Aquisição da Whole Foods Market pela Amazon

Impactos da aquisição da Whole Foods Market pela Amazon no retalho, que sofre queda vertiginosa nas vendas

Texto de Sandra Turchi*

Foto de divulgação

O anúncio da aquisição da Whole Foods Market pela Amazon, na última sexta-feira, 16, por US$ 13,7 bilhões – maior operação da história da companhia de Jeff Bezos, acontece num momento peculiar em que o retalho norte-americano sofre uma queda vertiginosa nas vendas. A crise profunda tem vindo a afectar gigantes do sector como a Macy’s e a Sears, duas marcas icónicas dos Estados Unidos, que recentemente fecharam centenas de lojas físicas. O retalho norte-americano enfrenta as consequências da concorrência das vendas on-line e ainda não se adaptou por completo ao novo modelo de consumo. O facto não deixa de ser curioso por se tratar, justamente, da nação que mais consome no planeta (“vocação” reafirmada no início de Junho por Donald Trump, com o anúncio da retirada do país do Acordo de Paris).

Enquanto as vendas nas lojas físicas vêm despencando, as da Amazon, por sua vez, cresceram 23% só no primeiro trimestre deste ano. Este dado reflecte uma transformação significativa no comportamento de compra dos consumidores em mercados mais maduros. A aquisição da Whole Foods Market possibilitará a empresa de Bezos fortalecer posicionamento no mercado de alimentos naturais e orgânicos, representando um obstáculo extra às investidas do Walmart em expandir a sua participação no e-commerce.

Apesar de, à primeira vista, a aquisição da Whole Foods (que ainda depende da aprovação dos órgãos reguladores e dos acionistas) soar como excêntrica, adequa-se perfeitamente à estratégia da Amazon de capitanear todos os mercados de retalho possíveis. A quantidade de fusões e de segmentos em que a gigante actua são enormes: vão desde os tradicionais livros, que deram origem à companhia ainda na década de 90, a transmissão de streaming de jogos e a fraldas. De acordo com o site norte-americano Recode, o movimento mais recente também é o mais caro já feito pela empresa até o momento. A última grande aquisição da Amazon tinha sido da Zappos, em 2009, por US$ 1,2 bilhão.

Com a compra da Whole Foods Market, que tem 91 mil colaboradores e em 2013 divulgou ter facturado US$ 12,9 bilhões – com lucro líquido de US$ 551 milhões, a companhia passa a aceder ao mercado de entrega de alimentos naturais ao domicílio, que hoje não domina. A operação, sem dúvidas, traz impactos não só para a própria empresa, mas para o mercado financeiro como um todo. “O sector de retalho costuma mudar, mas, de vez em quando, ocorre um evento que agita a indústria no seu núcleo. A aquisição da Amazon Whole Foods é um desses eventos”, afirmou Neil Saunders, da GlobalData Retail.

No entanto, é bom salientar que existe uma grande diferença entre os modelos de negócios das duas empresas: a Whole Foods Market é muito conhecida nos segmentos mais endinheirados – e entre os jovens consumidores de alimentos orgânicos, ao passo que a Amazon, essencialmente, é uma plataforma online para o comércio de produtos a preços mais reduzidos. O passo dado na sexta-feira 16 com o anúncio da aquisição representa, sim, um grande movimento; mas também acarreta certo risco para a Amazon, visto que a companhia tem vindo a tomar uma série de decisões que englobam, por exemplo, a inauguração de lojas físicas, que têm fechado em grande número nos Estados Unidos e no mundo. A conferir os próximos capítulos.

* Sandra Turchi – Sócia-directora e fundadora da Digitalents (www.digitalents.com.br), Sandra Turchi é professora, consultora e palestrante em temas relacionados com marketing, estratégias digitais e e-commerce, entre outros. Indicada pela revista norte-americana “SMMagazine” como um dos vinte profissionais de marketing mais influentes do mundo nos social media, é autora de “Estratégias de Marketing Digital e E-commerce”, publicado em 2012 pela Editora Atlas. Bacharel em Administração de Empresas pela FEA-USP e pós-graduada pela FGV-EAESP, Turchi possui MBA pela Business School SP com Toronto University (Canadá), além de ser especialista em empreendedorismo pela Babson University (EUA). Ainda lecciona em MBAs da FGV, ESPM, FIA, Sustentare, EPD (Escola Paulista de Direito), entre outras instituições de ensino.

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