L’Oréal: Acções sustentáveis no sector da beleza

Com metas ambiciosas delineadas no seu programa global, o Grupo L’Oréal compromete-se a atingir importantes marcos até 2030, como a utilização exclusiva de energia renovável e o desenvolvimento de produtos com impacto ambiental reduzido. Estes objectivos traduzem-se em projectos concretos, como o ecodesign de produtos, a aposta em embalagens recarregáveis e o apoio a práticas de economia circular. Em entrevista à Marketeer, Ana Sofia Amaral, responsável de Sustentabilidade e Responsabilidade Social Corporativa da L’Oréal Portugal, partilha como a L’Oréal tem liderado iniciativas que inspiram consumidores e parceiros, promovendo uma transformação sustentável em todas as divisões e geografias onde opera.

Quais são os principais objectivos e os desafios que a L’Oréal enfrenta em termos de sustentabilidade?

Em 2020, a L’Oréal renovou os seus compromissos com o lançamento do programa global L’Oréal for the Future, que define metas ambiciosas para 2030 que incluem, por exemplo: alcançar 100% de energia renovável em todas as instalações, garantir que 100% das embalagens de plástico sejam recarregáveis, recicláveis ou compostáveis, ou que 95% dos ingredientes sejam de base biológica, derivados de minerais abundantes ou processos circulares.

Os desafios são variados e incluem a necessidade de colaboração transversal com fornecedores e parceiros e a adaptação contínua às exigências regulamentares e à motivação dos consumidores para práticas de consumo sustentável. A L’Oréal está empenhada em enfrentar estas barreiras, promovendo inovação e colaboração para gerar impacto positivo, a nível ambiental e social, servindo também de exemplo a outros players.

Que avanços têm sido feitos no uso de substâncias e processos mais sustentáveis nas diferentes linhas de produtos?

A L’Oréal investe constantemente em inovação e acredita que as Ciências Verdes, nas quais incluímos as culturas sustentáveis, a biotecnologia ou a química verde, são uma fonte inesgotável de soluções para novas fórmulas, ingredientes ou mesmo embalagens. Por exemplo, a marca Garnier reformulou vários dos seus produtos para incorporar uma maior percentagem de ingredientes de origem natural, assegurando sempre a sua segurança e eficácia e tornando-os mais sustentáveis. Um desses casos é o da coloração Garnier Good, que tem 90% de ingredientes de origem natural.

Entre 2014 e 2016, as nossas equipas de Sustentabilidade, Embalagem e Investigação criaram uma ferramenta de design ecológico chamada SPOT – Sustainable Product Optimization Tool (Ferramenta de Optimização de Produtos Sustentáveis). Um desenvolvimento único, baseado numa metodologia concebida com a ajuda de especialistas internacionais, que mede o impacto ambiental dos produtos do grupo. Esta ferramenta permite-nos simular diferentes opções de design e avaliar o seu impacto no ambiente e na sociedade e identificar as medidas de melhoria. Assim, podemos quantificar a redução do impacto causado por um produto e monitorizar o seu progresso em várias áreas de melhoria diferentes. Isto inclui, por exemplo, a proporção de ingredientes de origem sustentável ou os produzidos por “química verde”.

Quais são as iniciativas da L’Oréal para reduzir o uso de plásticos e criar embalagens mais sustentáveis?

A L’Oréal está a implementar um modelo de economia circular em todas as divisões, impactando toda a sua cadeia de valor. Exemplo disso é o uso crescente de plásticos reciclados nas embalagens de marcas como Garnier ou L’Oréal Paris. Destaco Garnier que introduziu ecopacks, que utilizam até 75% menos plástico e lançou embalagens preparadas para refill. Estes avanços são complementados por sistemas eco-score, que avaliam o impacto ambiental e social dos produtos, permitindo que os consumidores façam escolhas informadas. A opção por embalagens refill tem sido uma aposta do Grupo L’Oréal, em todos os segmentos de mercado, por exemplo, na L’Oréal Luxe, onde, até 2025, 30% dos produtos serão recarregáveis.

