Raio-x ao novo consumo: pressão promocional e cestas variadas
O “novo normal” já não é apenas um cenário do futuro. É já o presente e traz consigo novas tendências de consumo no mercado FMCG: uma delas mostra que a pressão promocional volta a crescer. Se as vendas durante o período de maior impacto doaCOVID-19 se mostraram menos assentes neste tipo de oferta, agora em pleno desconfinamento já se nota uma curva ascendente em direcção ao pré-pandemia. No final do ano passado, as promoções totalizavam quase 50% de todo o valor gerado em Bens de Grande Consumo.
A conclusão é do “COVIDisruption: O novo caminho do consumidor”, relatório elaborado pela Nielsen que dá conta de quatro fases diferentes do impacto do nvoo coronavírus: Pré-Covid (semanas 1 a 8), Armazenamento (semanas 9 a 11), Quarentena (semanas 12 a 18) e Novo Normal (semanas 19 a 20).
Olhando para o Novo Normal, a Nielsen indica que as vendas mantêm dinamismos elevados face ao período homólogo. “Embora o presente ano se encontrasse já a ser positivo quando comparado com 2019, a realidade da COVID-19 veio acentuar esta dinâmica”, indica a empresa de estudos de mercado.
A Nielsen sublinha também que durante a Quarentena a tendência foi de compra de mais artigos e em maior quantidade. Agora, os portugueses parecem querer continuar a estar menos presentes nas lojas, optando ainda por cestas mais cheias (acima dos 30 itens) e mais caras relativamente ao período Pré-Covid. São, por isso, cestas mais variadas e também mais competitivas.
“A escolha de loja é mais focada e os consumidores procuram agora fazer as suas compras em duas ou três lojas”, aponta o mesmo relatório, sendo que cada canal teve o seu propósito ao longo das várias fases em análise. Os supers e hipermercados destacaram-se na etapa de Armazenamento, ao passo que os chamados livre-serviços foram os mais procurados durante a Quarentena. A necessidade de visitar menos as lojas faz com que hiper e supers grandes sejam a escolha actualmente, uma vez que apresentam um sortido maior.
Já no que às Marcas de Distribuição diz respeito, nota-se um recuo face ao verificado no Armazenamento e na Quarentena. Agora, no Novo Normal, estas insígnias perdem espaço devido à recuperação acelerada da pressão promocional entre as Marcas de Fabricante.
«É expectável que o comportamento do consumidor mude no futuro e a sua resposta à crise poderá ser maior ou menor de acordo com os impactos que sofrem nos seus rendimentos. Mas, de forma geral, vamos encontrar um consumidor mais preocupado em reajustar os seus gastos, baseando as suas escolhas em novos mecanismos de preço, um consumidor que prioriza e é orientado por valores diferentes do passado», resume Lahna Barbosa, senior partner consultant da Nielsen. A especialista sublinha ainda que este retrato traçado irá impactar as escolhas de lojas, de marcas e da cesta de compras, pelo que os retalhistas devem estar atentos.
Entre as principais mudanças, destaque para a entrada no Cash & Carry no leque de locais de compra. Durante a pandemia, cadeias como a Makro abriram as suas portas a todos os consumidores e, especialmente, as famílias de maior dimensão encontraram aqui uma boa alternativa. Segundo a Nielsen, as ocasiões de compra neste canal aumentaram mais de 500% e a penetração do mesmo duplicou face a 2019.
João Otávio, cliend development manager da Nielsen, adianta ainda algumas pistas para o futuro. Terão sucesso as retalhistas com serviços de entrega em casa, com destaque para produtos biológicos e frescos, e com canais de comunicação digitais. As compras online passam a ser transversais a todas as gerações e até o público sénior se rende a esta possibilidade.