Ganhei o dia
Por Carlos Furtado, empresário/director-geral da Porto de Ideias
A expressão que dá título a este artigo usamo-la todos os dias e a toda a hora e por tudo e por nada. Com mais ou menos importância. Pode ser porque encontramos um amigo, porque ganhamos um cliente, porque um filho entrou na faculdade ou simplesmente tirou uma boa nota numa daquelas disciplinas em que estava atrapalhado.
O grau de ganho é por isso diferente e apenas mensurável numa escala que varia de dia para dia e de pessoa para pessoa.
Recentemente ganhei o dia com uma chamada telefónica, mais concretamente devido ao teor da mesma, como é de imaginar.
Na Porto de Ideias tínhamos feito um trabalho pró-bono com uma associação que tem como utentes jovens adultos “menos eficientes”, que chegaram ao fim do período de vida escolar e necessitam de alternativas para a sua realização pessoal e profissional. O objectivo maior era a divulgação junto dos media de um pequeno-almoço inclusivo que pretendia demonstrar que os utentes da associação eram capazes de trabalhar, desde que devidamente enquadrados. Assim, toda a logística do pequeno-almoço era por eles assegurada. A animação e o empenho foram enormes e percebíamos bem a importância que tinham em poder sentir que eram úteis. Lá pudemos escutar testemunhos de empresários que davam nota de exemplos de excelentes trabalhadores. Desde casos na hotelaria a situações fabris, eram muitas as situações em que os utentes da associação conseguiam trabalhar, serem úteis e acima de tudo sentirem-se úteis. (Não têm espaço neste texto as dificuldades burocráticas de todos estes processos, mas seria bom que quem de direito pudesse agilizar procedimentos). Mas, voltando ao pequeno-almoço inclusivo e aos testemunhos deixados, ainda recordo a gargalhada dos convidados quando uma das empresárias se “queixou” que um dos seus jovens não conseguia trabalhar todos os dias; é que era da selecção nacional de natação e tinha treinos. Sim, são campeões. Campeões na perseverança do dia-a-dia e ainda com espaço para serem campeões no desporto.
Mas como não sou de ficar por meias medidas, além do trabalho de comunicar o pequeno-almoço, desatei a convidar clientes e amigos para estarem presentes. Sou defensor de que a nossa responsabilidade social não deve ficar apenas por palavras simpáticas, mas sim concretizar por acções concretas, envolvermo-nos e fazer acontecer. E que as empresas não devem ser apenas entidades voltadas para o lucro, mas devem encontrar tempo e espaço para serem mais solidárias. E foram vários os que marcavam presença por convite nosso.
Uns dias depois chega o tal telefonema que me fez ganhar o dia. Um dos meus clientes ia dar início a um processo de recrutamento de um dos utentes da associação. Tinha percebido que apesar de já ter várias políticas de apoio financeiro a associações, havia uma oportunidade de mudar a vida de alguém de uma forma mais directa e mais pessoal.
Ganhei o dia e estou certo de que o meu cliente sentiu o mesmo. E, acima de tudo, o João (nome fictício) também ganhou. E que bom é saber que podemos ajudar a melhorar a vida de terceiros. Esse telefonema não me aumentou a facturação no final do mês, nem melhorou a performance financeira da empresa. Mas fez-nos sentir, a todos na empresa, que tínhamos feito algo positivo e a diferença na vida de alguém. Foi deste modo que ganhámos o dia. Eu e todos os que trabalham na Porto Ideias.