Pili e Citizens of Humanity: A parceria que pode mudar o azul dos jeans rumo à sustentabilidade

Se é ambientalmente consciente, provavelmente sabe que o tingimento de roupas é prejudicial ao planeta. Em países como a China e Bangladesh, rios próximos a fábricas tingem-se de preto devido aos corantes que poluem e envenenam a água. Mas o problema vai além disto: 99% de todos os corantes são produzidos a partir de combustíveis fósseis, emitindo 200 milhões de toneladas de dióxido de carbono anualmente.

A indústria do vestuário, em particular o setor da ganga (denim), é um dos maiores consumidores de corantes, absorvendo 2 milhões de toneladas por ano. Para que os 3 milhões de jeans vendidos anualmente adquiram o tom azul que os caracteriza, é necessário tingi-los com índigo. Mas uma startup francesa chamada Pili encontrou uma alternativa mais ecológica: um corante desenvolvido a partir de açúcares de origem vegetal, com uma pegada de carbono muito inferior à dos corantes tradicionais.

Reconhecendo a sustentabilidade desta alternativa, a marca Citizens of Humanity investiu na Pili e lançou uma nova coleção de jeans com estes corantes. “O mais impressionante é que esses produtos são indistinguíveis das peças tingidas com métodos tradicionais”, afirma Jérémie Blache, CEO da Pili. O desafio agora é saber se a indústria irá adotar esta tecnologia, que atualmente custa 1,75 dólares por par de jeans, enquanto os corantes sintéticos custam consideravelmente menos. Blache acredita que, com o tempo, o custo cairá: “É por isso que é tão importante ter marcas pioneiras dispostas a investir em nós”.

Um Passado Colorido

O tingimento de tecidos é uma prática milenar, usado como forma de criatividade e expressão. Na pré-história, materiais de plantas, animais e minerais eram utilizados para tingir fibras. Na Índia, o algodão era tingido com compostos vegetais, como o índigo.

Mas em 1856, William Henry Perkins, um químico de 18 anos, descobriu o primeiro corante sintético, a Mauveína, derivada do alcatrão de carvão. A descoberta revolucionou a indústria, tornando o tingimento mais barato e menos trabalhoso. Hoje, os laboratórios produzem corantes sintéticos a partir de petróleo, o que acarreta custos ambientais elevados, incluindo a emissão de gases de efeito estufa e a contaminação de recursos hídricos.

Uma Alternativa Biológica

A Pili desenvolveu uma forma de criar corantes químicos menos intensivos em carbono, começando com o índigo. Em vez de usar combustíveis fósseis, a startup utiliza bactérias geneticamente modificadas para produzir pigmentos a partir de açúcares como cana, beterraba e amido de batata. O processo é similar ao usado na fermentação de cerveja, e os corantes resultantes podem ser integrados diretamente à cadeia de produção existente, facilitando a adoção pela indústria.

De acordo com auditorias independentes, o método da Pili reduz em pelo menos 50% as emissões de carbono comparado ao tingimento tradicional. Ainda assim, o processo pode poluir cursos de água, caso não sejam usados sistemas de filtragem adequados. Por isso, a Pili trabalha apenas com marcas que garantem práticas ambientais responsáveis.

A Citizens of Humanity, conhecida pelo compromisso com a sustentabilidade, tem investido fortemente em práticas como agricultura regenerativa e agora aposta nos corantes da Pili. “O tingimento com índigo é uma parte essencial da produção de denim”, afirma Williams, representante da marca.

A decisão foi facilitada pelo fato de a Pili não exigir mudanças significativas na cadeia de produção, além de manter a qualidade do produto final. “É uma escolha óbvia quando se consegue um resultado mais sustentável sem comprometer a qualidade”, acrescenta.