Vendas globais de bens de consumo abrandam crescimento em 2024, revela estudo

O relatório da Bain & Company revela que as vendas globais de bens de consumo cresceram 7,5% em 2024, atingindo os 7,5 biliões de dólares (7,25 milhões de euros), um aumento inferior ao de anos anteriores (9,3% em 2023 e 9,8% em 2022). A principal fonte de crescimento veio dos mercados emergentes, que registaram uma taxa de crescimento superior à dos mercados desenvolvidos, cujas vendas caíram de 7,7% para 4,5%.

Esta desaceleração reflete os efeitos da inflação elevada, que continua a afetar o poder de compra, especialmente nos EUA e na União Europeia, onde a preocupação com o custo de vida permanece em alta.

Richard Webster, líder da prática global de Bens de Consumo da Bain & Company, afirma que “as dinâmicas desafiadoras de 2024 colocaram uma pressão desproporcionada sobre as maiores empresas de bens de consumo. Com a inflação a recuar, fica claro que o antigo modelo de crescimento em larga escala das empresas de bens de consumo não está totalmente adequado à nova normalidade que está a emergir. A indústria está num ponto de viragem e a tradicional dependência do crescimento impulsionado pelos preços já não é suficiente para sustentar o crescimento a longo prazo.”

O relatório também destaca uma mudança nas preferências dos consumidores, que estão a afastar-se das ofertas de mercado de massa, favorecendo marcas emergentes. Estas marcas capturaram uma fatia significativa do crescimento, com as 50 maiores empresas de bens de consumo a registarem um crescimento reduzido de apenas 1,2% nas receitas durante a primeira metade de 2024.

João Valadares, partner da Bain, acrescenta: “O abrandamento do crescimento em 2024 mostra que este sector está num momento de viragem: os mercados e as marcas emergentes vão ganhando quota, a confiança dos consumidores continua frágil, e as suas preferências vão-se afastando dos mercados de massa.”

As preocupações com saúde e sustentabilidade, como o aumento das preocupações com alimentos ultra-processados e a popularização de medicamentos como os GLP-1s, estão a influenciar o comportamento dos consumidores e podem causar disrupções duradouras no setor.

Charlotte Apps, vice-presidente executiva da prática de Bens de Consumo da Bain, comenta: “Os fundamentos da indústria estão a evoluir rapidamente. Os consumidores estão a tornar-se cada vez mais exigentes, as preferências estão a fragmentar-se e as expectativas estão a aumentar, face aos preços mais elevados. Como resultado, marcas emergentes e locais estão a capturar uma parte cada vez maior do crescimento.”

Além disso, fatores macroeconómicos, como a migração e o envelhecimento das populações, também estão a alterar as dinâmicas de consumo. O relatório sugere que as empresas devem diversificar os seus portfólios, explorar novas fontes de lucro e acelerar a sua transformação digital. A Inteligência Artificial (IA) é apontada como uma área de grande potencial, mas muitas empresas ainda não estão a explorar essa oportunidade de forma eficaz. “Apesar de 90% dos executivos de empresas de bens de consumo reconhecerem a importância da IA, apenas 37% posicionam esta tecnologia entre as suas cinco principais prioridades. Apenas 6% dizem ter um plano para usar a IA para criar valor para o negócio,” revela o relatório.

Em resumo, o setor de bens de consumo enfrenta uma transformação profunda, onde a capacidade de adaptar-se às novas preferências dos consumidores, diversificar as ofertas e adotar tecnologias emergentes será crucial para o sucesso a longo prazo.

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