«O design português é para todos os gostos e para todas as carteiras»

O The Pitch Market regressa ao Terreiro do Paço, em Lisboa, já na próxima quinta-feira, dia 21. Dezenas de marcas de design vão estar alojadas em contentores e prontas para receber visitantes portugueses e estrangeiros, até domingo.

Tiago da Costa Miranda, director do The Pitch Market Lisboa, conta à Marketeer como o mercado tem evoluído – vai duplicar de tamanho este ano – e como o público reage à concentração de tantos projectos por metro quadrado. O responsável desvenda ainda as novidades preparadas para este ano e o porquê da criação de uma programação paralela – que inclui a presença da Vista Alegre.

Este ano, o The Pitch Market vai duplicar a sua dimensão. O que justifica esta expansão?

A excelente aceitação que o nosso evento tem tido por parte do público. Este tem sido o principal motivo pelo qual temos crescido tanto, não há outra explicação. Claro que a qualidade dos designers e marcas que têm participado no nosso evento é essencial e que o conceito ser completamente diferenciado dos restantes mercados urbanos tem sido também um elemento que nos tem posicionado de forma única na cidade de Lisboa e em Portugal. Obviamente que o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e a parceria de co-organização que temos tem sido impulsionadora deste crescimento, mas é o público que nos visita e que tem comprado os produtos das marcas que lá têm estado que nos tem feito crescer tanto!

Há público para um mercado desta dimensão? E com estas características?

Claramente que sim! Já somos o mercado urbano de referência no mundo do Design em Portugal, quer para marcas e designers nacionais, de Norte a Sul de Portugal, que nos procuram por sua iniciativa pelos nossos resultados de comunicação e de vendas, quer para o público em geral, que já sabe da nossa existência uma vez por ano. E essa é a maior prova de que não só há público para um evento com estas características, como cada vez mais esse público vai crescendo.

Como são escolhidas as marcas que participam no mercado?

Há vários tipos de marcas presentes no nosso evento. Há as marcas sponsors, e aqui cada caso é um caso, mas essencialmente têm de ser marcas que façam de alguma forma fit com o design ou com a portugalidade ou com o nosso público, pois não queremos ter sponsors que não tenham a ver com o nosso mood de evento. Depois há as marcas alimentares, e aqui, depois da experiência que fizemos no ano passado, este ano assentámos um critério: serem portuguesas, originais e de qualidade.

E há as marcas de design, que têm um processo de selecção bastante mais complexo. Têm de responder a determinadas características para serem candidatas aceites. A primeira é serem marcas de design de equipamento (e não de artesanato, ou de design de moda, mas algo que compraríamos numa loja de decoração e que seja design contemporâneo e novo); e a segunda serem marcas portuguesas (não necessariamente feitas por portugueses ou feitas em Portugal, mas terem o selo de Portugal colado ao seu ADN, pois há designers portugueses a trabalhar no estrangeiro que são bem vindos – este ano teremos o Tiago Sá da Costa que vem da Holanda para participar no nosso mercado – mas também há designers internacionais a trabalhar em Portugal e esses são também muito bem vindos).

Depois há a questão de curadoria de escolha das marcas, essencialmente assente em três critérios: qualidade, diversidade de oferta aos nossos visitantes e inovação do produto oferecido. Acho que a escolha das marcas que participam no mercado é um dos segredos do nosso sucesso, pois não é nem elitista, nem popularucho. É eclético e demonstra que o design português tem produto para todos os gostos e para todas as carteiras… E se o design português tem, também nós temos de ter!

Um dos elementos diferenciadores do The Pitch Market é a sua realização em contentores. Como surgiu este conceito? Que vantagens (e desvantagens) traz?

Creio que foi mais ou menos uma consequência de nos querermos apresentar como um mercado de lojas pop-up e não de bancas. Quem vai comprar algo para casa acaba por assumir uma seriedade nessa compra, completamente diferente de quem compra uma t-shirt ou uma bijuteria (sem desprimor para a moda, onde trabalhei durante muitos anos, mas é uma realidade que estes mecanismos de compra são completamente diferentes), e daí a necessidade de uma pop-up store para se conseguir acreditar numa marca desconhecida, em vez de uma banca.

