Programa Miles: «Queremos chegar a pelo menos 100 organizações sociais anualmente»
Estão abertas as inscrições para o Programa Miles destinado às organizações sociais. Trata-se de um programa de transformação da economia social da Fundação Manuel Violante vocacionado para os líderes das organizações que pretendem aprender gestão de forma a potenciar os resultados das suas instituições.
O Programa conta com 50 a 60 voluntários e, ao longo de um ano, cada participante definirá os seus objectivos e no decurso da formação terá o acompanhamento individualizado de um formador que faz parte da Fundação Manuel Violante
A formação acontece em duas etapas. De Janeiro a Maio o programa dedica-se a preparar as organizações para que a sua sustentabilidade esteja garantida e de Setembro a Dezembro, o foco é no impacto e na inovação. Em ambas as etapas, o objectivo é a mudança de mindset destas organizações para que sejam mais ágeis e eficientes na sua gestão interna e dos recursos que dispõem.
No total das edições anteriores já foram capacitadas 350 organizações, tendo sido impactadas directamente cerca de 40 mil pessoas (colaboradores dessas organizações). Patrícia Rocha, directora Executiva da Fundação Manuel Violante afirma que o plano é que nos próximos três anos estejam a apoiar 500 organizações sociais. Em entrevista à Marketeer, a profissional salienta que «a introdução destas práticas de gestão tem um impacto directo na motivação dos colaboradores e no seu envolvimento e entrega na organização».
Quais os requisitos para que uma organização seja elegível para esta formação?
Todas as organizações sem fins lucrativos e por isso com uma missão social são elegíveis para o programa. Queremos levar a capacitação em gestão a todas as organizações da economia social que realmente querem aprender.
Depois das inscrições, como escolhem aqueles que avançam para a formação?
Com a utilização de uma plataforma digital esse problema deixa de se colocar. Conseguimos chegar a 100 organizações sociais por ano. Um grupo que fará a sua aprendizagem em comunidade mas ao seu ritmo, cada organização é uma organização e este programa respeita isso.
A troca de experiências, dificuldades e sucessos, entre as organizações, enriquece o processo de aprendizagem e permite a estas organizações serem desafiadas e inspiradas. A heterogeneidade é claramente uma mais-valia deste programa.
Quais os custos para as empresas? Porquê esse valor já que se trata de uma Organização sem fins lucrativos?
Para garantirmos que todas as organizações que realmente querem aprender aprendem, o valor do programa é simbólico. As organizações participantes pagam apenas uma taxa de inscrição de 300 euros que consideramos importante para reforçar o seu compromisso e envolvimento. Essa taxa de inscrição é paga independente do número de colaboradores envolvidos no programa.
Quantas organizações conseguem capacitar por ano com estas formações?
Como disse, queremos chegar a pelo menos 100 organizações anualmente. Com estes números, acreditamos que estaremos a criar um movimento de transformação da economia social, tornando estas organizações mais confiantes e independentes. Capazes de cuidarem do seu futuro, garantindo a sua sustentabilidade e reforçando o seu impacto. Com equipas fortes, motivadas e valorizadas. Acreditamos muito no trabalho fantástico destas pessoas e consideramos que esta capacitação é também uma aposta no seu desenvolvimento e o reconhecimento do seu trabalho.
A gestão é chave no desempenho de qualquer organização e por isso também nas organizações da economia social. Estruturalmente com equipas reduzidas e muitas vezes com lideranças ausentes, é importante que as competências de gestão sejam introduzidas no seu dia-a-dia para que o apoio aos seus beneficiários (clientes) nunca seja posto em causa. Tornar mais forte um sector implica tornar mais forte cada um dos seus elementos.
Quais os momentos em que se divide a formação? É presencial ou remota?
O Miles é um programa nacional remoto. Embora possa ter momentos de encontros presenciais, os encontros de comunidade (das organizações participantes) e as sessões com os formadores serão remotas, facilitando a adesão às mesmas, não exigindo às organizações, com equipas pequenas e muitos imprevistos diários, a presença num dado local a uma dada hora. Esta flexibilidade é importante para que o processo de aprendizagem seja aprazível e convidativo. A experiência dos últimos anos mostra-nos que a formação remota tem resultados tão bons ou melhores do que a formação presencial, com a vantagem de conseguirmos juntar no mesmo processo de aprendizagem organizações oriundas de contextos muito distintos.
Quantas vagas terão este ano?
Estamos prontas para capacitar 100 organizações.
Qual a carga horária completa?
