A fronteira da realidade
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
Lembram-se de estarmos todos confinados em casa? A desenhar arco-íris, amassar pão, encomendar legumes aos produtores, fazer yoga e a afirmar com toda a certeza que íamos ser melhores? Que quando saíssemos teríamos aprendido a respirar mais devagar, a dar valor ao essencial e deixar o acessório e o consumo desenfreado no passado? Que saberíamos sorrir mais, conversar mais, respeitar mais, viver melhor? Que perceberíamos o real valor do tempo e das relações?
Foi há quanto tempo? Eu faço as contas: saímos do confinamento há 13 meses.
E o que é que aconteceu desde então? Bem, quando olhamos para o ter, o ser, o essencial e o acessório, percebemos que nada aprendemos. Pior ainda, ficámos pior! Queremos tudo e ainda mais. O que nos faz falta – será que faz? –, o que não faz, o que é real e o virtual. Já navegávamos em redes, eu sei. Só que a tendência é crescente para se viver nelas. Nas redes e no paralelo, no construído, no metaverso.
Os NFT (Non Fungible Token) estão aí e a entrar em todos os universos e negócios. Já não são só as obras de arte que virtualmente compra. São concertos, lojas de moda, experiências.
Se isto ainda lhe diz pouco, imagine então o metaverso, onde as compras atingem valores estratosféricos de produtos que nunca vai ter. Corrigindo, até tem, mas ali, num mundo virtual, onde a sua presença é avatar.
Esta é uma das grandes tendências e desafio para as marcas. E bem identificada na mais recente conferência da Marketeer.
Dizem que este já não é o futuro mas o presente, e que este é território onde as marcas que olham a prazo têm que estar. Ainda não sei se será, de facto, por aqui. O que sei é que se foi isto que trouxemos de dois anos de confinamento, depois de todo um manual de boas intenções escrito por cada um de nós, então algo vai mal no reino da Dinamarca!
Editorial publicado na revista Marketeer n.º 311 de Junho de 2022