Há um Romualdo da Madeira a vestir o Vice-Presidente dos EUA
Chama-se Romualdo Pelle e é da Madeira, um vila de Cincinnati, no Estado norte-americano do Ohio. Romualdo é uma espécie de Ronaldo, não dos relvados, mas dos alfaiates, ou não fosse a sua alfaiataria uma espécie de ponto de encontro de figuras ilustes.
Apesar de partilhar o nome com a ilha portuguesa, a Madeira de Pelle é americana, e é onde o alfaiate de 90 anos continua a criar peças únicas que já vestiram nomes como Neil Armstrong, Henry Heimlich e, mais recentemente, o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance.
Romualdo fundou a Romualdo Bespoke Tailoring em 1968, dedicando-se à confeção artesanal de fatos por medida. A alfaiataria, que ainda mantém o mesmo endereço, é um espaço onde tudo é feito à mão, desde as casas dos botões aos detalhes das lapelas. Para Romualdo, a perfeição está nos pormenores: “Quando uma peça está pronta, não precisa de ser engomada, está perfeita tal como sai das minhas mãos”, explicou a um jornal local.
Entre os clientes de Romualdo estão nomes como Neil Armstrong, com quem partilhava uma amizade próxima, e Henry Heimlich, inventor da famosa manobra de emergência. Hoje, o filho de Heimlich continua a frequentar a alfaiataria. Mais recentemente, foi J.D. Vance quem escolheu as suas criações para a tomada de posse de Donald Trump como 47.º presidente dos Estados Unidos.
Vance, que começou a frequentar a alfaiataria em 2021, mantém-se um cliente fiel. Para a cerimónia de posse, encomendou um impressionante conjunto: oito camisas, seis gravatas, quatro fatos, três cintos, dois sobretudos e dois pares de luvas, tudo em tons de azul e preto. “Assistir à ascensão de Vance à vice-presidência é algo surreal”, confessou Pelle.
Nascido numa pequena vila italiana com apenas 15 mil habitantes, Romualdo começou a aprender o ofício aos nove anos, em plena Segunda Guerra Mundial. “Na guerra, não havia nada a fazer, então aprendi a costurar”, recorda. Com o apoio do padrinho, um experiente alfaiate, começou a sua jornada num campo de refugiados. Aos 21 anos, já dominava a arte e, anos depois, trouxe o seu talento para os Estados Unidos.
Embora o percurso deste alfaiate seja muitas vezes descrito como o “sonho americano”, ele mantém-se humilde: “Nunca imaginei que um rapaz do interior de Itália pudesse chegar aqui”, disse com um sorriso.
Aos 90, Romualdo continua a trabalhar diariamente, supervisionando cada detalhe das peças que cria. Além dos fatos personalizados, a alfaiataria expandiu-se para incluir peças casuais e até roupa feminina, com projetos como “If These Sleeves Could Talk”, que permite às clientes desenharem os seus próprios casacos.
Apesar do sucesso, o mestre alfaiate não pretende reformar-se. “Enquanto puder beber vinho e comer esparguete, estarei bem. Continuarei a trabalhar enquanto sentir que sou útil”, afirmou.
Romualdo guarda pedaços de tecido dos fatos que fez para Vance, como recordação de um cliente que, como ele, atingiu grandes feitos. Entre as memórias mais preciosas, destaca-se uma nota de agradecimento escrita à mão por Vance, que celebra a dedicação e o talento do alfaiate.
A história de Romualdo é a prova de que o trabalho artesanal, a paixão e a perseverança podem levar alguém das origens mais humildes até aos corredores do poder.