We got to give them hope
Por Manuel Rito, director de Marketing Europeu do Grupo Selina
Harvey Milk, o primeiro político americano abertamente gay, num dos seus discursos mais marcantes, disse-nos: A única coisa que eles têm para se agarrar é a esperança. E temos que lhes dar esperança. Esperança por um mundo melhor, esperança por um amanhã melhor. Esperança que tudo vai ficar bem. Sem esperança, os “nós” vão desistir.
Nas últimas semanas, estas palavras têm me feito pensar, principalmente sempre que me perguntam o que é que as marcas devem fazer em momentos tão estranhos como os que vivemos agora. E sobretudo quando tento entender o que cada um de nós – indivíduos, famílias, consumidores – procuramos, hoje em dia, em cada plataforma de media que agora consumimos. E a resposta é essa: esperança. A verdade é que todos nós esperamos que, quando isto acabar, tudo ficará melhor. Que nós – juntos e ao mesmo tempo fisicamente separados – consigamos ver aquela luz ao fundo do túnel que tarda a chegar. E, dessa forma, continuamos a alimentar essa mesma esperança.
Alimentamo-la nos lives do Instagram e do Facebook que agora vemos, nas peças de teatro online, nos museus do Mundo em que entramos através da nossa casa, que tornam o entretenimento e as artes um instrumento que nos liberta do nosso metro quadrado fechado para o imaginário dos dias que estão para vir. Alimentamo-la nas histórias que lemos e nos vídeos que compartilhamos, uma e outra vez, mostrando-nos exemplos da humanidade, e reforçando que afinal o amanhã pode ser melhor do que o que é hoje. Nos confins do mundo online, num momento onde nunca estivemos tão ligados como agora, estamos assim sedentos para ser entretidos, por encontrar conteúdo que nos faça acreditar, estimulando-nos tanto este desejo.
E é exactamente aqui que as marcas precisam de entrar em campo, intensificando o jogo, com espectadores que nunca tiveram tão interessados, alimentando-os com o que estão à procura – cobrir a sua rotina amorfa de emoções e reacções, de sentimentos e acções, preenchendo-lhes o espírito e fazendo-os acreditar. É necessário e urgente criar conteúdo que os faça olhar para o futuro, que os faça sentir e criar uma reacção. E não apenas contando histórias, mas criando as suas próprias, ao tomarem uma acção quando tantos precisam dela. É essencial participar no que está a acontecer, estar junto da comunidade e ser capaz de se destacar com propósito e relevância.
Agora, mais do que nunca, este é o papel das marcas: mais que storytellers, serem story doers. Tornarem-se plataformas de esperança, traduzidas em conteúdo e acções que vão além de nossas pequenas casas e são capazes de chegar ao imaginário de nosso futuro. E a verdade é que ao imaginar o futuro, há esperança.
Afinal, como Harvey Milk nos disse: Sem esperança, os “nós” vão desistir.
E, no final, não nos esquecemos de quem nunca desistiu de nós.
E essa é uma “marca” que fica.
Para sempre.