Oryza Lab: Dos arrozais da Comporta para o mundo

O conceito de beleza mudou. Hoje, o bem-estar tornou-se um modo de vida e a principal beleza é aquela que se sente por dentro e se vê por fora. Num regresso às origens e aproveitando os benefícios da natureza, Oryza Lab é uma nova marca de cuidados de pele, «nascida em Portugal e fabricada em França».

Olhando para a beleza numa dimensão holística, Oryza Lab pretende oferecer um estilo de vida em harmonia com a natureza, desconectado do ritmo frenético do dia-a-dia, sem esquecer o essencial: a importância de nos reconectarmos connosco. É nesta energia e na crença de que tudo se alinha quando assim tem de ser, que viajamos a um jantar de amigos na Comporta, em 2017, para saber como tudo começou.

Num cantinho de paraíso entre a terra e o mar, no qual o tempo parece ter parado e onde as dunas definem a moldura e os arrozais dão cor à pintura, Miguel Câncio Martins já há algum tempo se tinha dedicado à pesquisa sobre o arroz, não fosse esse um dos principais mentores do seu primeiro projecto hoteleiro em Portugal, a Quinta da Comporta.

Liderado pela curiosidade e afortunado pela criatividade, o arquitecto de renome internacional sabia que este projecto de sonho iria dar uma nova vida aos velhos armazéns de arroz da Comporta, e que os arrozais a perder de vista iriam ser os protagonistas do espaço. «Estava na fase de construção do hotel, mas quando decidi fazer este projecto, sempre soube que o restaurante e o Spa seriam os pulmões do hotel. Para o funcionamento do Spa, conhecia pessoas, como o proprietário da Clarins e de outras marcas, mas achei que devia criar uma marca diferenciada para as pessoas que vêm para a Comporta. No fundo, sempre soube que queria ter uma marca baseada no potencial terapêutico do arroz.» Assumindo não perceber muito do assunto, Miguel Câncio Martins iniciou uma longa pesquisa que o levou a descobrir a importância desta planta no Egipto, com a utilização do pó-de-arroz, assim como a ideia de as japonesas limparem a maquilhagem com água de arroz, ou o facto de o arroz ser usado no sector da beleza na China há séculos. «Com aquele arrozal à frente, pensei: “Há aqui algo para fazer.” A Caudalie fê-lo com as grainhas de uvas, e nós vamos fazê-lo com o arroz», acrescenta.

NÃO HÁ COINCIDÊNCIAS

«Em 2017, num jantar de amigos, a Marianne sentou-se, por “coincidência”, ao meu lado, e percebemos que ambos falávamos alemão – ela é meia-alemã e eu frequentei a escola alemã. Simpatizámos de imediato e falei-lhe do projecto do hotel que estava a fazer na Comporta, do Spa e da vontade de fazer produtos à base de arroz», relembra Miguel Câncio Martins.

Marianne Brass sentiu o mesmo. Aquele encontro tinha mesmo de acontecer. Depois de trabalhar muitos anos na indústria da beleza, nos grandes grupos de cosmética, como a L’Oréal Paris ou a L’Occitane, esta francesa de passagem pela Comporta era especialista no desenvolvimento de produtos, tendo começado por trabalhar em fragrâncias e depois especializando-se em cuidados de pele: rosto e corpo. A certa altura, sentiu que o desenvolvimento de novos produtos nos grandes grupos era um processo longo e frustrante e decidiu que o melhor era sair, para dar asas à sua criatividade. Tornou-se consultora.

Nesse jantar, quando o arquitecto lhe mostrou o projecto do hotel ainda em construção, ficou maravilhada com os antigos celeiros de arroz que ele estava a transformar. «Perguntou-me se eu conhecia os benefícios do arroz, ao que eu respondi afirmativamente, pois trabalhava em desenvolvimento de produtos e a minha especialidade era precisamente conhecer todos os ingredientes activos. Já sabia muito sobre o arroz, um dos segredos de beleza mais bem guardados da Ásia», recorda Marianne Brass, complementando que o arroz era usado no rosto e no cabelo por ser muito rico em micronutrientes e antioxidantes. «O arroz tem propriedades muito interessantes para a pele e não existia uma marca realmente focada no arroz e que usasse todas as suas propriedades», sublinha. Marianne tornou-se consultora do projecto, mas rapidamente perceberam que seria a parceira ideal.

