2018: O elogio da juventude

Estou optimista. O mundo está muito mais perto de acabar do que estava há um ano. Mudanças climáticas, crescimento do nacionalismo à escala global a um nível que já dava para fazer um Campeonato do Mundo de futebol só com países de governos pró-fascistas, arbitrado pelo Kanye West, esse pacto de suicídio que é o Brexit, migrações em quase todos os continentes, genocídio sancionado por um Nobel da Paz, assassinatos impunes de jornalistas, terrorismo, indústrias de trolls e, claro, o início da III Guerra Mundial. Não deram por isso? Pois, é normal. Tivemos bastante com que nos distrair. Está a acontecer – trade wars, eleições viciadas por manipulação digital, bot people, espionagem industrial e política ao mais alto nível, reconhecimento facial de cidadãos à escala global, empresas da nova Economia coniventes com os fora da Lei, por omissão ou não.

Estou optimista. A verdade é que sabemos que isto está a acontecer e, embora tudo possa parecer uma enorme demonstração de força do Dark Side – a narrativa lucasiana de novo a marcar pontos –, as coisas estão expostas e o inimigo bem identificado, embora nem sempre com rosto.

Estou optimista porque temos a Geração Z. Embora corra um risco imenso de atracção pelas mais ou menos camufladas, pelas forças palpatíneas, esta geração está a reeducar o Mundo no que toca à forma como nos relacionamos. Mas, acima de tudo, face ao que realmente é importante.

Esta é a mais tolerante geração de sempre, a mais diversa racialmente, a mais aberta quanto a opções sexuais, a mais diversa no que toca às questões de género, a mais crítica em termos políticos (pelo menos, em relação aos Millennials e à X, parece ser), a que consome menos tabaco e álcool, a que tem menos tendências violentas entre pares, a mais interventiva no que toca a causas sociais, e aquela que demonstra maior capacidade de mobilização para o apoio a essas causas. E é esta dinâmica e nova moral mundial que dá cabo dos planos aos trolls.

A verdade é que a mediatização da boa moral da geração Z vem acompanhada de uma espécie de efeito Hollywood – os bons vencem sempre. E, embora isso possa não ser verdade em Hollywood, na vida real esta mediatização de uma moral positiva e agregadora em matérias que têm que ver com o humanismo, acaba por perturbar essas forças antiprogressistas que se tentam levantar. E esta é, também, a mais criativa geração. A mais compulsivamente criativa. Criar, ou microcriar passa a ser um hobby diário. Cada post e cada like é uma nano narrativa moral, estética e comportamental que não só forma como define as fronteiras do aceitável e do que deve ser apoiado, ou não.

Sim, é verdade que não tiram os olhos do ecrã. E isso pode tornar-se muito aborrecido e dar imensas dores na cervical. Mas esta é uma geração que põe a criação e a expressão pessoal acima de tudo. E é através da comunicação que a resistência acontece.

É a geração que está a mudar a forma como comunicamos. E que começa a dar de novo relevância à mensagem, sobrepondo-se à estética. Não que a qualidade da manifestação estética não esteja no seu auge. O que está a ser posto em causa é o valor da encenação, da narrativa falsa e pouco credível, ou que pela sua exagerada ponderação perde a sua alma. Do filme que mostra o mundo perfeito da publicidade, da falta de erros e de espontaneidade. A imperfeição é notoriamente valorizada pela verdade percebida e pela intenção percebida. A fantasia é admitida se for pelas razões certas.

E, embora a forma seja absolutamente fundamental, estabeleça a moral estética e contribua para o enriquecimento da narrativa, a verdade é que a mensagem está de novo na rua. E com poder de mobilização. O que interessa isso? Interessa que se temos um consumidor que capta de forma diferente a informação, e que dá mais importância ao que é dito e à verdade do que é dito, temos um consumidor diferente, que se ofusca menos com o barulho das luzes.

E essa é a lição em tempo real para todos nós, criativos, realizadores, decisores. E que está passar no ecrã mais próximo de nós.

Estou optimista.

Por Pedro Pires

CEO/CCO Solid Dogma

Artigo publicado na edição nº269 da revista Marketeer de Dezembro de 2018.

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