Comunicar “em tempos de cólera”
Por Rodrigo Almeida Fernandes, senior consultant na Corpcom
Penso que o Gabriel García Márquez não se importaria de eu ter feito uma ligeira adaptação do seu título para poder falar um pouco sobre a comunicação nestes tempos incertos e difíceis que todos vivemos, individual e colectivamente, singular e corporativamente.
Onde fica a comunicação em tempos de COVID-19?
Fica na gaveta, claro. Claro que não!
Estes são tempos da maior importância para comunicar. Mas não para falar de produtos ou serviços. Então onde fica a comunicação das empresas?
Tal como no romance de García Márquez, o casal praticamente não tinha contacto. Mas comunicava. Neste tempo de isolamento, está na altura de comunicar o propósito e os valores da marca e da empresa. É em alturas como estas que uma empresa mostra do que é feita, em que valores assenta, com que cuidado trata a comunidade com a qual interage, desde os seus colaboradores ao seu público comprador.
Esta é a altura de trabalhar para a comunidade, ao invés de esperar que a comunidade trabalhe para as empresas. E, se repararmos, as marcas e empresas que mais comunicam e mais cultura de comunicação têm são as que continuam a fazê-lo. Pois não nos enganemos: a comunicação tem sempre lugar, tem sempre de ser alvo de atenção, mas tem de ser adaptada ao público, claro, mas essencialmente adaptada ao momento. Temos o exemplo da Coca-Cola, McDonald’s, Nike, Starbucks, Google, Facebook e tantas outras.
O que comunicar? Temos tantos exemplos… Dos serviços à indústria, ouvimos, vemos e lemos, todos os dias, notícias de empresas a trabalharem e a dedicarem as suas forças à luta contra tudo isto que estamos a viver. Seja a produzir viseiras, álcool gel, máscaras ou tecnologia.
Esta é a altura de mostrar que as empresas são mais do que lucro e vendas. Esta é a altura das empresas mostrarem a sua fibra, o seu compromisso com a comunidade, os seus valores de humanidade e solidariedade. Esta é a altura de comunicar, não para engraxar os próprios sapatos, mas para que fique claro o seu compromisso com todos nós. É muito bonito dizer que se está comprometido com a sociedade numa entrevista. Mas esta é a altura de o provar. Esta é altura de comunicar “em tempos de cólera”.