Debate: Governo aponta ao reforço da marca Portugal

Dar músculo financeiro às empresas do sector do Turismo, consolidar o crescimento do sector, elevar a qualidade da experiência turística, explorar as ligações a novos mercados emergentes e reforçar o posicionamento da marca Portugal no exterior. Estas são algumas das prioridades do Governo para a indústria do Turismo, que tem sido, nos últimos anos, um dos principais motores da economia nacional. Quem o garante é Pedro Machado, o novo secretário de Estado do Turismo.

O governante, que durante uma década, entre 2013 e 2023, foi presidente da Entidade Regional do Turismo do Centro de Portugal, foi o convidado especial do mais recente almoço-debate de Turismo promovido pela Marketeer. Num almoço que decorreu no Onyria Marinha Boutique Hotel, em Cascais, a convite do Grupo Onyria, Pedro Machado anunciou aquelas que são as principais linhas de orientação e prioridades da secretaria de Estado do Turismo e do ministério da Economia relativamente ao sector, mas apontou também alguns desafios, actuais e futuros, não se escudando ainda a responder a algumas questões colocadas por elementos dos mais diversos quadrantes do sector do Turismo.

Pedro Machado começou por sublinhar a importância do programa “Acelerar a Economia”, recentemente aprovado e anunciado pelo Governo, que marca este início de mandato com um conjunto de 60 medidas fiscais e económicas com o intuito de responder a 20 desafios para acelerar o crescimento da economia nacional. Conforme explicou, entre as medidas anunciadas, várias terão um impacto positivo para o sector do Turismo, quer ponto de vista do financiamento à actividade, quer da baixa de impostos, com destaque para a descida gradual do IRC – Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas, que deverá baixar de 21% para 19% já em 2025, passando para 17% em 2026 e atingindo os 15% em 2027. «Esta é uma das nossas prioridades: queremos dar músculo às empresas, aliviar as cargas fiscais e dar-lhes capacidade operacional », frisou o novo secretário de Estado do Turismo.

O responsável sublinhou que o sector vive um «ciclo virtuoso », que se iniciou em 2006 com a implementação do Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT). «Em 2015, chegámos aos três “quinzes”: 15 mil milhões de euros em receitas; 15 milhões de turistas internacionais; e aproximámo-nos, praticamente, de um peso de 15% do Produto Interno Bruto (PIB). Estamos em 2024 e já batemos nos 27 mil milhões em receitas. Portanto, aquilo que era a expectativa para o período 2020-2027 está atingido em 2024. E estamos, felizmente, a crescer em valor», reiterou.

Porém, isto não significa que o sector não enfrente alguns desafios, no presente e no futuro. «Aqui chegados, o grande desafio é conciliar com todos os players do sector este triângulo entre crescimento consolidado e sustentado, qualidade da experiência turística (associada à estruturação daquilo que são os nosso recursos), num quadro económico que queremos que também contribua para a coesão territorial. Há desafios como as alterações climáticas, a questão da escassez de água no Algarve e tantos outros problemas estruturais que vamos ter que procurar resolver», ressalvou o governante. E estas serão também algumas das prioridades da actual secretaria de Estado.

Presentes neste almoço-debate do Turismo estiveram Andrea Granja (Tivoli Hotels & Resorts), Armando Rocha (Great Hotels of the World), Catarina Pestana (Grupo Visabeira), Dália Palma (BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa), Graça Silva (SATA), João Pinto Coelho (Onyria Group), Jorge Costa (Grupo Visabeira), Manuel di Pietro (Taste – Catering & Events), Manuel Guedes de Sousa (Palácio Estoril Hotel), Margarida Blattmann (Wamos), Mário Ferreira (PG Hotels), Paulo Ramada (AP Hotels & Resorts), Pedro Costa Ferreira (APAVT – Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo), Pedro Ribeiro (Vila Galé), Rita Tamagnini (TAP), Roberto Santa Clara (Savoy), Solange Moreira (Ukino Hotels) e Verónica Soares Franco (Pestana Hotel Group). Também Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, marcou presença no almoço.

ALARGAR A NOVOS MERCADOS

A qualificação da oferta e o reforço da internacionalização são outros dos grandes objectivos da actual secretaria de Estado do Turismo. Na primeira vertente, já tinha sido lançada pelo Turismo de Portugal, em parceria com o sistema bancário, a Linha de Apoio à Qualificação da Oferta, um instrumento para o financiamento a médio e longo prazo de projectos turísticos, com uma dotação de 300 milhões de euros.

Agora, o Governo prepara o lançamento de alguns programas que visam o reforço da internacionalização do sector, enquadrados no conjunto de 60 medidas anunciadas. «Portugal está neste momento em 25 países com 22 produtos turísticos e queremos alargar. Queremos reforçar a presença dos delegados do Turismo de Portugal nalguns dos mercados que consideramos relevantes ou emergentes», salientou Pedro Machado.

