7 grandes erros nos relatórios de sustentabilidade que prejudicam a reputação das marcas
O final do ano está a aproximar-se. Dezembro é uma altura de balanços e as marcas de moda começam a preparar os relatórios anuais. A sustentabilidade destaca-se como o principal foco dos relatórios não financeiros. Quer seja devido a requisitos regulamentares ou à necessidade de transmitir transparência aos consumidores finais, cada vez mais marcas optam por partilhar publicamente o estado em que está a sustentabilidade da sua marca ou empresa.
Na BCome, a plataforma que trabalha com centenas de profissionais de moda para os ajudar a compreender melhor o impacto dos seus produtos e a construir cadeias de abastecimento mais responsáveis e eficientes, foram analisados os erros mais comuns encontrados nos relatórios de sustentabilidade das empresas de moda.
A publicação de um relatório de sustentabilidade é uma ferramenta poderosa para promover a transparência, criar confiança junto do público-alvo e destacar-se no mercado. Também promove a melhoria contínua e reforça a imagem da marca. No entanto, se estes relatórios forem mal-executados, podem ter o efeito contrário, minando a confiança do público e dos investidores.
Aqui, detalha-se os sete erros mais comuns que as marcas de moda devem evitar para proteger a sua reputação e manter a credibilidade:
Não incluir informações quantitativas
Um dos erros mais comuns é omitir dados quantitativos ou não apresentar números claros que sustentem as afirmações feitas no relatório. Embora o objetivo seja tornar o documento acessível a todos, a falta de métricas tangíveis mina a credibilidade do conteúdo e torna impossível medir objetivamente as realizações. Sem números, é mais difícil para os leitores avaliarem o impacto real das ações e decisões que a marca está a tomar.
Solução: É importante incluir dados específicos, como percentagens, quantidades ou comparações com anos anteriores. Por exemplo, em vez de dizer “reduzimos as nossas emissões”, seria mais eficaz dizer “reduzimos as nossas emissões em 25% nos últimos dois anos”.
“Podemos ser mais transparentes do que nunca no que diz respeito aos nossos produtos e ao seu impacto no planeta – durante 2023, temos dados sobre a maioria dos nossos produtos de nível 3. Queremos dar aos nossos clientes a informação de que necessitam para tomarem uma decisão informada quando fazem compras, bem como ajudar-nos a progredir nos nossos objetivos de sustentabilidade”. Swedish Stockings, Relatório de Sustentabilidade 2023
Utilizar uma linguagem demasiado vaga ou demasiado técnica
Um relatório que utilize uma linguagem excessivamente vaga pode dificultar ao leitor a compreensão dos esforços da marca, o que pode levar à desconfiança. Por outro lado, uma linguagem demasiado técnica pode confundir aqueles que não estão familiarizados com o vocabulário especializado, tornando o relatório difícil de compreender. Ambas as abordagens são contraproducentes.
Solução: A linguagem deve ser acessível e clara, evitando termos vagos ou confusos que possam ser considerados greenwashing. Se forem utilizados conceitos técnicos ou especializados, estes devem ser explicados de forma simples no próprio relatório. O objetivo é tornar o documento compreensível para todos os públicos, independentemente dos seus conhecimentos prévios sobre sustentabilidade.
Não avaliar os KPIs (sigla anglo-saxónica para indicador-chave de desempenho) definidos no relatório anterior
Se os indicadores-chave de desempenho (KPIs) foram definidos em relatórios anteriores, é crucial acompanhar o seu progresso. A não avaliação destes KPIs em relatórios subsequentes dá a impressão de que os objetivos não são importantes ou que não existe um esforço contínuo para melhorar. Além disso, perde-se a oportunidade de demonstrar o progresso e a eficácia das estratégias implementadas.
Solução: Em cada novo relatório, deve dedicar-se uma secção específica para avaliar os KPIs definidos no período anterior. Explicar quais os objetivos que foram atingidos, quais os que não foram e as razões que os justificam.
