O fenómeno de olhar para o relógio e encontrar repetidamente a mesma hora, como 11h11, 22h22 ou 07h07, é comum e, para muitos, intrigante. Embora exista quem o interprete como um sinal do destino ou uma coincidência carregada de significado, a psicologia oferece uma explicação racional para o que acontece.
De acordo com os especialistas consultados pelo Vanitatis, este comportamento resulta de mecanismos cognitivos como a atenção seletiva e o viés de confirmação. A atenção seletiva leva o cérebro a filtrar a informação que considera mais relevante, concentrando-se em determinados estímulos. Quando uma hora específica chama a atenção, essa informação fica registada na memória e, a partir desse momento, a mente tende a reconhecê-la com maior frequência.
O viés de confirmação, por sua vez, reforça a perceção de que o fenómeno se repete. As pessoas tendem a recordar as ocasiões que confirmam uma crença — por exemplo, de que “as 11h11 trazem sorte” — e a ignorar todas as vezes em que olham para o relógio e veem outras horas. O resultado é a sensação de que o padrão se verifica de forma constante, quando, na realidade, é apenas uma coincidência selecionada pela memória.
Este comportamento está associado à apofenia, termo usado na psicologia para descrever a tendência humana de encontrar padrões e significados em eventos aleatórios. Trata-se de um mecanismo natural, enraizado na necessidade de procurar ordem e previsibilidade no ambiente.
Os psicólogos reconhecem ainda uma dimensão emocional neste fenómeno. Em períodos de stress, mudança ou incerteza, o cérebro procura estabilidade e sentido, interpretando pequenas coincidências como sinais de orientação. Ver a mesma hora repetidamente pode, assim, refletir uma tentativa inconsciente de criar ordem em contextos de incerteza.
Embora a ciência não atribua qualquer valor místico a estas repetições, muitos especialistas admitem que o fenómeno pode ter um efeito positivo se for encarado como uma oportunidade de pausa e reflexão. A sua utilidade, nesse caso, está menos no simbolismo da hora e mais na capacidade de incentivar momentos de consciência e atenção plena.
No fundo, ver sempre a mesma hora no relógio não parece ser obra do acaso nem do destino, mas antes um reflexo da forma como o cérebro humano funciona: procura padrões, cria significados e tenta, de forma natural, dar sentido ao quotidiano.