Instrumental para a concretização deste objectivo será também o regresso, recentemente anunciado, da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal à esfera do ministério da Economia, depois de vários anos sob a tutela dos Negócios Estrangeiros. O que muda? Segundo Pedro Machado, «a AICEP mantém a sua autonomia, assim como o Turismo de Portugal, mas vamos procurar reforçar com alguns elementos, nomeadamente os delegados do Turismo de Portugal, em determinados mercados emergentes, onde pontualmente a AICEP vai estar a fazer o seu trabalho de diplomacia económica». O secretário de Estado esclarece, no entanto, que «não haverá fusão nem agregação de equipas» entre as duas entidades, apesar de o presidente do Turismo de Portugal, Carlos Abade, passar a integrar o conselho de administração da AICEP.

Nesse sentido, está já em curso uma estratégia de reforço da presença dos delegados do Turismo de Portugal em mercados emergentes, nomeadamente o México, Austrália, EUA (na região de São Francisco, Califórnia), Japão e Coreia do Sul – sendo que o primeiro voo directo entre Lisboa e Seul, operado pela Korean Air, será inaugurado a 11 de Setembro. «Queremos alargar alguns mercados e reforçar as rotas aéreas. Estão negociados reforços financeiros substantivos no que diz respeito ao reforço da marca Portugal, numa conjugação de esforços entre o ministério da Economia e a AICEP. Acreditamos que alguns produtos podem ajudar a reposicionar Portugal », salienta Pedro Machado.

«Sabemos quais são os valores da marca Portugal e vamos reforçá-la, com uma nuance: o ministério da Economia quer aproveitar o know-how e a inteligência que foi colocada na projecção da marca Portugal nas outras marcas da economia nacional. Isto significa que saímos duplamente reforçados, porque vamos investir mais e, ao mesmo tempo, vamos ter mais marcas a querer acompanhar o processo de internacionalização a partir do exemplo do Turismo», reitera.

APOSTAR NA FORMAÇÃO

Outra das grandes linhas que estão traçadas neste primeiro pacote de 60 medidas do Governo – que já está a trabalhar num segundo conjunto de medidas – tem a ver com a questão do talento, da capacidade que temos de o recrutar, mas também de não o perdermos. Este é um tema particularmente sensível para o sector do Turismo, onde a escassez de mão-de-obra é um problema estrutural há vários anos. «Esta é uma questão crítica. Queremos ir ainda mais longe e que o talento seja novamente incorporado nas nossas empresas», sublinha o secretário de Estado do Turismo.

Nesse sentido, e numa estratégica concertada entre os ministérios da Economia, Finanças e Educação, o Governo propõe um conjunto de medidas que visa o reforço da internacionalização das escolas do Turismo de Portugal, como a criação de uma nova academia. «Não queremos trazer modelos estrangeiros para Portugal, mas com o nosso know-how e expertise criar lógicas de capacitação, formação e especialização que façam com que Portugal se projecte», explana Pedro Machado. «Trazer o modelo de Lausanne para Portugal poderia ser interessante, mas não é isso que pretendemos. Queremos a nossa “Lausanne” portuguesa, partindo do pressuposto que temos talento suficiente para nos podermos posicionar como fizemos noutras áreas», reitera.

Além das medidas mencionadas, o secretário de Estado do Turismo aponta outras medidas que serão relevantes para o sector, como o reforço de uma linha de captação dos eventos internacionais, que visa sobretudo trazer a organização de grandes eventos, desportivos e não só, para o País. «Queremos trazer novos eventos que serão importantes para o posicionamento de Portugal neste segmento. Temos uma política clara de investimento em grandes eventos internacionais», frisa Pedro Machado. No segmento MICE, será realizado em 2025, no Porto, o 64.º Congresso Mundial da ICCA – International Congress and Convention Association, que será uma “montra” importante para o sector.

Em suma, o secretário de Estado do Turismo refere que muitas das 60 medidas anunciadas pelo Governo procuram ir ao encontro das necessidades e preocupações do sector: capitalização, gestão de talento, reforço da internacionalização, baixa de impostos, reforço dos instrumentos financeiros para que as empresas possam conquistar e consolidar músculo. «Estas medidas, muitas delas, estão alavancadas na componente do Turismo», assegura. E conclui: «Não é o Turismo que está a crescer a mais. Os outros sectores é que não estão a acompanhar esse crescimento, como seria desejável. Cabe-nos, não atacar as outras indústrias, mas defender o Turismo como um sector que está pujante, está a crescer, e que se estima que este ano consolide o seu crescimento.»

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Turismo”, publicado na edição de Agosto (n.º 337) da Marketeer.

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