Como qualquer projecto, tudo começa pelo nome e Miguel Câncio Martins já sabia o que queria: «Já o tinha na cabeça, pois já tinha feito pesquisa para o hotel, para o nome do restaurante e para o nome do Spa. “Oryza” significa arroz em latim e foi um processo rápido, apesar de o nome da deusa japonesa do arroz – Inari – também ser uma hipótese», partilha. Depois, era tempo de começar o trabalho propriamente dito e as valências de Marianne na formulação cosmética verificaram-se essenciais.

NASCIDO EM PORTUGAL, FEITO EM FRANÇA

O arroz é uma fonte de vitaminas, do grupo B: B1, B3 e B5, conhecidas pelas suas propriedades energizantes. Também rico em minerais, como o potássio, o magnésio e o fósforo, é um cereal sem glúten e tem importantes utilizações terapêuticas, sendo usado há milhares de anos pelas mulheres asiáticas nos seus rituais de beleza, devido às suas 1001 virtudes: é antioxidante, hidratante, desintoxicante, purificante, etc.

Oryza Lab pegou neste ingrediente activo superpoderoso e incorporou-o em fórmulas sensoriais, técnicas e de vanguarda, numa dosagem cientificamente recomendada para os melhores resultados e de acordo com as diferentes tipologias e fases da pele.

Apesar das incontestáveis propriedades benéficas do arroz, de acordo com o impulsionador deste projecto, os produtos de Oryza Lab diferenciam-se, sobretudo, pela sua história à volta do arroz com foco na cultura do país. «Existem bastantes produtos à base de arroz, mas quisemos fazer uma história à volta do arroz e é isso que nos diferencia. Portugal é o quarto maior produtor de arroz da Europa e queremos utilizar o arroz da Comporta como principal fundamento, um processo que já iniciámos com a Associação Nacional dos Industriais de Arroz, para determinar o melhor produto e a melhor altura para a recolha do mesmo», reflecte o fundador da marca. A testagem e todos os protocolos exigidos atrasaram esta questão e, por isso, toda a parte de laboratório e fabrico é actualmente feita em França, muito devido ao desenvolvimento da cultura da beleza nesse país, assim como por uma questão de proximidade e conhecimento. «Começámos com produtos para o rosto e tentámos criar uma gama de produtos para cobrir várias acções para o rosto. A adesão tem sido muito boa», evidencia Miguel Câncio Martins.

Queriam e criaram produtos vegan e clean, sem óleos minerais, parabenos, silicones, sulfatos, fragrâncias ou corantes sintéticos e sem ingredientes de origem animal. «Para nós, a qualidade e a eficácia do produto eram o leitmotiv deste projecto. Fazer apenas mais um produto não era o nosso objectivo », esclarece. Também as fragrâncias são 100% naturais, sem alergénios, tornando-se seguras e adequadas para peles sensíveis e reactivas. No entanto, e em colaboração com um perfumista de Grasse, desenvolveram dois concentrados capazes de guiar cada cliente numa viagem olfactiva à Comporta: o “Arrozal”, com notas suaves de chá verde, laranja e gerânio, que evocam o arrozal verde, banhado pelo sol e a suavidade da Comporta; e o “Oceano”, com notas frescas e marinhas, realçadas pela menta, limão e pepino, que evocam um passeio pelas dunas selvagens e o imenso oceano.

A linha de rosto de Oryza Lab é a base da Rizoterapia, um conceito que quiseram desenvolver e que conta com um óleo de beleza, creme, o peeling aperfeiçoador, o óleo desmaquilhante, a bruma (para refrescar o rosto ou o cabelo, à base de água fermentada de arroz), três séruns adaptados aos tipos de pele, máscaras e o revitalizante para os olhos, do qual Miguel Câncio já não prescinde.

Além dos produtos, Oryza Lab disponibiliza alguns acessórios que contribuem para o conceito de beleza holística, assim como as tendências de lifting manual e de ioga facial defendidos pela marca. É o caso do Gua Sha e dos Cogumelos de jade branco, pedras frias que ajudam a promover a eficácia dos cremes, a massajar e estimular a pele, e a drenar e a melhorar o contorno do rosto.

Com uma participação activa na sustentabilidade, o packaging dos produtos Oryza Lab não inclui plástico, sendo em papel reciclado. Também os recipientes são em vidro e, no futuro, vai ser possível reciclá-los directamente nos pontos de venda, através da troca de embalagem ou de recarga. A linha actual inclui, ainda, uma vela 100% vegetal, de arroz e soja.

Sendo que cada produto demora cerca de um ano a desenvolver e a aprovar, Oryza Lab está já a preparar cremes para o corpo, assim como esfoliantes e óleos, que ainda estão nas fases de formulação e testagem.

