ISAG: Internacionalização do Ensino Superior: Vamos pensar ao contrário?
Por Victor Tavares, presidente do Conselho Técnico-Científico, coordenador e docente do mestrado em Direcção Comercial e Marketing do ISAG – European Business School
Façamos uma conta simples: os jovens que, em breve, vão ingressar no Ensino Superior – normalmente, com 18 anos – nasceram em 2003. Vivem com o mundo inteiro na palma da mão, informados e ligados ao segundo, são autodidactas, apreciam a diversidade e a espontaneidade. Será razoável assumirmos que participem numa aula como simples receptores de conhecimento?
A resposta é simples: não. A Geração Z espera que o Ensino Superior lhe proporcione experiências marcantes. Espera, ainda, encontrar um espaço para afirmar a sua voz e para ter um papel activo, ao longo da sua passagem pela Academia, enquanto preparação de um percurso profissional que, à semelhança da sua vivência, não terá fronteiras.
A oportunidade de estudar, viver, estagiar, trabalhar e criar ligações pessoais e profissionais fora de Portugal não tem, no entanto, apenas o potencial de agradar a uma geração. É, acima de tudo, uma exigência para que a mesma se torne capaz de responder a um mercado altamente globalizado e competitivo, em que várias portas se abrem. Por um lado, as empresas portuguesas procuram diferenciar-se através de estratégias de internacionalização inovadoras e, por outro lado, trabalhar a partir de ou em qualquer parte do mundo tornou-se mais comum do que nunca.
Mais inclinado a percepcionar a internacionalização como uma forma de captar estudantes ou investigadores de outros países, este é o momento de o Ensino Superior repensar e reforçar as suas estratégias internacionais em sentido contrário, isto é, na perspectiva dos estudantes nacionais. Só assim será possível acompanhar as exigências e necessidades da actual e futuras gerações.
Quais deverão ser, então, as apostas do Ensino Superior neste domínio? A resposta é complexa e pode incluir, em simultâneo, diversas valências com um mesmo propósito: capacitar os nossos estudantes para os exigentes mercados internacionais. Uma dessas valências passa, necessariamente, pela criação de oferta formativa em língua inglesa, proporcionando sólidos conhecimentos linguísticos específicos na área de formação em causa. Estes devem ser acompanhados por um claro alargar de horizontes nos currículos académicos, apresentando aos estudantes conteúdos que estejam de acordo com as melhores práticas internacionais.
As instituições de Ensino Superior deverão apostar na celebração/reforço de parcerias com universidades e politécnicos de outros países. Do mesmo modo, é essencial que se relacionem com empresas internacionais, proporcionando, por exemplo, oportunidades de estágios internacionais.
Finalmente, há que ter em conta a importância de uma vida multicultural dentro do próprio campus, que permita a partilha de experiências, realidades, culturas e costumes entre estudantes nacionais e internacionais. A par das aprendizagens mais tradicionais, é desta “bagagem” que se vai fazer a viagem da Geração Z pelo mercado de trabalho globalizado para que se está a tender.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Regresso às Aulas”, publicado na edição de Agosto (n.º 301) da Marketeer.