Novabase: A inovação como modelo de negócio
Ao longo dos últimos 35 anos, a Novabase tem sido uma presença constante na evolução do mercado das TI. Em entrevista à Marketeer, Luís Paulo Salvado, chairman e CEO da empresa, partilha a sua visão sobre o futuro da transformação digital e explica como a empresa continua a apostar na inovação para enfrentar os desafios do mercado global. Do mesmo modo, reflecte sobre as principais tendências tecnológicas e a importância de uma abordagem sustentável e colaborativa no desenvolvimento de soluções tecnológicas.
Como olha para os 35 anos da marca Novabase?
Temos muito orgulho no valor que criámos para clientes, colaboradores, parceiros e para a sociedade, inovando e contribuindo para um mundo melhor. Fomos a primeira marca nacional a liderar o mercado de TI em Portugal, até então dominado por multinacionais. Hoje, milhões de pessoas em vários continentes utilizam diariamente soluções que desenvolvemos, melhorando as suas vidas.
Temos sido uma verdadeira escola em tecnologia e gestão da inovação em Portugal. Milhares de pessoas começaram aqui a sua vida profissional. Com os que se juntaram a nós, ajudámos a crescer mais de quinze mil profissionais altamente qualificados, os quais estão hoje espalhados por todo o globo.
Apoiámos a criação de muitas empresas, algumas das quais também estão a deixar a sua marca no mundo.
Esta é a história e o legado da marca Novabase.
Como surgiu a ideia de criar a Novabase no final dos anos 80 e quais foram os principais desafios?
A Novabase foi criada para aproveitar a emergência e a novidade que eram as bases de dados relacionais – daí o nome empresa – e tivemos de ultrapassar vários desafios. Um deles foi o desconhecimento no mercado desta nova tecnologia, o que nos obrigou a investir significativamente na sua divulgação. Outro foi a dificuldade em atrair talentos das melhores universidades, pois as startups eram vistas como muito arriscadas.
O maior desafio, contudo, foi conquistar as primeiras grandes contas, dado que à data os clientes apenas confiavam nas multinacionais para as soluções mais sofisticadas. Superámos isto graças à excelente equipa que formámos, criando uma cultura de mérito e partilhando os resultados da empresa. A aposta na formação e no desenvolvimento das nossas pessoas foi também decisivo.
Quais foram as oportunidades do boom da internet e de que forma a empresa as abordou no mercado português?
Fomos a primeira empresa portuguesa a ligar-se à internet em Março de 1992, e desde cedo estivemos atentos às oportunidades que surgiam.
No sector privado, ajudámos empresas de diversos sectores a iniciarem a transição para o digital, introduzindo tecnologias em áreas como comércio electrónico, sistemas de CRM, gestão da informação, automação de processos, entre outras. No sector público, desempenhámos um papel crucial na modernização, implementando soluções de e-governance e vários serviços digitais, que melhoraram significativamente a eficiência e a acessibilidade dos cidadãos e empresas.
Tivemos um papel importante neste boom, ajudando muitas organizações em Portugal a fazer esta transição com sucesso e adaptar-se à nova realidade.
Quais são os momentos que identifica como decisivos no percurso da empresa desde 1989?
Identifico cinco grandes fases. A primeira foi marcada pela inovação tecnológica, onde nos afirmámos num mercado dominado por marcas internacionais.
Em seguida, fomos focando essa inovação em diferentes empresas, construindo a Rede de Especialistas, que combinava a agilidade das pequenas empresas com a força de uma grande organização. Isto permitiu-nos conquistar a liderança no mercado nacional e entrar na Bolsa, o que nos permitiu financiar a próxima fase.
Com este impulso, expandimos para o mercado internacional, abrindo escritórios e adquirindo empresas fora de Portugal, ampliando a nossa oferta para novas áreas como infra-estruturas e Televisão Interactiva. Posteriormente, passámos por uma fase de consolidação e reposicionamento, focando-nos em soluções centradas nas pessoas e utilizando a tecnologia para “tornar a vida das pessoas mais simples e mais feliz”, tendo sido pioneiros no Design Thinking e na Gamificação.