FAZER PARTE DOS GRANDES

«Desde o início que pensámos levar esta história a um plano internacional. Como a Marianne vive em França e porque vivi em França e na Bélgica durante algum tempo, temos muitas ligações a nível internacional», adianta o arquitecto. Além do Spa na Quinta da Comporta, o plano inicial recaiu numa plataforma digital, percebendo que assim conseguiam chegar mais longe. «Começámos com o digital, e, quando analisámos a performance digital, percebemos que é possível ter um alcance maior do que com a abertura de uma loja em Lisboa ou Paris. Em França, 70% dos nossos clientes não são de Paris, que é precisamente o local onde temos uma maior presença física. Portanto, o digital e o wholesale são, hoje em dia, fundamentais. É um mercado competitivo e temos de nos diferenciar dos outros», destaca o fundador de Oryza Lab.

A marca apostou inicialmente no site e na loja online, e a comunicação tem passado sobretudo por acções de activação com influencers e embaixadores. A Quinta da Comporta é o convite para darem a conhecer a experiência da Rizoterapia e os restantes pontos de venda são calculados ao pormenor.

A imagem é outro dos pontos de sucesso. «São as cores da Comporta. Temos um lado técnico importante, mas não queríamos um produto demasiado “medicalizado”, e, por isso, e para nos diferenciarmos dos demais, sobretudo nas prateleiras, temos de trabalhar bem a embalagem e os recipientes», evidencia Miguel Câncio Martins. Assim, os recipientes partilham uma imagem “clean”, com uma base em branco e o azul da Comporta, e as embalagens inspiram-se na “trama” dos sacos do arroz, surgindo em diversas cores para diferenciar o tipo de produto.

«Este é um produto de nicho e estamos à procura de parceiros com quem nos identifiquemos e que tenham o mesmo ADN. A marca tem crescido muito rápido. Começámos esta aventura com três pessoas e já somos 10 neste momento, e alcançámos um milhão de euros no primeiro ano. Estamos, ainda, a criar a estrutura para acompanhar este crescimento e para que esta aventura se mantenha por muito tempo», refere o mesmo responsável. Além da comunicação, a marca conta já com clientes fidelizados e apoia-se também no envio regular de uma newsletter que tem efeitos significativos nas vendas. «Isso significa que já temos uma comunidade própria, mas queremos atingir outras. O digital catapultou-nos rapidamente para o mercado internacional, assim como o hotel, que é a nossa imagem de marca e o laboratório para os nossos produtos », complementa.

De acordo com Miguel Câncio Martins, «queremos fazer as coisas bem até ao fim, ou então é melhor não fazer. Penso que temos aqui uma história interessante e produtos de boa qualidade. Temos tudo para que corra bem. Já temos grandes marcas que olham para nós e que nos ajudam com conselhos. Queremos fazer parte desse mercado, dos grandes».

DISTRIBUIÇÃO E FUTURO

Sem esquecer o canal digital e o wholesale, o objectivo é ter uma distribuição com pontos de venda bem localizados e adequados ao espírito da marca, sendo que acabam de inaugurar uma loja em Paris (ver caixa). Noutros países, a estratégia passa também por terem parceiros locais e existe uma vontade de continuarem a apostar na rizoterapia através de outros Spas.

A Europa é, até agora, o objectivo mais próximo e no qual estão a apostar, sendo o mercado francês e português os maiores pilares desta estratégia, assim como a Suíça, Bélgica, Luxemburgo, Holanda e Espanha. «Este ano, estamos em contacto com o Reino Unido e a Alemanha, e temos ainda contactos para o Brasil, mas não será para já, porque é um mercado muito específico. Para o ano, deveremos ir para os Estados Unidos e, mais para a frente, o objectivo é chegar à Ásia», remata Miguel Câncio Martins.

Para o futuro, o desejo é claro: «Queremos tornar-nos a única marca de beleza holística à base de arroz. Uma das grandes tendências é olhar para a beleza como um todo: corpo, mente, rosto, tudo. É precisamente isso que podemos oferecer, porque o arroz pode ser usado para tudo e tem um potencial enorme. Estamos a trabalhar em body care e em ferramentas para ter realmente uma abordagem holística. Estamos, também, a realizar retiros de bem-estar no hotel da Comporta, e também isso faz parte desta abordagem. Abrimos uma loja em Paris, com uma abordagem holística também, e, no futuro, vamos querer ter suplementos de beleza e produtos para o corpo, sempre numa vertente holística», conclui Marianne Brass.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Cosmética”, publicado na edição de Setembro (n.º 326) da Marketeer.

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