retalho, antevendo mudanças cada vez mais rápidas, quando da China nos chega outra ferramenta de IA generativa, o DeepSeek, que muda o paradoxo desta tecnologia e, aparentemente, tem o potencial de democratizá-la.
Na Ingka Centres, desenvolvemos o nosso conceito de Meeting Place precisamente para inovar e experimentar com os nossos clientes qual o nosso futuro dos nossos espaços. Vemos os nossos centros como muito mais do que um local de retalho e é nesse sentido que estamos a desenvolver outros focos de atração que nos transformem numa parte integrante da comunidade, que a apoia e traz um retorno positivo a todos os que nos visitam.
A nível global, temos desenvolvido conceitos inovadores, desde áreas exclusivas de coworking (hej Workshop!) até ao lançamento de um foodhall de comida sustentável (Saluhall – San Francisco). Para tornar este processo ainda mais eficaz, acabámos de lançar o Ingka Centres Futures, uma plataforma focada em empresas, startups locais, ou mesmo gigantes globais, que partilhem os nossos valores. Queremos unir forças com diferentes parceiros para juntos criarmos espaços interessantes onde não se façam apenas compras, mas também onde as pessoas podem trabalhar, conviver, aprender, comer, experimentar algo novo ou simplesmente divertir-se, desfrutando de um bom momento num ambiente que é significativo. Queremos continuar a promover esta diferenciação e inovação, colaborando com cada vez mais parceiros que partilhem ideias semelhantes para cocriar o futuro do retalho.
Juntamente com os nossos parceiros, temos a missão de criar espaços comerciais onde as pessoas não só fazem compras, mas também se encontram, aprendem, experimentam algo novo ou simplesmente desfrutam de um bom momento em ambientes significativos. Isto faz-nos analisar todos os tipos de atividades humanas, explorando as tendências e as possibilidades que inspiram a próxima experiência significativa.
Mas também em Portugal procuramos a diferenciação. O MAR Shopping Matosinhos foi o primeiro centro comercial da Europa a ter uma loja IKEA totalmente integrada e, mais a sul, o MAR Shopping Algarve é um espaço único onde juntamos oferta Full Price e Outlet num único lugar, conectados por uma área de lazer de mais de 4.000 metros quadrados.
Seja um maverick: questione, sonhe e realize.