Estratégias para ajudar uma criança a ter autocontrolo
Os familiares já estão habituados: as reacções de Joana são imprevisíveis; muitas vezes explosivas. Aos poucos, e ainda com muita dificuldade, vai aprendendo a gerir os imensos desafios que se lhe colocam. Um dia de cada vez.
O caminho tem sido longo, difícil, mas não impossível, mesmo para uma criança de 8 anos com dificuldades significativas na auto-regulação comportamental. Mas, Joana já mostrou que ainda vai a tempo.
Estratégias para saber como reagir quando confrontada com determinadas situações não faltam. E resultam. Na maior parte dos casos, depende muito da ajuda da própria família. Crianças com problemas de aprendizagem e de atenção costumam sentir maiores dificuldades em se autocontrolar.
Finalmente, agora, Joana começa a aprender a gerir emoções e reacções. Deixamos aqui cinco estratégias que podem ajudar.
1. Fale sobre os sentimentos
Emoções fortes podem ser assustadoras para as crianças. E gerar, igualmente, reacções fortes. Joana deve ser incentivada a falar sobre o que está a sentir. É um bom princípio conseguir identificar sentimentos para depois saber como os controlar da melhor maneira. Por vezes, está zangada, furiosa e com dificuldade em reconhecer e identificar a explosão interior de sentimentos. Nestes casos, pergunte-lhe:
– o que sente. Ofereça-lhe algumas palavras para usar como: triste, frustrada, ansiosa, envergonhada e preocupada;
– em que parte do corpo sente mais dor, na barriga, no coração, na cabeça? Saber identificar o problema é fundamental;
– o que causou essa reacção? Ajude-a a pensar sobre o que aconteceu, antes que a angústia vá aumentando. É essencial que tenha uma perspectiva diferente que lhe permita entender melhor o que ocorreu.
Se a criança tem dificuldades de comunicação poderá sempre recorrer a gráficos visuais para saber interpretar sentimentos. Se, eventualmente, mantiver dúvidas em relação à melhor forma de a ajudar em termos sociais e emocionais, procure um especialista. Há ferramentas importantes que podem ser transmitidas e com as quais poderá, mais facilmente, ajudar a criança a lidar, por exemplo, com a frustração, o medo e a revolta.
2. Identifique os limites da criança
É essencial saber identificar os limites. Quais são as situações mais difíceis de enfrentar? De que forma os familiares e amigos podem adaptar o seu comportamento às necessidades de Joana? Vejamos os seguintes exemplos:
• se, por exemplo, ela grita quando lhe diz para desligar a televisão, opte por a avisar cinco minutos antes de desligar, dando-lhe oportunidade para se preparar;
• se, eventualmente, ela resiste a vestir a roupa todas as manhãs antes de ir para a escola, dê-lhe oportunidade, na véspera, de decidir qual a roupa mais confortável que quer usar.
Um cronograma de imagens pode, também, ser uma boa estratégia, na medida em que lhe permite antecipar tarefas e rotinas diárias. As transições entre actividades costumam ser particularmente difíceis. O segredo do sucesso está na organização, na capacidade de gerir os tempos de inactividade entre cada uma das ocupações e, sobretudo, na antecipação de possíveis problemas que possam existir.
3. Dê-lhe oportunidade de fazer o que gosta
Andar de bicicleta? Ler um livro? Jogar à bola? Por que não? Se estas e outras tarefas são do agrado da criança deixe-a usufruir das mesmas nos momentos de maior tensão. Estas actividades vão acalmá-la como se pretende e, no futuro, Joana e as outras crianças com o mesmo problema já saberão recorrer a estes mecanismos sempre que deles necessitem.
Se, por outro lado, algumas crianças não tiverem mecanismos específicos que as acalmem, ajude-as a encontrar os favoritos. Por exemplo:
Se for aluno de escola primária, talvez goste de ir ao parque infantil; se, eventualmente, revelar dificuldades num exercício de matemática, faça primeiro um jogo divertido e, logo de seguida, tente outra vez; se for mais crescido e mostrar ansiedade e nervosismo com o próximo teste de história, uma corrida ou um mergulho na praia poderão ajudar. Há sempre mecanismos que nos permitem relaxar. Ajude a criança a encontrá-los.
4. Esteja presente e compreenda
Dedique toda a atenção à criança, sobretudo quando ela se sentir mais frágil emocionalmente. Nestes momentos em particular é fundamental que sinta apoio dos adultos mais próximos, caso contrário, a angústia pode ainda aumentar. Concentre-se na criança e nas suas necessidades. Oiça o que tem a dizer com toda a atenção e, a seguir, repita o que ouviu por palavras suas, mostrando à criança que percebeu claramente a mensagem que esta lhe quis transmitir. Ela sentir-se-á compreendida e respeitada. A seguir, faça perguntas e ajude-a a encontrar a melhor resposta para o problema.
É muito importante que consiga chegar perto da criança, reforçando as cumplicidades.
5. Procure ajuda quando necessário
Consulte um técnico especialista. Verá que os obstáculos podem ser ultrapassados com o auxílio das ferramentas mais adequadas para cada situação. Um profissional poderá ajudá-lo e à criança a viver melhor, sabendo descrever com rigor os sentimentos e controlando as emoções nos casos de maior stress. Joana já percorreu alguns quilómetros, mas a caminhada ainda é longa.