Vamos voltar a ser nós?

M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer

Em 2019, o Turismo foi a maior actividade económica exportadora do País, responsável por 52,3% das exportações de serviços e por 19,7% das exportações totais, com as suas receitas a registarem um contributo de 8,7% para o PIB nacional. Nos últimos quatro anos, as receitas totais cresceram nem mais nem menos que 60%, levando o nosso País – e em particular alguns centros urbanos – a estender a toalha para quem mais chegasse. Os centros esvaziaram-se para o alojamento local, as lojas de bairro reconstruíram-se em hotéis, os bifes com batata frita deram o prato a tatakis e carpaccios, e muito do que era original simplesmente deixou de o ser!

Acreditamos, claro, que tínhamos o melhor destino do Mundo. Então se eram os outros que o garantiam, se as revistas nos recomendavam, se os prémios se multiplicavam e a procura também, por que é que não havíamos de aproveitar todos a grande onda? Só que deixando para trás ou de lado outros serviços e indústrias e esquecendo, tantas vezes, que o saber receber que nos caracteriza não é igual ao estar de vénia.

Com a pandemia, e apenas no passado mês de Abril, a paragem andou na ordem dos 97%, o que impactou directamente perto de 400 mil portugueses que trabalham no sector, entre restaurantes, hotéis, autocarros, barcos ou tuk tuks…

O presidente da Câmara de Lisboa já publicou, lá fora, que quer os portugueses de volta ao centro da cidade a que preside. Que se pegue no tal alojamento local e se transforme numa oferta de casas de renda acessível. Para que regresse alguma normalidade, a tal tipicidade e, claro, a garantia de que o consumo e a compra – nas baixas das cidades – não voltam a ficar apenas e só na mão de quem por cá passa.

O presidente do Turismo de Portugal é mais optimista e acredita que vamos voltar aos níveis pré-pandemia. Só não sabe quando. E que, pelo meio, será preciso trabalhar para crescer em valor, diversificar no território e esbater a sazonalidade, para continuar a assegurar a rota de um sector maioritariamente gerido por privados.

Também não sei quando, como e com que valores se vai voltar a escrever a palavra Turismo em Portugal. Mas o que sei é que, agora que perdemos os complexos, devíamos voltar a ser nós próprios! Ou corremos o risco de, um dia, nos voltarmos a afogar de vez na grande onda que levamos ao Mundo!

Editorial publicado na revista Marketeer n.º 288 de Julho de 2020

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