Relações públicas em Espanha e Portugal: quais as melhores práticas que são semelhantes?
Por Deborah Gray, fundadora e directora da Canela
Espanha e Portugal, apesar de vizinhos, têm dimensões, costumes e formas de trabalhar bastantes distintas e isso também se reflecte na forma como se deve comunicar para chegar aos diferentes públicos-alvo. Partindo do princípio que uma comunicação localizada e direccionada é essencial para gerar confiança com as marcas e as equipas de comunicação, torna-se importante ter claras as melhores práticas ao nível de relações públicas nos dois países.
Comecemos pelas diferenças de língua: se o espanhol é a segunda língua mais falada no mundo, e o português a quinta, já os portugueses apostam mais na aprendizagem de novas línguas que os vizinhos espanhóis. Segundo o Índice de Proficiência em Inglês da EF, Portugal é o 7º país do mundo com o mais alto nível de inglês bem à frente de Espanha em 33º lugar. E, se por um lado, 10% dos portugueses falam espanhol, apenas 1,7% dos espanhóis fala português. Esta propensão dos portugueses para se adaptar a outras línguas (sobretudo o espanhol e o inglês), tem facilitado a chegada de muitas empresas a território nacional luso não só do ponto de vista de recrutamento – dado que os colaboradores rapidamente se habituam a ambientes multiculturais – como desde a perspectiva das relações públicas, dado que há abertura dos jornalistas para porta-vozes estrangeiros. Tal não se verifica em Espanha, havendo a necessidade de interlocutores nativos em praticamente todo o processo de assessoria.
No que toca às maiores semelhanças, sem dúvida que assistimos em toda a Península Ibérica a uma profunda crise nos meios tradicionais que tiveram a necessidade de se reinventar num mundo cada vez mais digital. A televisão e a rádio estão a sofrer uma fragmentação crescente devido à concorrência de plataformas de vídeo a pedido, podcast, etc. Em ambos os países o áudio tem ganho força, Portugal com 34% de ouvintes e Espanha com 40%, os dois acima da média global. Também por isso, é sobretudo na forma de abordar os meios e na necessidade de personalização dos conteúdos que estes países mais se encontram. Apesar da enorme disparidade ao nível do número de meios de comunicação (apenas a título de exemplo, os espanhóis contam com mais de 90 meios regionais e 600 revistas especializadas), quando se fala de produzir e enviar conteúdos, em ambos os países dá-se primazia ao contacto direto, ao pitching individual e personalizado, e ao entendimento do que cada meio pretende.
Olhando para o panorama do digital, verificam-se algumas diferenças, ainda que tanto Portugal como Espanha vão acompanhando as tendências mundiais. Em Espanha, a aplicação mais utilizada é o WhatsApp, seguido pelo Youtube, enquanto as redes sociais favoritas são o Facebook e o Instagram. Em Portugal em primeiro lugar está o Youtube seguido do Facebook e FB Messenger. Espanha é o país líder mundial na penetração de smartphones e fibras ópticas em casa, p00orém, são os portugueses quem passa mais tempo nas redes sociais com 2h04 por dia contra 1h54 espanholas ao contrário da televisão, em que são os espanhóis que estão à frente com 3h22 diárias e os portugueses com 2h38, dados que revelam a divisão que existe entre a população mais jovem, fortemente voltada para os canais digitais, e a população mais adulta que ainda prefere os meios convencionais.
Olhando para os grandes eventos que mais captam a atenção mediática, vemos hoje em dia grandes referências em ambos os países: o Mobile World Congress, presente em Barcelona desde 2006, e a Web Summit, em Lisboa desde 2016.
Por tudo isto, considero que ter equipas de comunicação locais é um factor chave para o sucesso das marcas, dado que só assim estratégias globais podem ter sucesso localmente. Independentemente do tamanho do país ou relevância de um determinado mercado nos planos das empresas, contar com a experiência de quem vive e respira a cultura nacional faz toda a diferença na hora de implementar estratégias de comunicação eficientes e duradouras.