Em Portugal, promovemos soluções sustentáveis nos pontos de venda, que designamos como Green Joint Business Plan. Este programa trabalha temas como a comunicação ao consumidor na área da sustentabilidade, a diminuição da destruição de produtos e de materiais e publicidade em ponto de venda, o transporte com menor impacto ambiental ou optimização no transporte dos nossos produtos.

Como asseguram que as substâncias utilizadas são sustentáveis e, sempre que possível, biodegradáveis?

A L’Oréal trabalha com padrões rigorosos para garantir que os ingredientes são seguros, sustentáveis e obtidos de forma ética. O programa de rastreabilidade do grupo prevê que, até 2030, 100% dos ingredientes vegetais utilizados sejam provenientes de fontes sustentáveis e verificáveis.

Um exemplo concreto é o compromisso com a redução do impacto ambiental dos filtros solares, garantindo que as fórmulas são seguras para a pele e também para o ambiente marinho.

Sempre que possível a opção recai em substâncias de origem natural ou orgânica?

Sim, a L’Oréal opta por substâncias de origem natural ou orgânica, alinhando-se com os princípios da sustentabilidade e da química verde, que têm guiado o desenvolvimento de novos produtos em todo o grupo. Marcas de diferentes divisões reflectem esta prioridade com exemplos concretos. Na divisão de luxo, Biotherm é pioneira na utilização de ingredientes de origem aquática, como a Life Plankton™, obtida por biotecnologia. Por sua vez, La Roche-Posay, no segmento de dermocosmética, utiliza a água termal, um recurso natural que serve como base para muitos dos seus produtos, mantendo uma abordagem responsável na extracção e utilização.

Em várias divisões, há um esforço contínuo para integrar ingredientes derivados de fontes renováveis e processos biotecnológicos, como é o caso do uso de fermentação para desenvolver polímeros de base biológica em algumas fórmulas.

Como é que os consumidores podem conhecer as vossas práticas de sustentabilidade?

A L’Oréal lançou o programa global “Por Dentro dos Nossos Produtos”, que fornece informações detalhadas sobre ingredientes, origem e impacto ambiental. Esta ferramenta é essencial para informar os consumidores e reforçar a transparência.

Outra forma de informar os consumidores é através da Rotulagem de Impacto Ambiental e Social, lançada em 2020, que leva em consideração o impacto ambiental e social, e cada produto é classificado em comparação com outros produtos relevantes do Grupo L’Oréal. Esta classificação vai de A a E, sendo os produtos A os que têm um menor impacto no planeta.

Desenvolvida em estreita parceria com especialistas internacionais e verificada pela Bureau Veritas, esta ferramenta está alinhada com as normas europeias da Pegada Ambiental do Produto e com o conceito de limites planetários do Stockholm Resilience Center.

Existe um foco na criação de conceitos mais ecológicos nos pontos de venda? Como estão a ser implementados?

Conceitos como Circular Beauty estão a ser promovidos nos pontos de venda, com iniciativas que incluem sistemas de reciclagem de embalagens e comunicações visuais sobre práticas sustentáveis. Em Portugal, colaborações com parceiros como a Sonae estão a amplificar este impacto.

Como incorporam a economia circular nos processos de produção e gestão de produtos?

A L’Oréal integra a economia circular em todas as etapas do ciclo de vida dos seus produtos, desde a concepção até ao pós-consumo, reforçando o compromisso com a sustentabilidade. Como já mencionado, Garnier lidera iniciativas como a introdução de ecopacks e shampoos sólidos, que reduzem significativamente o uso de plástico. Além disso, marcas como Lancôme e Armani apostam em sistemas de refill, permitindo a reutilização de embalagens. A empresa também implementa práticas de reciclagem inovadoras, como a colaboração com a Clic Recycle, que transforma cabelos cortados em salões em materiais úteis para agricultura regenerativa e redes de limpeza industrial. Este esforço é complementado pelo design sustentável de produtos, com formatos recarregáveis e materiais reciclados integrados nas embalagens.

Qual é a missão da tribo L’Oréal For The Future?