E é exactamente deste processo de compra que surgem os contentores. E destes surge também a vantagem de sermos encarados pelo público, pelas marcas e pelos sponsors como mais do que um mercado, mas sim um evento estruturante do calendário da cidade de Lisboa. Não é por acaso que a Câmara Municipal é co-organizadora. É porque a qualidade da nossa produção e da nossa curadoria dá um garante de qualidade e de estabilidade que faz com que a própria Câmara Municipal se sinta confortável em pôr o seu selo no nosso evento.

E como ela também os sponsors, pois desta edição para a a anterior uma das grandes diferenças é a adesão das grandes marcas ao nosso projecto. No ano passado, tivemos apenas dois sponsors, já este ano esses mesmos dois nem hesitaram em confirmar a sua presença e outros juntaram-se porque os resultados e a qualidade de produção do nosso evento os convenceram. Até nós surgirmos qual era a grande marca que pensava em patrocinar um mercado urbano? Agora já começamos a existir na cabeça de alguns directores de Marketing e marketeers como evento ideal para aproximar a sua marca do consumidor final. Claro que isto é devido também ao elemento diferenciador dos contentores, mas essencialmente é por causa da qualidade do evento.

Sim, os contentores ajudaram a diferenciar-nos, mas creio que começamos já a conseguir diferenciar-nos pela qualidade da nossa produção, mais do que por sermos o mercado dos contentores.

Além da vertente de mercado, o evento apresenta uma programação paralela, de entrada livre. Porquê? Quais são os grandes destaques deste ano?

Porque somos, de facto, mais do que um mercado. Para nós, desde a edição 0 (como chamamos à edição de 2015, pois para nós foi uma verdadeira aventura e experiência) a componente de programa paralelo é essencial. O mundo do design em Portugal tem poucos eventos (e agora com o fim da Experimenta, ainda menos), mas isso é por causa da falta de público para o design português. Por isso, sempre foi uma das nossas missões ajudar a formar esses públicos. Descomplicar o design, mostrar que o design nacional não é apenas para uma elite, aliás, mostrar que o design em si não é apenas para a elite e que pode ser muito mais popular e estar junto das pessoas. Por isto, alguns aspectos do nosso evento são ponto de honra: a curadoria das marcas participantes assente na qualidade; o acesso gratuito ao nosso evento; e existir esse mesmo programa paralelo.

Este ano, por exemplo, o programa paralelo tem uma exposição, conferências, workshops e tudo numa óptica de formação de públicos, de fazer crescer o mundo do design em Portugal porque só com o crescimento deste crescemos nós e connosco as marcas nacionais. Nesta edição de 2017 o nosso grande destaque vai para a exposição que vai trazer para o The Pitch Market um dos maiores nomes do design em Portugal: a Vista Alegre. Esta marca confunde-se quase com a imagem do design made in e by Portugal.

Como é composto o público do The Pitch Market? Há mais compradores portugueses ou estrangeiros?

Há de tudo um pouco nos 120 mil visitantes que temos. Obviamente, pela nossa localização, os turistas que se deslocam ao Terreiro do Paço todos os dias que lá estamos são uma parte importante deste número. No entanto, e segundo um inquérito que fizemos às marcas que participaram na edição anterior, quem mais compra é o público nacional. Depois há uma grande diversidade de idades e estilos de visitantes, um pouco como as nossas marcas são de estilos muito diversificados.

Não é por estarmos no Terreiro do Paço que somos institucionais, nem por estarmos dentro de contentores que somos alternativos; somos isso tudo e ainda mais e creio que o nosso público também sofre “desse mal”: é muito grande e diverso. Claro que temos os Millennials, obviamente que temos os Boomers, a Geração Z e também temos público de classe B, C e até público de classe A (pelo valor de algumas compras que tivemos na edição do ano passado, podemos afirmar isto), mas essencialmente temos um público que está ávido de novidades das marcas e de contactar directamente com elas. É isto que faz o sucesso de vendas das marcas de design, mas também o sucesso de comunicação dos nossos sponsors. Só isto justifica termos tido inscrições de marcas de design desde Outubro do ano passado (com cerca de um ano de antecedência) e o regresso dos sponsors do ano passado. O nosso público é um público eclético e curioso sobre marcas e as novidades destas. Mais do que gerações ou estratos socio-económicos, o que mais caracteriza o nosso público é o comportamento de consumo.

Texto de Filipa Almeida

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