Finalmente, a fase actual é de especialização e foco, apostando em áreas onde temos condições para competir internacionalmente com os melhores, como é o caso do Analytics, Cognitive & AI.
De que forma a Novabase evoluiu ao longo dos anos para se adaptar às muitas transformações que ocorreram nas TI?
Sempre tivemos uma forte capacidade de nos reinventar e adaptarmos ao mercado. Também temos uma grande apetência para a inovação, tanto em soluções tecnológicas quanto em modelos de gestão. No centro de tudo está uma cultura de mérito, onde os resultados são valorizados e recompensados.
Neste contexto, como surgiu a Celfocus e se tornou essencial para a estratégia de crescimento da Novabase?
A Celfocus foi criada em joint venture com a Vodafone Portugal para aproveitar as nossas fortes valências no CRM, aplicando-as ao sector das telecomunicações. Esta parceria foi um grande sucesso, que alargámos a novas áreas e expandimos para o mercado internacional. Mais recentemente adquirimos a totalidade do capital e integrámos a nossa unidade de serviços financeiros na Celfocus, criando as bases para a nossa estratégia actual.
Quais são as áreas tecnológicas onde a Celfocus está a apostar mais fortemente para o futuro?
“Making Data Actionable” resume a nossa proposta de valor para os clientes e é a nossa principal aposta para o futuro. Com décadas de experiência em Analytics, Cognitive & AI, desenvolvemos soluções pioneiras que transformam o conhecimento extraído dos dados dos clientes em acções concretas, gerando grande valor para os seus negócios.
Os prémios internacionais que ganhámos nos últimos dois anos são o reconhecimento da nossa capacidade de inovação.
De que forma a Celfocus está a posicionar-se e a crescer na Europa e Médio Oriente?
O nosso crescimento internacional baseia-se na diferenciação das nossas ofertas e na construção de uma reputação de sucesso, conquistada projecto a projecto. Estes factores são fundamentais para motivar os nossos parceiros internacionais – especialmente hyperscalers como Google, AWS e Microsoft – a funcionarem como uma extensão da nossa força de vendas.
Quais são as estratégias da Celfocus para atrair e reter talento num sector tão competitivo?
Oferecemos um ambiente de trabalho que combina propósito, tecnologia, colaboração e crescimento, com oportunidades de grande impacto. As nossas equipas estão motivadas a trabalhar em projectos desafiantes e inovadores em clientes de renome, construindo uma carreira internacional e deixando a sua marca no que fazem.
Que impacto espera que a monetização de dados e a criação de experiências hiperpersonalizadas tenham no futuro?
Acredito que o impacto será significativo, pois os clientes valorizam muito as experiências que vão ao encontro das suas necessidades específicas e a monetização de dados é uma alavanca essencial para o concretizar.
Actualmente, as empresas que o fazem bem têm uma vantagem competitiva. No entanto, é crucial que isto seja feito com total transparência e respeito pela privacidade. A confiança é essencial para que os consumidores aceitem esta troca de valor, sabendo que os seus dados são usados de forma ética e segura.
Quais são os desafios que prevê para o grupo nos próximos anos e de que forma a empresa se está a preparar?
O principal desafio é continuar a crescer internacionalmente, com especial foco nas áreas de Analytics, Cognitive & AI. Num mundo volátil, sabemos que surgirão novos desafios, alguns deles inesperados – basta olharmos para os últimos anos. Para enfrentá-los, contamos com o talento da nossa equipa e com o nosso ADN, para constante reinvenção e adaptação a novos contextos e realidades.
» Luís Paulo Salvado, chairman e CEO da Novabase
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Especial Aniversário das Marcas”, publicado na edição de Outubro (n.º 339) da Marketeer.