Zazah: onde a partilha é a rainha da noite

Há seis meses o chef brasileiro Matheus Franklin chegava a Portugal com o desafio de assumir a cozinha do Zazah, o restaurante que há seis anos colocou a Rua de São Marçal (junto ao Príncipe Real) nos pontos obrigatórios de passagem para aqueles que gostam de um bom casamento entre influências portuguesas, brasileiras, japonesas e francesas.

Agora fomos desafiados a ir atestar que há motivos para ir ao Zazah e para nos entregarmos às sugestões do chef. E confirma-se. Não só não desilude como em muitos dos momentos surpreende.

Numa destas noites de calor fizemo-nos ao caminho e fomos recebidos com simpatia por uma equipa bem coordenada e sempre pronta a esclarecer as hesitações que sentissem da nossa parte. “Coisas boas merecem ser partilhadas” é o lema do Zazah e foi precisamente o que fizemos – partilhar – até para conseguirmos experimentar uma variedade maior de pratos.

Começámos por nos entregar nas mãos da Mary, a bartender Mariana Ferreira. Entre os mocktails e cocktails que nos fez chegar o Bom Vivant e o Gin Tropical foram os que conquistaram um lugar especial durante a refeição.

Para início de conversa chega à mesa o pão quentinho e uma manteiga de limão como couvert. Explicam-nos que no Zazah privilegiam produtores locais incluindo o pão que é adquirido a uma padaria bem perto do restaurante, a Marquise.

Depois de a equipa se assegurar de que não havia alergias e restrições alimentares, chegaria à mesa um conjunto de entradas que foram partilhadas entre os três convivas à mesa. O Crudo de Peixe (17 euros) teria honras de abertura e deixou, de imediato, as expectativas em alta para o que se lhe seguiria. Na verdade, com as suas fatias de peixe branco curado em alga kombo, servido com laranja e erva príncipe, em qualquer restaurante poderia ser o prato principal e não deixaria ninguém indiferente (nota mental: repetir numa próxima visita).

Avançaríamos depois para os Cogumelo Glaceados (14 euros), mais especificamente cogumelos Ostra na brasa, demiglace de carne, sunomono e quinoa crocante. Honestamente, olhando para uma ementa, o cogumelo nunca conquista a minha atenção, mas ainda bem que nos entregámos nas mãos do chef já que de outra forma nunca experimentaria esta belíssima iguaria inundada de toques asiáticos.

O Pão de Queijo com Barriga de Porco (8 euros) – uma dupla de pães de queijo, com barriga de porco e requeijão caseiro – é um pedaço dos deuses para os amantes do tradicional pão de queijo aqui reinventado.

Para finalizar as entradas, demos a devida atenção à mais mediterrânica das mesmas: o Carapau (17 euros). Aqui o peixe é grelhado, servido com molho de tomate, alcaparra frita, azedinha e amêndoa. Só nos ocorre um comentário: surpreendente com todos os seus sabores!

Terminadas as entradas, era hora de passar à próxima etapa. Do fogão do Zazah chegaria o vencedor da noite: Arroz de Costela (20 euros). Trata-se de um arroz no caldo da costela (assada em baixa temperatura por sete horas), com costela grelhada no carvão e demiglace. Um prato que já existe na carta há algum tempo e que os clientes não deixam que saia. E com razão. Como é que conseguem juntar num mesmo prato acidez, crocância e frescura? Não sabemos, mas tencionamos voltar para tentar descobrir.

Nos pratos principais tínhamos ainda a Pesca do Dia (30 euros) que no dia em que fomos era lírio grelhado, molho de limão, azeite e cebolinho. Estava maravilhoso. Como acompanhamento trouxeram-nos os Legumes grelhados no Carvão (10 euros) – que vão variando consoante a sazonalidade e que surpreendem por ser fumados – e o Creme de Milho Brulé (10 euros). Sim, leu bem. Muito semelhante ao nosso leite creme queimado (até no aspecto), é doce, super cremoso e vale a pena experimentar.

Antes de ir embora, ainda houve tempo (e espaço) para experimentarmos duas das sobremesas, qualquer uma delas digna de nota. A Mousse de Chocolate 70% (8 euros), com mix de nuts e raspas de laranja está a anos luz da maioria das mousses que se encontra, em geral, na restauração. A Tarte (8 euros) de maçã, com chantilly da casa é a forma perfeita para rematar uma refeição plena de sabores e contrastes.

Deixamos ainda a nota de que o espaço está aberto apenas aos jantares. O Zazah tem ainda a particularidade de ter um palco onde, em noites previamente anunciadas, há actuações musicais. Reza a história, aliás, que o restaurante herda o seu nome do anterior espaço que ali existia, uma casa de transformistas que tinha a Zazah como cabeça de cartaz.

Texto de Maria João Lima

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