Portugal a surfar diferente
Por Patrick Stilwell, co-fundador Surf Out Portugal e strategic planner na Partners
“Hey, is that a Semente? Do you know Nick Urrichio? I met him when I went surfing in Portugal. Ericeira. Great waves, great place, great times, yeah.”
E este foi o princípio de dois dedos de conversa trocados com um surfista italiano, num pico remoto na ilha de Lombok, na Indonésia, quando este reconheceu a marca da prancha do meu amigo, enquanto esperávamos pela próxima onda. Através de um símbolo por ele reconhecido, foram desencadeadas na sua mente um conjunto de conexões neuronais que recuperaram associações positivas e que o deixaram visivelmente saudoso. Neste caso, não foi apenas sobre o produto, a prancha, mas todo o imaginário que criou em torno desta marca e que estava indexado à marca surf/Portugal. Às pessoas, à qualidade das ondas da região e à boa experiência associada ao surf no nosso País.
Sabendo que o poder de uma marca é este, a tese é simples: precisamos de potenciar mais destes símbolos, para que estes se possam alojar, pelo mundo inteiro, na memória dos surfistas. Se nos pretendemos posicionar como uma potência incontornável no panorama global do surf, este movimento deve ser encarado com algum sentido de urgência, pois vivemos um momento único. A estrutura basilar da nossa proposta de valor está alicerçada em activos que foram muito bem trabalhados e que abrem agora a porta para novos desígnios.
Ao respeito internacional pelos nossos surfistas, a notoriedade das nossas grandes ondas e a projecção dos nossos eventos, deve-se juntar mais um elemento fundamental neste mix: a qualidade, inovação e disrupção das marcas “Based in Portugal” que operam na indústria do surf. Será através destes agentes, imbuídos de um significado que extravasa a sua finalidade comercial, que encontramos novas oportunidades de propagar Portugal por um mundo globalizado e conquistar a atenção, predisposição e preferência dos mais de 30 milhões de surfistas que alimentam uma indústria, que se estima situar em torno dos 22 mil milhões de USD.
Para isso, poderia dizer que temos de aprender com os nossos erros, na forma isolada e pouco concertada com que temos vindo a actuar, mas acredito que a inspiração vem do que está a ser bem feito. Não apenas no percurso extraordinário de alguns players incumbentes, como no papel catalisador de algumas marcas que viram no surf um território de valor, nas entidades que encontraram na nossa matéria-prima pano para mangas criativo e nas pessoas que ousaram o impensável e deslocaram influências, que estavam enraizadas noutros países, para dar um sabor mais luso às decisões e políticas globais da indústria.
Mais ainda: o surf nacional tem de se inspirar em feitos recentes, de que nos orgulham tanto em Portugal. No turismo, no calçado, no têxtil, na inovação, na tecnologia, no ecossistema das startups e algumas mais. Precisa talvez de aspirar maior grandeza, mas, acima de tudo, criar pontes para trabalhar com bastante mais sinergia.
O diabo está nos detalhes, mas, não querendo revelar um plano, acompanho as observações feitas com um lamiré de uma visão partilhada. Chegou a hora de desenvolver o Cluster do Surf em Portugal. Um cluster de competitividade que venha defender interesses estratégicos para o País e potenciar uma indústria com várias oportunidades pela frente. Uma investida que não pretende isolar, de forma colectiva, os intervenientes, mas que permita trabalhar de forma mais alinhada, com novos incentivos, e alargando os horizontes através de novos modelos colaborativos – de forma transversal, ou até mesmo tangencial – com várias indústrias, para criar uma proposta diferenciada para: captar mais talento e massa cinzenta para o sector; acelerar e internacionalizar projectos em curso; basear operações internacionais em Portugal. E, assim, hipoteticamente falando, o posicionamento da “Marca do Surf em Portugal” poderá ser aquilo que todos procuram: um país que reúne as condições perfeitas para a prática das várias dimensões do surf.