O que é que o tempo diz de nós
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
Há cerca de dois anos, pediram-me para escrever uma crónica. Aquilo que partilhei na altura é o que continuo a sentir, 24 meses depois, pelo que me apeteceu repescar ideias. Porque a falta de tempo ou a gestão do mesmo é tema que me “aflige”.
Não foi nem uma nem duas vezes que a minha filha comentou que a semana tinha passado depressa de mais. Confesso que, a primeira vez que o fez, sorri. A segunda estranhei, depois preocupei-me. Porque não me recordo, quando era adolescente, de ter sentido essa voracidade do tempo. As férias tardavam em findar e os dias eram longos!
Entre as minhas férias e as últimas da minha filha passaram três décadas. E eu fui ficando sem tempo. Realizei-o por completo nessa conversa! Claro que já tinha percebido que vivemos a correr entre a foto que se tira com o telemóvel naquele milésimo de segundo e que é postada numa rede no milésimo seguinte. E que, enquanto recebe os “likes” da vida, nos afasta da nossa real. Ou o concerto que nem percebemos como chegou ao fim porque passámos o seu tempo (e os encores também) a partilhá-lo com outros. Que ali não estão e muitas vezes nem queriam estar! Ou ainda os almoços despachados em pé, à frente do ecrã, ou enquanto corremos para outro lado onde temos que estar. As conversas que despachamos enquanto conduzimos. A reclamação com a menina do call center que não nos atendeu no segundo que tem que atender… quando antes esperávamos todas as horas precisas numa repartição ou empresa, nem sempre perto, nem sempre fácil! A mensagem que enviamos e que só pode ter feedback imediato. Porque não faz sentido que se demore horas a responder a um SMS… enquanto, antes, gostávamos de esperar dias pelo carteiro!
Depois há o telemóvel que é como que a extensão do braço, sempre à mão, durante o dia, e junto à cama, noite fora. Para estarmos em contacto total, mesmo que não o estejamos com quem mora ao lado. E à mesa, aí, há que o colocar num ângulo fácil. Para se fotografar os pratos e partilhar, com quem não quer saber! Para ter conversas que se cortam e nem sempre recomeçam. E para chegar ao fim e concluir “nem dei pelo tempo passar”. Mas passou. Só que ao lado!
Há tanto dos dias que nos está a passar ao lado… mas continuamos! Com tempo?
Pelo meio dessa perda de tempo, perdemos também a capacidade de evitar erros e danos. Passámos do consumo moderado e controlado para o consumo total. Agora, nesta era do plástico (e muito de plástico), a Comissão
Europeia quer acabar com ele: até 2030, todo o tipo de embalagens e empacotamento deverá ser feito com recurso a materiais reutilizáveis ou recicláveis. Ou não fossem eles, os plásticos, responsáveis por 85% do lixo nas nossas praias. Na Marketeer, investimos algum do nosso tempo neste trabalho que dá corpo ao Tema de Capa desta edição.
Porque vale a pena parar e ganhar tempo!
Editorial publicado na edição n.º 262 da Revista Marketeer de Maio de 2018.