Comunidade, respeito, humanismo e mudança: os 4 pilares do futuro da comida
Dezenas de chefs e profissionais do mundo da restauração e gastronomia juntaram-se virtualmente para discutir o poder da comida. Deste encontro, organizado pela Amuse Bouche sob a chancela Sangue na Guelra, saiu uma espécie de receita para o futuro do sector: basta juntar comunidade, adicionar respeito, um pouco de humanismo e finalizar com uma pitada de mudança.
«A primeira coisa que todos deveriam fazer é olhar para aquilo que consideram ser a sua vizinhança. Acho que não há uma resposta para o que fazer daqui para a frente, mas todos devíamos inspirar-nos no que os outros estão a fazer e no sítio onde se encontram», afirmou Enrique Vignoli, director de back-office do grupo Francescana. Presente na primeira edição do The Power of Food, que decorreu via live streaming nos passados dias 4 e 5, o responsável deu algumas luzes sobre um dos pilares em que a indústria da comida se deve apoiar de agora em diante, o da comunidade.
Ainda sobre este tema, o jornalista Ryan King afirmou que é importante os chefs, restaurantes e demais proejctos do sector perceberem de que modo podem ajudar as respectivas comunidades. «Pelo menos encontrem qual é a vossa conexão com a comunidade local», disse.
Já o chef português Hugo Brito (Boi-Cavalo) é claro quanto à necessidade de reaproximação. Diz que os negócios não podem depender tanto do turismo e que vai ser preciso criar uma ligação mais próxima dos portugueses.
Passando para o pilar do respeito, a Amuse Bouche sublinha que uma das ideias mais repetidas ao longo dos dois dias de evento passa pela urgência de reavaliar a nossa relação com os ingredientes, com a terra e com o mar. Mauro Colagreco (Mirazur) acredita que a abordagem até agora não tem sido a ideal e que é precisa uma mudança para «um consumo mais racional, mais equilibrado, em que tenhamos consciência sobre o impacto do que consumimos».
O futuro da comida pede aninda humanismo. «Nós somos todos culpados. Andávamos a viajar pelo mundo, a receber prémios, mas acho que agora todos precisamos de olhar e perceber o que podemos fazer para tornar o mundo melhor. E os restaurantes têm um papel muito importante. A comida afecta tantas coisas e a nossa voz é muito importante. Nós, restaurantes, chefs, podemos passar uma mensagem. Nós temos poder para enviar uma mensagem forte», vincou Daniel Humm (Eleven Madison Park). A este pensamento, o chef Gaggan Anand acrescentou: «Estávamos a viver uma vida industrial, mas agora estamos de regresso à vida humana.»
Por fim, há que ter em considerção o ingrediente da mudança. O evento “The Power of Food” deixou claro que já não há espaço para conservadorismos, por exemplo, tal como notou Andoni Aduriz (Mugaritz). Segundo o chef, está na hora de tirar as ideias da gaveta e de aproveitar os desafios e opotunidades que surgem por entre as situações dificeís.
O chef brasileiro Alex Atala acredita que a solução não chegará de políticos, presidentes ou médicos. «Todos precisamos de mudar enquanto seres humanos», disse, acrescentnado que «assim que nos apercebermos que acordámos do nosso belo sonho e estamos a viver um pesadelo» haverá espaço para aprender novos valores.