Portugal gostava de voltar a organizar uma Expo

Ontem foi o último dia da Expo Dubai 2020, mas Portugal, na figura da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), já está a apontar a 2025, em Osaka, Japão, e a equacionar voltar a ter o evento no nosso País em 2034.

Pelo menos, essa é a vontade de Luís Castro Henriques, presidente da AICEP e responsável pelo Pavilhão de Portugal na Expo, como partilhou em conversa com a Marketeer dois dias antes do encerramento do evento, ou não considerasse o responsável que em causa está «uma enorme operação de aumento de notoriedade» de Portugal.

«São raros os eventos no Mundo em que se consegue 800 mil visitantes em seis meses, como foi o que conseguimos. Por isso, tínhamos que passar a imagem do que é Portugal no século XXI, como é que Portugal se diferencia, enquanto país aberto, inovador, competitivo e que tem a ambição de continuar nesta senda graças ao seu talento.»

Portugal não participava em Expos há 10 anos e, para esta, geriu um orçamento de 21 milhões de euros que Luís Castro Henriques garante ter conseguido cumprir, apesar da pandemia, com todo o esforço orçamental muito indexado ao número de visitantes e à exposição. «Este pavilhão tem que ter um retorno sobre o investimento. Houve uma série de custos adicionais pelo adiamento de um ano, mas conseguimos recuperar», garante o responsável, revelando que para Osaka terá de ser gerido ainda com maior cuidado, assim como muito bem definidas as contratações, tendo em conta o impacto da distância.

Finda a Expo, como é que se consegue então medir o retorno da presença? O presidente da AICEP começa por salientar que o melhor indicador terá sido o número de pessoas «que interagiram com o Pavilhão de Portugal». Mas não nega ter expectativas ao nível das exportações: «Que nos próximos anos possamos crescer acima da média para esta região do Mundo e, inclusive, a partir do Dubai, fazendo do país uma espécie de plataforma.»

Em particular de fileiras como a cerâmica ou a ourivesaria, levadas, entre muitas outras, à loja do próprio Pavilhão – com curadoria de Bárbara Coutinho, directora do MUDE. «Houve muita procura de todos os produtos com mais design. Depois, e para além de todos os que trouxemos à Expo, diria que podem vir a ser importantes todos os produtos ligados à casa – mobiliário, têxtil-lar ou o agro-alimentar», refere ao analisar as fileiras que podem vir a crescer na região. Hoje, as principais categorias exportadoras são máquinas e aparelhos, produtos de borracha, pasta e papel. «Como é óbvio, crescendo a balança exportadora, teremos que aumentar a escala destes produtos e, claro, diversificar», reflecte Luís Castro Henriques.

O aumento das exportações – que rondam actualmente os 150 milhões de euros – será, então, um dos indicadores de sucesso da presença de Portugal no Dubai, mas não menos relevante é o eventual aumento de Turismo no mercado português. «Esta é uma zona onde há pouca visibilidade sobre Portugal e, quem a tem, tem uma noção histórica», diz.

Numa terceira dimensão, a presença no Dubai pode ajudar a captar investimento para Portugal a partir do momento em que se passa a olhar para o nosso país como uma possibilidade para viver, trabalhar e investir.

Um Portugal inovador e aberto

Desde que assumiu as funções de comissário da Expo Dubai 2020 que Luís Castro Henriques sempre disse que gostava que esta Expo apresentasse um Portugal inovador e aberto. Conseguiu-o?

«O que queríamos era que as pessoas ficassem com a noção de um país com diversidade interna, mas também aberto à diversidade. A arquitectura do pavilhão demonstra-o. Em segundo, era que ficassem com a ideia de qual é o status de Portugal hoje e para onde queremos ir. Com este pavilhão, conseguimos passar toda uma dimensão histórica – materializada com a arquitectura do pavilhão em formato de caravela estilizada, a representar o esforço de Portugal de há 500 anos de ligar o Mundo –, mas também aquilo que é o Portugal do século XXI», declara.

Em paralelo, garante ter conseguido reforçar a relação com o país que recebe, constatado, entre outros, no número de visitas de emiratis ao pavilhão. «Vários membros do governo, de diferentes famílias reais, vieram sistematicamente visitar e almoçar», partilha, reforçando que o objectivo não era só reforçar com o país, como com a região: «O feedback que temos é que o conseguimos!»

Em seis meses, só na loja concretizaram-se quase quatro mil vendas de um total de oito mil produtos vendidos – estavam presentes 40 empresas com 160 produtos diferentes. Agora, a AICEP olha para a sua expansão. Para já, serão abertas duas lojas online para o mercado espanhol e francês, com o acervo de produtos que viajaram até ao Dubai, mais alguns entretanto identificados como relevantes.

Mas Luís Castro Henriques adianta desde já que «com o sucesso desta experiência é importante considerar ter flagship stores em Portugal, para o mercado turístico e, a partir daí, ter pop-up stores direccionadas a alguns mercados estrangeiros».

Quanto ao restaurante Al-Lusitano, da responsabilidade do chef Chakall e do Grupo PLM, procurou celebrar os pratos mais típicos de Portugal Continental e Ilhas, desde os peixinhos da horta aos ovos com alheira (de aves), passando pelo mel, o queijo de cabra, o bacalhau, o polvo, o arroz de marisco, o azeite, as conservas, a torta de laranja ou o pastel de nata. Tudo a casar com mais de 200 referências de vinhos, de diferentes regiões.

A água é portuguesa, as cadeiras também, igualmente para os talheres ou a loiça, as mesas ou os elementos decorativos. Depois dos primeiros meses mais difíceis, Chakall garante ter recuperado o investimento feito e assume que foram vários os contactos que teve para abrir um espaço idêntico na região.

De referir que a AICEP sempre teve a atribuição da gestão da Expo e do pavilhão. O que não tinha era a atribuição conceptual e de representação na Expo, que foi o que mudou para esta edição.

Fruto de uma parceria entre o Grupo Casais e a Saraiva+Associados, sendo uma obra do arquitecto Miguel Saraiva, o pavilhão poderá, no futuro, ser desmontado no Dubai e remontado num município português, com Luís Castro Henriques a confirmar a vontade de alguns munícipes em recebê-lo.

“Portugal, um mundo num país | Portugal, a world in one country” foi a proposta alicerçada na visão de diversidade e de inclusão, “mas também da ambição de que Portugal possa dar um importante contributo para o estreitamento das relações globais entre os povos”. A sugerir uma caravela nas suas linhas de design exterior, distinguia-se ainda pela praça no piso térreo toda feita em calçada portuguesa. Há ainda espaço para uma zona de espectáculos, a loja Portugal Concept Store com produtos de 40 empresas portuguesas, a cafetaria e a área protocolar, dedicada ao acolhimento de comitivas VIP e à diplomacia económica.

O primeiro piso inclui o percurso expositivo, com uma área de espectáculo multimédia imersivo, enquanto o segundo piso é constituído pelo restaurante Al-Lusitano, com um terraço voltado para o Jubilee Park, onde decorreram os principais espectáculos da Expo, e um espaço multiusos.

Todos os dias foram mais de 100 pessoas que geriram a operação, sendo que no dia anterior a esta nossa entrevista tinham passado por ali 15 mil visitantes.

Texto de M.ª João Vieira Pinto

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