Ensandecemos de vez?
Ao longo dos últimos anos tenho escrito neste mesmo espaço, que devemos encarar a vida com optimismo.
Com optimismo, mas com realismo, discernindo claramente o que é real, e o que poderia ser, deveria ser, ou já foi.
Temos vindo a ver que para além do modo muito português de “empurrar com a barriga para a frente”, há cada vez mais adeptos do factor “avestruz”.
Vejo assim com enorme surpresa, e mesmo muito apreensão, que muitos portugueses não mudaram os seus hábitos, o seu modo de vida, o seu modo de consumo, apesar de ser do conhecimento generalizado, os problemas com que vivemos, e aqueles com que nos vamos deparar num muito prazo. É também óbvio que não devemos fazer a cultura do miserabilismo. Mas daí, a manter o status quo, como se nada se passasse, vai uma grande diferença. E é mais que garantido que colocar a “cabeça debaixo da areia” a ver se a tempestade passa, nada vai resolver.
Mas é de todo extraordinário, que muitos portugueses se comportem como se nada fosse. Como se tudo estivesse perfeitamente normal. E não quando estamos a pedir que nos ajudem com 80 mil milhões de euros, e quem nos vai emprestar o dinheiro, pede, e muito bem, garantias reais que vai receber de volta esse dinheiro. E essas garantias passam em muito boa parte, por alterarmos o nosso modo de consumo, o nosso modo de vida, porque, e de um modo muito simplista, Portugal e os portugueses andaram sistematicamente a gastar mais do que tínhamos.
Mas, ou as pessoas estão numa atitude de aproveitar até ao fim, e enquanto não chegam as medidas em definitivo, é fazer de conta que nada está a acontecer, ou então não se apercebem mesmo do que se está, e do que se vai ainda passar.
Em qualquer das hipóteses, penso que ensandecemos de vez!
POR RICARDO FLORÊNCIO