2030 está ao virar da esquina

Por Carlota Varela Cid, director Marketing & Communications – CBRE Portugal

Imaginem que estão a acordar num qualquer dia soalheiro de Primavera em 2030. No despertador toca o “Simpathy for the Devil” dos Rolling Stones porque afinal, mesmo em 2030, ainda há fãs dos clássicos. Em simultâneo, as cortinas abrem-se e o nosso robot, de acordo com a agenda do dia, já seleccionou o outfit ideal e deu indicação ao nosso frigorífico para preparar um smoothie com as vitaminas que necessitamos para garantir que estamos a cumprir o longevity plan que nos foi recomendado do ponto de vista nutricional. O nosso chuveiro, ambientalmente responsável, minimizará a água e sabão utilizados e lá fora já nos espera um Uber sem motorista, com destino ao nosso escritório. Tudo isto não aconteceu por magia, chama-se IoT (internet of things).

Na verdade, mesmo que pareça excessivamente futurista, 2030 está ao virar da esquina e nesse ano prevê-se que existam cerca de 8.5 mil milhões de pessoas no planeta e quatro diferentes gerações activas no mercado de trabalho em simultâneo (Baby boomers, Gen X, Millennials e Gen Z).

É verdade que as ferramentas digitais às quais tivemos acesso no decurso dos últimos 10 anos melhoraram muito a nossa vida, contudo, não estamos nem perto daquilo que iremos chamar “um mundo totalmente digitalizado”. E esse mundo terá que chegar pois apenas com elevadíssimos níveis de digitalização poderemos acomodar as necessidades do crescimento populacional e as especificidades geracionais.

É certo que o marketing terá que evoluir ao mesmo ritmo. A forma como apresentamos, promovemos e vendemos produtos e serviços ditará o sucesso das empresas no contexto empresarial. A digitalização, nomeadamente a incorporação da inteligência artificial e da IoT nas estratégias de comunicação e marketing, permitirá reconhecer mais oportunidades, identificar melhor os targets e garantir maior eficiência no impacto aos consumidores.

Numa era que será cada vez mais digital, a concorrência será mais feroz e os clientes mais exigentes, pelo que a tecnologia será também um factor distintivo na experiência e serviço que as marcas entregam.

Esta exigência traduzir-se-á também em impaciência. Os consumidores esperam que o acesso à informação, serviços e produtos seja cada vez mais imediato e os marketeers terão que recorrer a VR (Virtual Reality) e AR (Augmented Reality) para conseguir vincular as pessoas de forma imediata e real, através dos seus dispositivos móveis.

Mas além do imediatismo, a necessidade de entretenimento constante é outro dos factores a ter em consideração. Através da tecnologia, as marcas terão que integrar estratégias de gamification e elementos lúdicos na interacção com os consumidores. Deverão ser pensados jogos e desafios que aumentem o engagement e por sua vez a ligação emocional às marcas, através das recompensas.

Além destas tendências, a hiperpersonalização também será central na estratégia e a inteligência artificial será chave para ajustar a oferta e promoção a um único utilizador. Recomendações ou descontos para produtos específicos também podem ser automatizados com base no comportamento do utilizador. É certo que um sistema quase perfeito poderá vir a ser alcançado, porém não será estanque e terá que atualizar-se em tempo real.

Então qual o maior desafio de todos? Diria que num mundo cada vez mais digital é notória a contra tendência denominada offline is the new luxury. E aqui reside a eterna incógnita: Qual a melhor abordagem nesta era totalmente digitalizada para chegar aos consumidores que, mais do que nunca, querem estar offline? Não tenho a resposta, mas 2030 está ao virar da esquina.

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