Liderança “Inteligente”: Quando os KPI’s são Ferramentas de Resultados e Cultura Empresarial

Em Portugal, muitas empresas enfrentam um desafio recorrente: possuem objetivos definidos, mas falham na definição de KPI’s claros e, mais importante, na implementação de processos eficazes para medi-los. Esta lacuna, para além de afetar o desempenho da organizacão mina a confiança, a autonomia e, em última análise, e para mim mais importante, a motivação das equipas, ou seja, de quem leva a cabo o cumprimento dos objetivos.

A ausência de métricas bem estruturadas gera um efeito cascata. Quando uma organização não tem formas objetivas de medir o progresso em direção aos seus objetivos, a gestão tende a cair em práticas de micro-management. Isto é particularmente evidente em contextos de trabalho remoto, onde a desconfiança se torna visível: líderes sentem a necessidade de ver para crer.

Contudo, se os KPI’s forem bem definidos, acompanhados de métricas relevantes e suportados por ferramentas adequadas, esta desconfiança torna-se desnecessária. Um sistema robusto de avaliação de desempenho permite que os gestores confiem no processo e que as equipas trabalhem com maior autonomia e clareza.

Atenção, líderes: KPI’s não são apenas números para preencher relatórios. São ferramentas estratégicas que devem alinhar objetivos, inspirar equipas e medir progresso de forma transparente. A pergunta é simples: estão realmente a usar os KPI’s para liderar com inteligência ou apenas para controlar com rigidez? Estão a reservar de forma séria espaço, tempo e budget para a medição efetiva e eficaz desses KPI’s?

Em novembro, tive a oportunidade de moderar um painel no Congresso de Saúde Mental em Contexto Laboral da ASM. Uma das intervenientes foi Jo Loughran, que, entre 2007 e 2021, liderou no Reino Unido a campanha antiestigma “Time to Change” associada à doença mental. Esta campanha recebeu, ano após ano, um avultado investimento, mas, segundo Jo, a chave para garantir a continuidade desse apoio financeiro esteve na medição rigorosa dos resultados. Foi graças a métricas de avaliação bem definidas, com base na gestão da mudança, que foi possível demonstrar o impacto real da campanha, mas em torno de 10% do orçamento total foi investido exclusivamente na medição desses resultados.

Por isso, também pergunto: Quanto investimos na avaliação da medição do que estamos a fazer?

Esta lógica aplica-se tanto ao nível organizacional como ao nível individual. Os trabalhadores, muitas vezes, não têm metas pessoais claras ou formas objetivas de medir o seu próprio sucesso. Esta ausência de clareza leva a frustrações, perda de foco e, inevitavelmente, ao desalinhamento entre os objetivos pessoais e os da empresa.

No universo do marketing, por exemplo, os profissionais mais experientes sabem que o sucesso das campanhas depende de uma clara definição dos objetivos e da escolha criteriosa dos KPI’s. O Marketing Mix Modeling (MMM) tornou-se uma ferramenta essencial para diferenciar campanhas, medir o seu impacto e ajustar estratégias com base em dados concretos.

O mesmo raciocínio pode – e deve – ser aplicado a toda a organização. Empresas que conseguem definir KPI’s claros, alinhá-los com os seus objetivos estratégicos e implementar mecanismos eficazes de medição para além de melhorarem os seus resultados, cultivam uma cultura de confiança, autonomia e responsabilidade.

O caminho para o sucesso organizacional não está apenas nos grandes objetivos, mas na capacidade de medir consistentemente cada passo na sua em direção. KPI’s não são apenas números num relatório – são a bússola que guia empresas e pessoas rumo ao sucesso sustentável.

Lembro-me de uma mentoria recente, onde uma profissional partilhou emocionada sobre o seu diretor. Depois de um novembro exaustivo, onde deu tudo de si para cumprir metas desafiadoras, o seu desempenho começou a cair. Em vez de repreendê-la por esse desempenho decadente, o diretor reconheceu o seu esforço e disse: ‘Podes descansar. Até ao final do ano, não precisas de trabalhar mais, porque os teus objetivos já foram cumpridos. Mas, para 2025, vamos trabalhar juntos numa gestão mais equilibrada do teu tempo e energia.’ Este tipo de liderança, guiada por KPI’s claros e uma visão humana, aumenta a produtividade, mas mais importante, constrói relações de confiança e respeito duradouras nas equipas.

E aí, os KPI’s estratégicos e operacionais, macro e individuais, estão bem definidos?

Ainda vamos a tempo de rever. Bom ano!

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