Chanel assume preocupação com a ‘banalização’ do luxo

Os próximos dois anos adivinham-se difíceis para o setor das marcas de luxo. Frédéric Grangié, presidente da divisão Watches & Fine Jewellery da Channel, em entrevista a uma publicação suiça, Le Temps, mostrou a preocupação em relação ao futuro. Gragié alerta para a banalização do luxo que acaba por contribuir para uma crise que, começa a afetar a categoria, e que não tem um fim anunciado.

Após três anos de um crescimento muito forte, o setor do luxo é agora abalado por uma quebra da procura na China, um mercado-chave onde o consumo sofre com o abrandamento económico, a crise imobiliária e o desemprego jovem. De acordo com Grangié, a crise que atualmente se vive no setor dos bens de luxo explica-se pelo contexto geopolítico e económico e pela forte presença de determinadas marcas na China.

No entanto, o presidente considera existir “um terceiro fator que é muito mais preocupante e que explica porque é que esta crise pode durar mais tempo: a fadiga do luxo”, destaca.

“Este sentimento afeta os mercados maduros, onde os clientes começam a questionar o sentido da indústria”, observa. “Os dois primeiros fatores são cíclicos e vão passar. Mas esta crise vai afetar mais profundamente o nosso negócio, porque os clientes estão cansados de serem esmagados pelo luxo”, conclui.

No terceiro trimestre, o primeiro retalhista mundial de artigos de luxo, o gigante francês LVMH, registou uma queda de 4,4% nas vendas, enquanto as do rival Kering (que detém a Gucci, entre outras marcas) caíram 15%.

De acordo com Grangié, “os anos 2025 e 2026 vão ser complicados”, mas a maison fundada em 1910 por Gabrielle Chanel – que não está cotada na bolsa e divulga muito poucos números sobre a sua atividade – pode dar-se ao luxo de “olhar para as crises através de um prisma completamente diferente”.

Em primeiro lugar, porque o grupo optou por se desenvolver por etapas na China e tem atualmente uma presença menor do que a concorrência, com apenas 16 lojas. Mas, sobretudo, porque a empresa é “independente” e “familiar ao longo de várias gerações”, o que lhe permite concentrar-se em desenvolvimentos “a longo prazo”, defende Grangié.

Na sua opinião, os episódios de crise no setor do luxo são suscetíveis de se tornarem “mais frequentes”, o que significa que a ênfase deve ser colocada nas “escolhas a longo prazo”.

Artigos relacionados