O programa aborda 15 temas de gestão chave para a sustentabilidade e impacto das organizações. Em cada tema/quinzena as organizações terão de despender, em média, 8 horas, repartidas entre horas com os formadores e horas de trabalho em equipa. Este trabalho em equipa é desenvolvido com o apoio de um mentor, voluntário da Fundação, que lhe é atribuído no início do programa. Cada organização dispõe deste mentor durante todo o programa, utilizando o seu conhecimento e experiência para consolidar e implementar aprendizagens.
De que áreas do sector social mais vos têm procurado nos anos em que a formação já foi efectuada?
O programa é muito democrático. Temos tido organizações com todo o tipo de respostas sociais (seniores, infância, pessoas com deficiência, pessoas em situação de sem abrigo, famílias vulneráveis, dependências, entre outras), todo o tipo de dimensão e todo o tipo de maturidade.
Em que níveis têm estado a capacitar estas organizações?
A capacitação é feita nos seguintes temas: Estratégia, Estrutura organizativa, Funções e responsabilidades da equipa, Gestão de talento e feedback, Gestão de equipa e comunicação interna, Modelos de negócio, Angariação de fundos, Comunicação externa, Qualidade do serviço, Liderança, Inovação, Governance, Gestão de risco, Transição digital e Agilidade.
Estes temas foram seleccionados ouvindo as organizações. A Fundação desenvolve o seu trabalho com grande proximidade às organizações que serve e, no início de cada novo programa ou nova iniciativa, ausculta-as para garantir que vai no caminho certo e que efectivamente responde às suas necessidades. Para além disso, todos estes temas são apresentados numa perspectiva muito prática e simples para que a sua introdução no dia a dia da organização seja imediata.
Quem são os formadores (são profissionais a actuar em empresas ou académicos)?
De meios académicos e do universo corporate. Esta capacitação é dada por vários parceiros que se associaram à causa da Fundação e que querem contribuir com o seu expertise – ISCTE EE, FCSH Nova, Mercer, McKinsey&Co, UN Agency, HR4U, Casa do Impacto, IVENS Governance Advisors, entre outros.
Que resultados de anos anteriores comprovam o sucesso do Programa?
Apesar de muitos resultados objectivos, devo começar por referir que o resultado de que mais nos orgulhamos e que terá um impacto que perdurará mais no tempo, é a mudança de mindset. Ver as organizações a pensar nestes temas de forma estruturada, consciente e consequente é o melhor resultado que o programa tem. Sabemos que é essa transformação que as vai ajudar a ultrapassar desafios futuros e que as levará mais longe. No final do dia é essa transformação que maior impacto terá nos beneficiários servidos. O reforço da liderança, a motivação da equipa, a utilização tranquila de novas ferramentas de gestão no dia-a-dia, permite que o serviço prestado ao beneficiário melhore e seja cada vez mais ajustado. Logicamente isto permitirá que as missões destas organizações sejam ainda melhor servidas e que o impacto da economia social cresça.
Objectivamente, as organizações em edições passadas do programa:
– (re)Definiram a sua estratégia, alinhada com a sua missão e considerando o contexto e realidade onde operam. A construção de um plano estratégico permitiu simplificar a definição de objectivos anuais, motivar e alinhar a equipa e reforçar as lideranças;
– Repensaram a sua estrutura organizativa. Olharam para o futuro, consideraram a sua estratégia e ajustaram a estrutura organizativa com que trabalhavam, permitindo, às equipas, maior eficácia no desempenho das suas funções e maior eficiência nas dinâmicas de trabalho;
– Analisaram as funções e responsabilidades da sua equipa, dando-lhes confiança e autonomia para desempenharem um trabalho com propósito;
– Desenvolveram planos de comunicação para todas as partes interessadas, permitindo aumentar o número de parceiros e financiadores;
– Construíram planos de angariação de fundos que permitem garantir a sua sustentabilidade a médio e longo prazo;
– Definiram métricas de medição de impacto que serviram de base de reflexão para o futuro;
– Implementaram processos de controlo financeiro que reforçaram os seus modelos de negócio;
– Reforçaram a liderança através de iniciativas e processos construídos especificamente com esse fim;
– Desenvolveram iniciativas de teambuilding.
A introdução destas práticas de gestão tem um impacto directo na motivação dos colaboradores e no seu envolvimento e entrega na organização. O reforço deste envolvimento tem-nos mostrado que o cuidado do serviço prestado ao beneficiário aumenta, que a procura de soluções inovadoras é constante e que a organização ganha asas para ir mais longe.
Texto de Maria João Lima