Concentrar-se apenas nas realizações e ocultar as áreas a melhorar
Muitas marcas de moda concentram-se apenas em destacar os seus sucessos e omitem qualquer menção aos desafios ou áreas que ainda precisam de ser melhoradas. Esta abordagem não reflete toda a realidade e pode criar desconfiança entre os leitores, que provavelmente sentirão que a marca está a esconder problemas ou não está a ser totalmente honesta.
Solução: Reconhecer as áreas a melhorar, mesmo que sejam negativas, mostra uma atitude sincera e proactiva em relação ao progresso. É importante ser transparente sobre o que ainda precisa de ser trabalhado e mostrar como a marca está a tomar medidas para resolver esses pontos fracos.
“O Relatório de Sustentabilidade incorpora uma mentalidade. Não é apenas um caderno de realizações; é o lugar onde admitimos os limites que encontrámos, representando um objetivo que nos leva a fazer escolhas mais ponderadas e a nunca perder a nossa direção”. Rifò, Relatório de Sustentabilidade 2023
Não abordar a sustentabilidade de uma forma holística
Um erro comum é concentrar-se exclusivamente nos aspetos ambientais da sustentabilidade, como a redução das emissões ou do consumo de água, negligenciando outros fatores igualmente importantes, como os aspetos sociais da cadeia de abastecimento. Isto cria uma visão incompleta dos esforços de sustentabilidade da marca.
Solução: Os relatórios de sustentabilidade devem abordar a sustentabilidade de uma perspetiva holística, considerando não só o impacto ambiental, mas também os riscos sociais na cadeia de abastecimento. Fornecer uma análise mais abrangente e pormenorizada mostra que a marca está verdadeiramente empenhada em todos os aspetos da sustentabilidade.
“É um prazer para a Brownie apresentar o nosso primeiro relatório de sustentabilidade e partilhar convosco o que estamos a fazer para avançar nesta área, que é tão relevante para o nosso negócio, para as pessoas e para o planeta”. Juan Morera, CEO da Brownie, Relatório de Sustentabilidade 2023
Definir objetivos sem os quantificar ou especificar um calendário
Quando os objetivos não são específicos, mensuráveis ou limitados no tempo, podem parecer promessas vazias. Sem números e prazos concretos, é difícil medir o sucesso ou o progresso desses objetivos, o que pode levantar dúvidas sobre a verdadeira responsabilidade da marca.
Solução: Os objetivos devem ser claros, mensuráveis e ter prazos estabelecidos. Por exemplo, em vez de dizer “vamos melhorar a nossa eficiência energética”, deve ser comunicado como “vamos reduzir o consumo de energia em 20% até 2030”.
Não mencionar as metodologias utilizadas ou quem verificou os resultados
Se as metodologias utilizadas para calcular os dados não forem detalhadas e a parte responsável pela análise não for mencionada, existe o risco de os resultados serem entendidos como tendo sido calculados diretamente pela marca. Isto pode levantar dúvidas sobre a exatidão dos dados e ter um impacto negativo na reputação da marca.
Solução: É essencial incluir uma secção que explique as metodologias utilizadas para calcular os dados apresentados e especificar qual a organização externa que realizou a análise, garantindo que os resultados são verificados de forma independente.
É crucial ter uma avaliação externa para garantir que os dados apresentados no relatório de sustentabilidade são objetivos e apoiados por uma metodologia sólida. Uma terceira parte independente pode fornecer a imparcialidade necessária para validar as informações e garantir que nenhum dado relevante seja ignorado, aumentando a credibilidade do relatório. Além disso, ter este apoio externo ajuda a demonstrar o compromisso genuíno da marca com a sustentabilidade, evitando potenciais dúvidas ou questões.
Evitar os erros mencionados não só protege a reputação da sua marca, como também lhe permite destacar-se num mercado de moda cada vez mais competitivo, posicionando-se como um líder empenhado em mudanças positivas. Com a abordagem correta, o relatório não só refletirá os esforços da marca, como servirá de ferramenta para reforçar a imagem e o sucesso a longo prazo