Quando é que perdemos o controlo?
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
No dia em que escrevo este editorial, chegámos à barreira dos 8 mil milhões a nível mundial. E continuaremos a somar. Tudo isto até seria irrelevante se não estivéssemos já a consumir mais recursos do que os que a Terra regenera. Para responder de forma sustentável ao actual consumo, segundo a World Wide Fund for Nature (WWF), seria preciso reunir os recursos naturais de 1,75 planetas. Ora só temos um. O que torna todo este crescimento insustentável. Mais ainda, a produção de lixo vai-se multiplicar, com o Banco Mundial a estimar que a quantidade de resíduos produzidos em 2050 seja 70% maior do que agora. Não é 20, é 70%. De lixo.
Claro que a ONU já veio reforçar o apelo à mudança de dietas e ao combate ao desperdício, tendo em conta a falta de sustentabilidade dos actuais sistemas.
Depois, olhamos para a indústria de vestuário: 150 mil milhões é quanto produzimos anualmente no mundo. A acompanhar? A assustadora informação de que a cada segundo fazemos um camião de lixo de roupa. E sabemos que na Alemanha – não tenho dados de Portugal, confesso –, mais de um milhão de toneladas de roupas velhas são recolhidas por ano, mas só menos de um terço é revendido.
Nesta edição da Marketeer tratamos precisamente o tema: o da economia circular alimentada por projectos que dão nova vida ao que muitos de nós já não queremos. Dos carros à roupa, electrodomésticos ou jóias. Porque nos cansámos, passou a moda, porque o mundo do consumo acelerado nos impele à compra, sempre. Perdemos o controlo e tão-pouco sabemos o que destruímos pelo caminho.
Há uma expressão na minha terra que diz “velhos são os trapos”, referindo-se a quem acha que já passou as melhores fases da vida. E, trapos, eram mesmo os restos de panos usados até ao fim. Hoje, já nem os trapos queremos. Mas quando formos 8 mil milhões é possível voltarmos a precisar deles… e nem esses termos.
Editorial publicado na revista Marketeer n.º 316 de Novembro de 2022