Marcas reinventam-se para produzir gel e máscaras
Uma cervejeira a produzir álcool gel ou uma fábrica de brinquedos a trabalhar máscaras de protecção são alguns dos casos de mudança que chegaram com a pandemia da Covid-19. A entrada de novos bens essenciais na casa dos portugueses e o aumento da procura por álcool gel, máscaras ou óculos de protecção, levou de facto algumas marcas nacionais a adaptar os seus processos de produção para fabricar este e outro tipo de bens e equipamentos que se tornaram imprescindíveis. É o caso da Super Bock, que se associou à Destilaria Levira para a produção de álcool gel, numa iniciativa que, até ao momento, doou cerca de 18 mil litros de gel desinfectante ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O álcool gel é obtido através do processo de desalcoolização da Super Bock Free (cerveja sem álcool), aproveitando-se assim o excedente para o fabrico deste subproduto. «Daí resulta uma solução rica em álcool e é essa solução que vai passar por um processo de destilação para concentrar o álcool num grau suficientemente elevado (70%), adequado à produção de álcool gel desinfetante para as mãos», explica à Marketeer Miguel Araújo, director de Comunicação e Relações Institucionais do Super Bock Group. Nesta acção, o grupo cervejeiro tem estado em coordenação com a Autoridade Regional de Saúde do Norte (ARS Norte) para identificar as entidades com maiores carências. Nesse sentido, o primeiro lote de 18 mil litros de álcool gel desinfectante foi distribuído por 12 unidades hospitalares e de cuidados de saúde em Coimbra, Aveiro e Porto.
Agora, o Super Bock Group prepara-se para lançar uma edição especial da Super Bock Free, que passa (temporariamente) a designar-se Super Doc, em homenagem aos profissionais de saúde na linha da frente do combate à Covid-19. Com criatividade d’O Escritório, esta edição especial, que conta com um packaging original, estará à venda a partir da primeira semana de Maio.
De acordo com Miguel Araújo, o fabrico desta edição especial deverá originar mais nove mil litros de álcool gel desinfectante, que terão como destino outras unidades hospitalares do País. «Com Super Doc, manifestamos o nosso apoio e prestamos homenagem a quem, todos os dias, deixa tudo para trás para estar na linha da frente, desde auxiliares, enfermeiros, administrativos, médicos, paramédicos, técnicos, entre tantos outros profissionais», frisa o responsável.
O milagre do álcool gel
Nestes tempos de necessidade, também a Sogrape respondeu à chamada e está a transformar aguardente vínica em álcool gel para as mãos, numa acção que permitiu, até ao momento, doar cerca de 25 mil litros da solução desinfectante a profissionais de saúde de todo o País. «Tínhamos a vontade, a matéria-prima e os conhecimentos necessários. O álcool gel pode ser feito a partir de aguardente vínica e a nossa equipa tem competências técnicas que permitiram avançar com toda a segurança», explica à Marketeer fonte da Sogrape, garantindo que o produto-final (com 70% de base alcoólica) foi aprovado pelas entidades legais.
O processo de produção de álcool gel desinfectante foi levado a cabo por uma pequena equipa da Sogrape e liderado pelo enólogo Luís Sottomayor, tendo decorrido em paralelo à produção normal da empresa. «Mais do que falar de investimento em tempo ou recursos, queremos realçar o compromisso e mobilização de todos nesta missão. Foi um verdadeiro trabalho de equipa, que mobilizou de forma espontânea todos os que para ele contribuíram», reitera a mesma fonte.
O donativo da Sogrape foi entregue a várias instituições e unidades hospitalares, como o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, Bombeiros Voluntários de Avintes, Hospital de Campanha Porto (instalado no Pavilhão Rosa Mota), Hospital São João, Hospital Santo António, Hospital de Aveiro, Cruz Vermelha Portuguesa, lar Dona Antónia Adelaide Ferreira (na Régua) e IPO de Lisboa.
De momento, a Sogrape – que detém marcas como Mateus Rosé, Gazela, Porto Ferreira ou Sandeman – não se compromete com prazos ou quantidades para novas doações de álcool gel desinfectante, mas garante que essa possibilidade será avaliada. Até porque esta é uma acção que está alinhada com o posicionamento da empresa. «Acreditamos que a nossa identidade se trabalha todos os dias e de forma concertada. Na Sogrape procuramos manter uma postura sólida, confiável em todas as nossas actividades e não apenas em situações limite como aquela que vivemos», conclui fonte da empresa.
Com a saúde não se brinca
Já todos ouvimos as nossas mães a dizê-lo, mas talvez a expressão nunca tenha adquirido um sentido tão literal até a empresa de brinquedos científicos Science4you ter decidido, há mais de um mês, disponibilizar a sua fábrica para a produção de equipamentos de segurança e prevenção da Covid-19. Como resultado, foram produzidos, até ao momento, mais de 150 mil frascos de álcool gel e cerca de mil óculos de protecção individual e mil máscaras de protecção M1, que foram distribuídos a profissionais de saúde e em diversos lares de idosos.
Com uma área de cerca de 10 mil metros quadrados, a fábrica da Science4you, localizada no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL), dispõe de salas de produção e máquinas de enchimento automáticas que foram utilizadas no enchimento de gel desinfectante, assim como quatro linhas de montagem que foram parcialmente readaptadas para produzir os óculos e as máscaras de produção.
Segundo Miguel Pina Martins, CEO da Science4you, a iniciativa obrigou, contudo, a um «investimento alto» para garantir que a unidade fabril e os colaboradores da companhia estavam preparados para produzir este tipo de equipamentos, cumprindo todas as normas de segurança. «Tivemos de formar pessoas, criar novo tipo de linhas de produção, garantir novos fornecedores e ter as certificações todas. Só depois conseguimos avançar para a produção com as mesmas equipas que já produziam brinquedos», explica o responsável, adiantando que «os frascos usados no enchimento de álcool gel já existiam na fábrica, assim como os óculos de protecção, pois são usados em diversos brinquedos.»
De acordo com o responsável, a iniciativa «exigiu a que a produção de brinquedos científicos e educativos ficasse com menos capacidade», mas acabou por não comprometer as encomendas, que caíram com o encerramento dos centros comerciais – as encomendas online «dispararam» mas não contrariam essa quebra. «Acreditamos que temos a capacidade de nos reinventar, pois temos o privilégio de ter uma poderosa fábrica com excelentes equipas que nos permitem adaptar neste momento de crise. Vamos produzir aquilo que tenhamos possibilidade interna e o que a sociedade necessitar», remata Miguel Pina Martins.
Texto de Daniel Almeida