A missão da tribo L’Oréal For The Future passa por garantir que os compromissos globais do programa de sustentabilidade sejam traduzidos em acções concretas, tanto a nível local quanto transversal. A nossa ambição patente nos compromissos assumidos com o programa L’Oréal for the Future exige um esforço de toda a estrutura alinhando cada operação, produto e iniciativa às metas climáticas, sociais e ambientais definidas para 2030. A tribo contribui para que diariamente esta ambição esteja presente em todas as áreas da empresa.

Como se estrutura a tribo e de que forma contribui para atingir os objectivos de sustentabilidade da empresa?

A tribo é composta por representantes de várias divisões e áreas da empresa, promovendo uma abordagem colaborativa e integrada. Esta estrutura assegura a coordenação transversal, como já mencionado, permitindo o alinhamento de projectos entre as diferentes divisões. Além disso, a tribo desempenha um papel crucial na monitorização de metas, avaliando progressos relacionados com a redução de emissões, consumo de água e pegada ecológica. Através de formações e capacitação de colaboradores, promove-se a integração de práticas sustentáveis no dia-a-dia da empresa. A tribo também fomenta a inovação, desafiando para novos projectos que minimizam o impacto ambiental e aceleram os objectivos do grupo.

Quais os principais projectos transversais à empresa que estão a ser desenvolvidos pela tribo localmente?

A tribo lidera iniciativas como o Green Joint Business Plan, que promove práticas sustentáveis em parceria com os nossos clientes. Paralelamente, tem estabelecido parcerias de Solidarity Sourcing com os nossos fornecedores, contribuindo para a inserção social de comunidades em risco. É também a tribo que anima o Citizen Day, que é um dia dedicado ao voluntariado onde todos os colaboradores são desafiados a participarem numa iniciativa de carácter social ou ambiental.

E em termos de segmentos de mercado, que projectos desenvolve cada divisão?

Cada divisão da L’Oréal está comprometida com projectos específicos que reflectem as prioridades de sustentabilidade do grupo. Nos Produtos de Grande Consumo, Garnier lidera com inovações como shampoos sólidos e ecopacks, promovendo transparência e acessibilidade com a iniciativa Green Beauty. A Divisão de Produtos Profissionais lançou o Water Saver, uma tecnologia que reduz o consumo de água em 69% nos salões de cabeleireiro. Estas inovações mostram o compromisso da L’Oréal em aliar sustentabilidade à ciência de ponta, alicerçadas no programa Hairsylists For The Future, um programa de sustentabilidade nesta divisão de negócio do grupo, com parceiros locais e alianças internacionais, que propõe iniciativas baseadas em três pilares: redução do consumo de água, reciclagem de resíduos e alternativas de consumo de energias renováveis em salões de cabeleireiro em Portugal. A iniciativa conta com mais de 3000 salões em mais de 23 países onde, em Portugal, mais de 250 salões já aderiram às diferentes iniciativas. No segmento de luxo, marcas como Lancôme e Armani apostam em embalagens recarregáveis, reduzindo significativamente o desperdício. Na dermocosmética, La Roche-Posay e Vichy, encontramos, tanto ao nível das fórmulas como na disponibilidade de embalagens com menos impacto, iniciativas que se alinham às expectativas dos consumidores e às metas do grupo.

De que forma a tribo mobiliza internamente a empresa para este compromisso?

A tribo desempenha um papel central na mobilização interna da L’Oréal, promovendo uma mudança cultural que reflecte o compromisso com a sustentabilidade. Como já mencionado, campanhas internas de sensibilização e formações regulares ajudam a educar os colaboradores sobre o impacto das suas práticas. Iniciativas práticas, como a redução de papel, sistemas de separação de resíduos e o uso de energias renováveis, demonstram o alinhamento entre as acções individuais e os objectivos globais da empresa. Além disso, relatórios regulares partilham avanços e boas práticas, inspirando os colaboradores a contribuírem para o impacto positivo da L’Oréal. A abordagem transparente e colaborativa da tribo reforça o seu papel enquanto catalisadora de mudança dentro da organização.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Sustentabilidade e responsabilidade social”, publicado na edição de Dezembro (n.º 341) da Marketeer.

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