Apneia do sono infantil

Chama-se Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) a um conjunto de situações em que se verifica uma paragem no ritmo respiratório, com movimentos (falhados) para forçar a inspiração. Ao contrário das paragens respiratórias em que a criança fica muito tranquila, sem mobilização dos músculos respiratórios, quando existe apneia do sono infantil, a criança tenta inspirar, só que não consegue. Estas apneias são de origem central e podem ocorrer em pequena quantidade num período normal de sono.

A apneia do sono infantil é cada vez mais comum – às vezes até em crianças muito pequenas. Algumas, antes mesmo dos dois anos, já têm formas intensas de SAOS. Trata-se de uma tendência mundial e não se sabe qual a causa. Luísa Monteiro, coordenadora da Unidade de Otorrinolaringologia do Hospital Lusíadas Lisboa, explica a apneia do sono infantil.

Sinais de alerta

Muitas crianças ressonam e não têm apneia do sono. Quando a criança ressona, sem nenhuma interrupção do ritmo respiratório, chama-se “ressonar primário”. Cerca de 10% das crianças ressonam, mas só 1 a 3% tem, de facto, apneia do sono infantil. Em qualquer dos casos, se o ressonar for muito frequente, também necessita de tratamento: quando há paragens habituais, fora dos episódios de infecções respiratórias altas, a criança deverá ser encaminhada para uma consulta de Otorrinolaringologia.

Os pais devem estar atentos a alterações do comportamento, pois estas crianças normalmente são irritáveis, roçando a hiperactividade, ao contrário do adulto com SAOS, que geralmente tem sonolência diurna.

O esforço respiratório durante a noite leva ao consumo de muita energia e as crianças geralmente têm um sono agitado, mudando de posição na cama e com microdespertares. Quando se verifica a apneia do sono infantil, os doentes tendem a transpirar muito durante a noite e, em alguns casos, voltam a urinar na cama.

Algumas crianças têm também diminuição de apetite e, tipicamente crescem em altura, mas estabilizam (ou diminuem) o peso, baixando de percentil de peso.

Factores de risco da apneia do sono infantil

Numa mesma família, a forma do crânio costuma ser semelhante, pelo que pode existir aí uma maior prevalência de SAOS. Crianças com malformações da base do crânio/faringe, nomeadamente crianças com trissomia 21, ou com algumas doenças metabólicas e, mais raramente, crianças com obesidade (ao contrário dos adultos em que é um risco frequente), fazem parte de um grupo especial de crianças com maiores factores de risco.

Diagnóstico

Numa criança, o diagnóstico de SAOS é geralmente um diagnóstico de presunção, isto é, que não carece na maior parte dos casos de confirmação por estudos de sono. A história clínica e um vídeo caseiro da criança a dormir (som e imagem), feito pelos pais, podem ser suficientes para fazer o diagnóstico. Em caso de dúvida, de dificuldade do tratamento ou de crianças com situações especiais, o médico poderá pedir também um estudo polissonográfico (que implica o registo de diferentes parâmetros em simultâneo, durante o sono).

Uma síndrome, vários tratamentos

Ao contrário dos adultos, as crianças têm muitas vezes indicação operatória. Se não existem outros factores de risco associados e têm uma grande hipertrofia, a extracção de adenóides e amígdalas é geralmente curativa e muito gratificante para o desenvolvimento da criança e da sua qualidade de vida — bem como dos pais e conviventes, sobretudo se os irmãos partilham habitualmente o quarto. Há, porém, situações mais complexas que necessitam uma abordagem diferente e adaptada, podendo implicar outras cirurgias, adaptação de próteses ortodônticas, aparelhos para respirar durante a noite, etc. Cada caso exige uma avaliação e implica um plano de tratamento individual.

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