Abram (todas as) alas para a GenZ
Por Rui Pedro Pimenta, marketeer
Creio que não haverá melhor fonte de inspiração para este artigo do que o local onde me encontro para dar o pontapé de saída nestes vários e cruzados pensamentos: o Museu do Côa. É aqui o centro da acção que eterniza as primeiras formas de comunicação escrita conhecidas da Humanidade com toda a história das representações rupestres do paleolítico.
Conhecendo bem o conteúdo deste museu – e esta história -, sou capaz de ficar por largos minutos boquiaberto a pensar na evolução da organização humana e, consequentemente, nas formas de comunicação desde há 22.000 anos a.C. (também mau seria se assim não fosse, que eu não me imagino a fazer apresentação ppt e belos dashboards esculpidos em pedra).
Nos últimos anos – e que se prolongará por mais alguns -, assistimos à chegada da primeira geração nativa em digital e a própria revolução pacífica que esse facto transporta para as empresas e sua forma de comunicar. Se há uns 5/10 anos esta geração era apenas target de muitas das marcas, hoje é também parte delas e “obriga” as estruturas a adaptarem-se aos seus rápidos desígnios.
Antes da sua incursão profissional, assistimos a uma alteração gradual do paradigma e da forma como as marcas chegavam a esta geração digitalizada, com campanhas fortíssimas em meios digitais e até com a preocupação de tornar os conteúdos virais (esse belo termo da internet). Houve também espaço para crescer um conceito de comunicação conhecido como dark social – estratégias de aproximação e engagement postas em prática pelas marcas por forma a “falarem” com o seu target sem o fazerem em Above e, assim, evitarem a monitorização – como por exemplo a via de contacto que a Adidas desenvolveu para explicar os seus produtos por WhatsApp ou os meios de informação que apostam nesta opção para fazer frente às tradicionais newsletters e publicações nas redes sociais.
A afamada GenZ (aquela que a literatura nos diz que começou com os nascidos entre os finais da década de 90 e o início da nova década de 10) entra pela porta grande de marcas e empresas e todos lhes reconhecemos traços gerais: rapidez e fluidez de informação, dependência digital e nível mais elevado de informação. Ou seja, um padrão que embateu na comunicação das marcas que os “tinham” como público-alvo e que agora tem efeitos internamente, pois, em condições normais, os GenZ já andam por entre quadros de empresas e à procura de se afirmar, abanando estruturas e métodos à espera de se encaixarem na perfeição naquilo que são os desafios e culturas de quem lhes abre a porta profissional.
Esta geração (a qual ainda posso dizer que integro, em parte) põe em prática uma revolução de processos: segundo o GlobalWebIndex, no final de 2020, 51% das pessoas que usa internet da GenZ usava o WhatsApp como meio preferencial de conversa, ou seja, metade desta geração usa o WhatsApp para comunicar. A grande dúvida é também perceber se o WhatsApp pode vir, de alguma forma, substituir o email tradicional e a descomplicar processos, tornando a comunicação muito mais rápida, simples e, acima de tudo, mais próxima.
Arriscando, diria que exemplos como o recente da Randstad (que se adaptou a esta realidade e começou a fazer anúncios de vagas via WhatsApp) vão ser cada vez mais comuns. As tradicionais newsletter passarão para o esquecimento e o email será cada vez mais um suporte à partilha de documentos e conteúdos “pesados”, acabando por ser substituído por apps de conversação mais imediata. Resumindo, vamos ser tomados de [bom] assalto pela rapidez do fluxo de informação e a desburocratização de processos.
A GenZ veio para revolucionar? Sem dúvida. E que lhes abram todas as alas porque a revolução que trazem na bagagem é positiva, leve e simpática para todos.